O recente anúncio sobre a criação de uma estratégia comercial para substituir a política de preços anterior não deve impactar materialmente o perfil de crédito da Petrobras (PETR3)(PETR4) a princípio, de acordo com a agência de classificação de risco Fitch.
O anúncio levanta preocupações em relação à implementação de decisões políticas adicionais que podem deteriorar seu fluxo de caixa e métricas financeiras.
Esse risco político foi totalmente embutido no rating da Petrobras em BB-/Estável em linha com o soberano, apesar de ter um perfil de crédito autônomo de bbb.
Segundo a Fitch, a nova estratégia comercial destaca-se por ser menos transparente do que sua política anterior de paridade de importação. Anteriormente, a empresa referenciava preços internacionais de combustível, enquanto a nova estratégia usa referências de mercado, como custo alternativo do cliente e valor marginal.
Ambos parecem ser subjetivos e não foram claramente definidos na comunicação da empresa com o mercado, destacaram os analistas.
No entanto, os fluxos de caixa da Petrobras podem se mostrar resilientes se essa nova estratégia comercial levar a preços abaixo da paridade de importação, já que a empresa continua como um produtor de baixo custo.
A Fitch estima que o custo do ciclo completo da Petrobras foi de US$ 32,3/BOE em 2022, que incorpora despesas com juros e custo 1P FD&A para seus negócios upstream.
Os spreads de crack tenderam a uma média de $ 15 BOE no Brasil e o transporte pode subir para $ 10 BOE, e, assim, elevar o custo total de produção refinado da Petrobras para $ 57,3 BOE, abaixo do novo preço realizado estimado para a gasolina de $ 65,26/BOEe $ 86,44/BOEpara o diesel, e assume-se cerca de 13,0% de cortes de preços anunciados nesta semana.
O case de rating da Fitch considera que a Petrobras continua com fluxo de caixa positivo, ainda que menor do que o que vimos nos últimos anos.
Com relação à importação de produtos refinados, principalmente diesel, a Fitch entende que a Petrobras pode repassar todos os custos absorvidos para compra, importação e distribuição de diesel no país, que tem uma média entre 20% e 30% do consumo total ao ano, já que o Brasil mantém-se como um importador líquido de produtos refinados.
A diretoria executiva tem autoridade para executar a estratégia comercial, mas delegou o processo a um comitê executivo composto pelo CEO, CFO e diretor de Marketing e Logística.
A agência relembra que o conselho de administração, controlado pelo governo, nomeia esses cargos, e pode retirar essa delegação a qualquer momento.
De acordo com os estatutos da empresa, os membros do conselho e executivos têm a responsabilidade fiduciária de garantir que a empresa implemente estratégias de negócios que sejam lucrativas, caso contrário, eles podem enfrentar responsabilidades legais pessoais.
Essa consideração deve reduzir o risco de fortes impactos negativos sobre a Petrobras advindos de decisões não técnicas da empresa, finalizou a Fitch.