O profissional certo na função certa

Um dos maiores desafios da área de Recursos Humanos e das lideranças é, sem dúvida, conseguir combinar os pontos fortes, habilidades e competências de alguém com uma função que gere resultado para a empresa e realização para o profissional. E pelo que as pesquisas mostram, na maior parte das vezes, não estamos conseguindo resolver essa equação.

Está faltando match!

De acordo com um estudo realizado pelo SurveyMonkey, com mais de 300 profissionais, de 21 estados brasileiros e 14 países, 9 de cada 10 brasileiros se disseram insatisfeitos com o próprio emprego. Destes, 36,52% declararam estar infelizes com o trabalho que realizavam e 64,24% gostariam de fazer algo diferente do que fazem para serem mais felizes. 

Uma das razões disso é que as pessoas não estão tendo oportunidade de fazer o que sabem fazer de melhor, exercitar suas fortalezas, realizar o seu potencial.

De um lado, é preciso que os profissionais busquem autoconhecimento para identificarem suas melhores habilidades e procurem um trabalho em que possam fazer uso delas no dia a dia, pois só assim terão maior realização.

De outro lado, os gestores precisam redobrar a atenção e a escuta para conhecerem os pontos fortes de cada pessoa de seus times e melhorar esse “match” entre profissional e função, convertendo felicidade em alto desempenho e produtividade, benefícios para a organização.

Treinamos fraquezas esperando fortalezas? 

Por muitos anos, nossas iniciativas de desenvolvimento focaram melhorar os pontos fracos. Em vez de olharmos para o que as pessoas poderiam fazer como excelência, criando oportunidades para desenvolverem e exercitarem o máximo possível essas habilidades, treinávamos para diminuir o gap daquilo que não sabiam fazer.

No livro “Descubra seus pontos fortes 2.0”, de Tom Rath em parceria com o Instituto Gallup, eles dizem que guiada pela crença de que bom é o oposto de mau, a humanidade tem insistido há séculos em sua fixação na culpa e no fracasso. Os médicos estudaram as doenças para aprender sobre a saúde. Os psicólogos investigaram a tristeza para aprender sobre a alegria.

Os terapeutas procuraram descobrir as causas do divórcio para aprender sobre o casamento feliz. E nas escolas e locais de trabalho, nos quatro cantos do mundo, cada pessoa tem sido encorajada a identificar, analisar e corrigir suas fraquezas para se tornar forte.

É a felicidade que multiplica a eficiência. 

O fato é que não seremos felizes, nem tampouco eficazes, em atividades baseadas em algo que conseguimos fazer de forma mediana ou medíocre, cujo significado diz tudo: de qualidade média, comum, pequeno; diz-se da pessoa pouco capaz, sem talento, que, de modo geral, fica aquém das outras ou que, num dado campo de atividades, não consegue ultrapassar ou mesmo atingir a média. Não dá para ser produtivo assim. 

Isso me lembra muito a fábula “Escola dos bichos”, do educador físico Dr. R. H. Reeves, que compartilho com vocês abaixo. De uma forma bastante lúdica, ela nos ensina sobre a importância de não focar nos pontos fracos e, sim, valorizar as diferenças e o que cada um pode entregar de melhor, de maneira única.

Sempre vale a pena ler e reler.

A Escola dos Bichos

Era uma vez um grupo de animais que quis fazer alguma coisa para resolver os problemas do mundo. Para isto, eles organizaram uma escola. A escola dos bichos estabeleceu um currículo de matérias que incluía correr, subir em árvores, em montanhas, nadar e voar. Para facilitar as coisas, ficou decidido que todos os animais fariam todas as matérias. 

O pato se deu muito bem em natação; até melhor que o professor! Mas quase não passou de ano na aula de voo, e estava indo muito mal na corrida. Por causa de suas deficiências, ele precisou deixar um pouco de lado a natação e ter aulas extras de corrida. Isto fez com que seus pés de pato ficassem muito doloridos, e o pato já não era mais tão bom nadador como antes. Mas estava passando de ano, e este aspecto de sua formação não estava preocupando a ninguém – exceto, claro, ao pato. 

O coelho era de longe o melhor corredor, no princípio, mas começou a ter tremores nas pernas de tanto tentar aprender natação. 

O esquilo era excelente em subida de árvore, mas enfrentava problemas constantes na aula de voo, porque o professor insistia que ele precisava decolar do solo, e não de cima de um galho alto. Com tanto esforço, ele tinha câimbras constantes, e foi apenas "regular" em alpinismo, e fraco em corrida.

A águia insistia em causar problemas, por mais que a punissem por desrespeito à autoridade. Nas provas de subida de árvore era invencível, mas insistia sempre em chegar lá da sua maneira. Na natação, deixou muito a desejar.

Cada criatura tem capacidades e habilidades próprias, coisas que faz naturalmente bem. Mas quando alguém o força a ocupar uma posição que não lhe serve, o sentimento de frustração e até culpa, provoca mediocridade e derrota total. 

Um esquilo é um esquilo; nada mais do que um esquilo. Se insistirmos em afastá-lo daquilo que ele faz bem, ou seja, subir em árvores, para que ele seja um bom nadador ou um bom corredor, o esquilo vai se sentir um incapaz. A águia faz uma bela figura no céu, mas é ridícula numa corrida a pé. No chão, o coelho ganha sempre. A não ser, é claro, que a águia esteja com fome!

A opinião e as informações contidas neste artigo são responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, a visão da SpaceMoney.

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