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Portela realiza sonho de homenagear brasilidade de Clara Nunes

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Os 95 anos da Escola de Samba Portela colecionam personalidades que marcaram não só a história da escola, mas também a cultura brasileira. Nesse hall, que tem nomes como Monarco e Paulinho da Viola, uma das maiores estrelas será a grande homenageada pelo enredo deste ano: Clara Nunes, que terá as diversas referências de sua brasilidade desdobradas pela carnavalesca Rosa Magalhães.

Integrante da comissão de carnaval e presidente do Conselho Deliberativo da escola, Fábio Pavão conta que a emoção desse tributo vem arrancando lágrimas dos componentes da Portela.

“É o enredo que o portelense sempre quis. Falar de Clara Nunes é um sonho antigo da Portela. Em outros carnavais, Clara Nunes esteve no enredo, mas não era o personagem central”.

A criação no interior de Minas Gerais, a educação católica, o mergulho nas religiões africanas e o encontro com o subúrbio carioca na azul e branca de Madureira serão contatos pela escola no enredo “Na Madureira Moderníssima, hei sempre de ouvir cantar uma Sabiá”.

Fábio Pavão, da Comissão de Carnaval e presidente do Conselho Deliberativo da Portela – Fernando Frazão/Agência Brasil

Sem a intenção de contar uma biografia tradicional, o desfile parte do último trabalho da cantora, o álbum Nação, em que Clara Nunes circula de forma eclética pela produção musical negra no Brasil. Essa busca pela brasilidade, explica Pavão, a cantora tem em comum com os modernistas, que em Tarsila do Amaral encontraram o “Carnaval em Madureira”, quadro icônico da pintora que passará pela Marquês de Sapucaí em forma de alegoria.

Assim como Clara Nunes, Tarsila se encantou com a folia no subúrbio ao se deparar com a irreverência de um comerciante carioca que mandou enfeitar o coreto de uma praça como se fosse a Torre Eiffel. Em volta do monumento, ele ainda montou uma engenhoca que fazia rodar um dirigível.

Enredo

“A gente quer mostrar o Brasil, como o povo tem importância para a definição dessa brasilidade e para o repertório da Clara Nunes”, diz Pavão, que conta que o enredo trará a formação católica que Clara Nunes recebeu dos pais, que serão representados na avenida pela atriz Glória Pires e pelo compositor Orlando Morais em um carro alegórico que faz referência ao estilo barroco das igrejas mineiras.

Do catolicismo, a escola vai partir para a fé nos orixás de matriz africana, que marcou a identidade visual e a forma de Clara Nunes se apresentar. Mulher, negra, de matriz africana e nascida no interior, Clara Nunes será revivida também em sua mensagem em prol da diversidade. “A Clara mostra a importância da tolerância, de se respeitar o próximo e de se respeitar as religiões de matriz africana. Foi um recado que ela passou em vida e que a Portela vai passar no carnaval”.

Nos 13 anos que passou na Portela, Clara Nunes foi intérprete, desfilou e fez história na comunidade. Grandes carnavais serão resgatados pelo desfile, como Ilu Ayê, de 1972, e A Ressurreição das Coroas (1983), o último de que Clara Nunes participou, meses antes de sua morte, em 2 de abril daquele ano.

Camarote na Sapucaí

A Portela vai desfilar com cinco carros alegóricos, 3,4 mil componentes e 28 alas. Fora da pista, esse ano a escola inaugura uma novidade, o Camarote da Portela, que promete recriar a atmosfera da quadra em plena Sapucaí.

“Dentro da ideia de ampliar as fontes de receita, estamos progressivamente trabalhando a nossa marca, buscando parceiros, e o camarote é mais um exemplo disso”, disse Pavão. “Terá o clima da nossa feijoada, com a nossa velha guarda. É como se estivesse assistindo ao desfile de dentro da quadra”.

Entre as parcerias, está uma que promete agregar ainda mais elegância ao desfile da azul e branca. A carnavalesca Rosa Magalhães assina a fantasia de uma das alas ao lado do estilista francês Jean Paul Gaulthier, que esteve no Rio de Janeiro em outubro para acertar os detalhes do traje, que é mantido em sigilo. Na viagem, o estilista não perdeu a oportunidade de participar de uma feijoada com a velha guarda.

Nos bastidores do desfile, que promete emocionar os componentes, não faltam histórias de devoção a Clara Nunes. O figurinista Luciano Costa, de 63 anos, lembra que esteve no último show da cantora na quadra da Portela, há mais de 30 anos.

Figurinista Luciano Costa prepara fantasias no barracão da Portela, para o enredo “Na Madureira moderníssima, hei de sempre ouvir cantar uma sabiá”, em homenagem a Clara Nunes – Fernando Frazão/Agência Brasil

“O clima aqui no barracão é de muita emoção. As pessoas vêm nos visitar e é uma loucura, elas se arrepiam. Ficam enlouquecidas e sentem a Clara presente”.

A estrada de Luciano no carnaval começou há 42 anos, quando ele trabalhou com Joãozinho Trinta. De lá para cá, ele já foi carnavalesco e fez parcerias com outros nomes importantes. Neste ano, seu desafio é estar à altura de duas divas do carnaval.

“Clara Nunes sendo homenageada pela Portela com Rosa Magalhães. É muito séria essa responsabilidade. São duas mulheres poderosíssimas”, afirma o carnavalesco.

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