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Olhando à frente, a B3 está muito descontada

Quem tem capacidade para correr riscos pode, neste momento, enxergar o copo "meio cheio"

- Reprodução
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No meu artigo do mês passado para a SpaceMoney, comentei sobre o comportamento das pessoas nestes tempos recentes, aversão exacerbada a risco, comportamento de manada na fuga dos ativos de risco em direção à renda fixa, preocupações antecipadas em relação às eleições de 2022 etc.

Seguindo na mesma toada e projetando 2022, proponho aqui um breve exercício mental que olhe exclusivamente à frente. Deixemos de lado o gosto amargo de 2021 e pensemos no que há por vir, objetivamente, como se fôssemos um outsider que acaba de chegar.

A ele contaríamos alguns fatos:

A bolsa está cerca de 20% abaixo das máximas, em um período em que apenas a inflação passa dos 10%. Ou seja, em termos reais são quase 30% para trás. Com uma grande distorção por “Vales e Petros”, na prática para a maior parte das ações a queda é ainda maior.

Os grandes bancos, por exemplo, negociam a múltiplos de lucro da ordem de 4x a 7x (um desconto quase 50% a médias históricas), sendo que o risco de disrupção ainda não se materializou a ponto de impedir que continuem a crescer lucros.

A B3, nossa bolsa monopolista, negocia hoje também a múltiplos igualmente descontados versus médias. Ações de shopping centers, concessões rodoviárias, empresas de energia elétrica etc. – a lista é longa – também mostram descontos semelhantes. Boa parte dos múltiplos da bolsa estão a 2 desvios-padrão abaixo de suas médias.

Dividend yields de muitas empresas já começam a se aproximar de dois dígitos, com um prêmio enorme aos 5% de juros reais de um papel governamental.

Fundos imobiliários? A despeito dos custos de construção terem subido de 30% a 40%, estão praticamente todos negociando muito abaixo de valores patrimoniais (já defasados, muitas vezes). Yields que pouco tempo atrás giravam na casa de 5%-6% hoje estão mais nos 9%-10%-11% (com vacância e/ou preços de aluguel deprimidos já na conta).

Deterioração continuada?

A inflação mostrou suas garras, mas em 2022 temos bons indícios para acreditar que fique dentro da meta. Choques como o câmbio, alimentos, energia elétrica, petróleo e outros já parecem ter ficado para trás. Além disso, os efeitos da Selic mais alta aparecerão.

A corrida por renda fixa fez milhões de indivíduos e instituições fugirem desesperadamente de ativos de risco, seja vendendo-os diretamente em Bolsa ou resgatando de seus fundos multimercados ou de ações. O fluxo bilionário da indústria de fundos mostra isso muito claramente. Poderíamos dizer que o mercado está “leve”? Talvez, sim.

Pois então, olhando à frente, parece que já temos bastante desconto e assimetria na conta, não é mesmo? Sim, temos eleições em 2022 e faltam 10 meses para isso. A polarização entre dois candidatos populistas e pouco austeros parece dada, porém muita coisa ainda pode mudar.

Para vencer, ambos tenderão a convergir mais ao centro. Qualquer um que crave, 10 meses antes da eleição, que uma 3ª via é inviável está apenas dando uma opinião pessoal de pouca significância.

Pelo mostrado acima, o mercado hoje parece precificar apenas uma forte e continuada deterioração do Brasil. A assimetria à frente parece dada; quem tem vontade e capacidade para correr riscos pode, neste momento, enxergar o copo “meio cheio”.

A opinião e as informações contidas neste artigo são responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, a visão da SpaceMoney.

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