Entramos no mês de março e eu não poderia deixar de homenagear as mulheres por aqui. Para falarmos das habilidades mais comumente femininas, precisamos viajar um pouco no tempo e entender como foi a entrada e o percurso das mulheres no mercado de trabalho, ao longo do tempo.
A trajetória delas não foi nada fácil. E ainda não é.
No Brasil colonial, as mulheres (brancas) eram vistas como indivíduos inferiores e submissos, cujo papel social se restringia a serem boas mães e boas esposas, ficando marginalizadas de toda e qualquer atividade política ou econômica. Assuntos considerados relevantes, como o trabalho, eram para os homens.
Na República, foi após a Constituição de 1934 que elas adquiriram seus primeiros direitos trabalhistas e passaram a exercer atividades não apenas domésticas. O país pós-guerra se industrializava e precisava delas como mão de obra nas fábricas, em condições precárias de trabalho, jornadas de até 18 horas por dia e com remuneração inferior à do homem.
Nos anos 50, uma descoberta da ciência foi uma das principais responsáveis por mudar o papel social das mulheres nas duas décadas seguintes: a pílula anticoncepcional propiciou a elas uma forma de controle sobre a natalidade, permitindo que investissem em estudo e carreira.
Além do planejamento familiar, o método contraceptivo possibilitava o planejamento de suas vidas para além da família. Criava-se a dupla ou tripla jornada (trabalho + casa + cuidados com filhos e marido).
Teríamos muito a discutir sobre as relações de gênero assimétricas e hierárquicas que perduram até hoje, tanto no âmbito profissional quanto nas relações familiares, mas meu objetivo aqui é destacar as habilidades desenvolvidas a partir desse contexto histórico de relação com o trabalho e que acabaram se tornando “super-poderes”.
As mulheres, por suas funções tão diferenciadas e por ocuparem tantos papéis, sociais, profissionais e familiares, desenvolveram habilidades que, mais do que nunca, precisamos presentes em nossas organizações.
Relacionamento interpessoal, resiliência, colaboração, comunicação assertiva e não violenta, flexibilidade, empatia e vulnerabilidade são algumas delas. A ideia não é estereotipar, até porque cada pessoa é única e habilidade independe de gênero, e sim VALORIZÁ-LAS.
O empoderamento feminino passa por reconhecermos “musculaturas” mais femininas e aprender com elas.
Dentre as habilidades acima, queria destacar três:
- Relacionamento interpessoal
Geralmente, as mulheres possuem uma das soft skills mais importantes para a liderança, que é saber se comunicar e ter um bom relacionamento interpessoal. É comum que elas desenvolvam com mais facilidade habilidades que envolvem o diálogo, a empatia e o cuidado com o próximo.
Isso ajuda a criar uma gestão capaz de transmitir confiança para as pessoas, estabelecendo relacionamentos interpessoais de boa qualidade, especialmente dentro do seu time, contribuindo para um clima organizacional seguro e um ambiente de trabalho saudável.
- Resiliência
As mulheres são, desde muito jovens, ensinadas a solucionar problemas e lidar com adversidades no dia a dia. Isso tanto em relação ao seu papel e lutas na sociedade, quanto em suas experiências no mundo corporativo, no qual enfrenta outros tipos de desafios. Existe, assim, uma tendência de que o público feminino seja mais resiliente e perseverante, por isso, mais paciente e capaz de buscar soluções estratégicas e eficientes.
- Trabalho em equipe colaborativo
As mulheres líderes tendem a criar um ambiente menos autoritário e mais cooperativo, o que incentiva o trabalho em equipe e a colaboração.
Com disposição para aprender, realizar mudanças e alcançar os melhores resultados, é comum a liderança feminina contar ativamente com o apoio da equipe para cumprir metas. Essa característica revela que existe uma maior tendência ao trabalho em equipe, à busca por soluções conjuntas e à cooperação.
Na minha palestra homônima: “Mulheridades: habilidades da liderança feminina”, que ministro em empresas, trago pelo menos outras sete habilidades, associadas a elas, que foram comprovadas por diversos estudos e pesquisas. E vez ou outra, surge o comentário: “tem razão, as mulheres são melhores em soft skills”.
E minha resposta é: “não, caros amigos e amigas”. Não podemos restringir o tema aos soft skills, porque na verdade muitas mulheres aprenderam a desenvolver o que eu chamaria de “power skills”, ao unirem seus conhecimentos técnicos a potentes habilidades emocionais. Foi nesse encontro que passaram a ser reconhecidas não apenas como boas gestoras de pessoas, mas também como boas gestoras de negócios.
E nestes casos, a lição mais valiosa que deixaram para todos, independentemente do gênero, é que é possível ser um líder afetivo e efetivo ao mesmo tempo!
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