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O que o aumento da Selic muda no cenário de crédito?

Segundo especialistas, o aumento não é significativo o suficiente para que isso se reflita nas linhas de crédito no curto prazo

- Freepik
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O crédito não deve sentir os efeitos imediatos do aumento da taxa básica de juros. Na última quarta-feira (17), o Banco Central (BC) surpreendeu o mercado ao anunciar aumento de 0,75% da taxa Selic, que foi para 2,75% ao ano e serve como referência para operações de crédito. Segundo especialistas, porém, o aumento não é significativo o suficiente para que isso se reflita nas linhas de crédito no curto prazo.

“A elevação não deve ser tão representativa para o crédito em si. Hoje em dia, o custo maior dentro da decomposição do crédito é muito mais associado à inadimplência e imposto do que a própria Selic”, explica Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos.

Além da Selic e das taxas de operação, os bancos também precificam as linhas de crédito por meio das taxas de inadimplência. Isso se dá porque eles precisam contabilizar o risco de ocorrer o “calote” do pagador.

Segundo o BC, a taxa de inadimplência nas operações de crédito livre com os bancos passou de 2,9% em dezembro para 3,0% em janeiro. Já para as pessoas físicas, a taxa foi de 4,2% para 4,1% no mesmo período. No caso das empresas, a inadimplência passou de 1,4% para 1,6%.

Entretanto, especialistas afirmam que, com o ciclo de altas da Selic previsto para ocorrer até o fim deste ano, o consumidor pode começar a sentir os efeitos nas concessões de crédito. Segundo a agência de notícias Reuters, o Santander Brasil tem projeção para a Selic ao término de 2021 de 5,50%, ante 4,00% do cálculo anterior. Já o Credit Suisse elevou a 6,5% a projeção para a taxa ao fim dos anos de 2021 e 2022.

“O principal ponto não é a elevação, mas a sinalização. Eu não acho que aumentando a Selic hoje, amanhã os bancos estarão aumentando a taxa de juros. Mas eu acho que eles já vão preparar uma política de crédito diferente”, diz Filipe Ferreira, diretor da Comdinheiro.

Crédito imobiliário

Na visão dos especialistas, o crédito imobiliário é um caso à parte. Isso porque esse segmento é mais afetado pela elevação na taxa básica de juros, e isso deve-se, principalmente, pelo fato de que esse setor é o que se chama de “empréstimo garantido”. Isto é, caso o pagador não cumpra com o contrato, a instituição credora pode – de maneira relativamente fácil – tomar o imóvel e recuperar o prejuízo.

“Se um banco toma um calote, por exemplo, no cheque especial, ele não tem o que executar se não o nome da pessoa. Se você dá um calote no financiamento imobiliário, o banco executa o imóvel. Então isso reduz bastante a taxa de inadimplência e o prejuízo que as instituições poderiam ter e barateia muito o crédito. Quanto mais barato estiver por conta da redução de inadimplência e eventuais riscos, mais próximo da taxa de juro básica e mais influente a taxa de juro básica é”, explica Sanchez.

Com a alta da Selic, algumas linhas de concessão de crédito imobiliário pós-fixadas devem ficar mais caras. A dica para quem busca fazer um financiamento imobiliário, de acordo com Filipe, é ficar longe dos modelos pós-fixados.

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"Para quem tomou o empréstimo no modelo poupança mais uma taxa de juros, o custo deve subir substancialmente. Quem estiver na dúvida agora, é melhor ficar no modelo 100% prefixado e não se arriscar. Quem já contratou no modelo pós-fixado, vale a pena dar uma conversada e já ir se preparando, porque as próximas reuniões do Copom devem mexer no bolso dessas pessoas”, afirma.
 

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