Risco

Possível furo no teto de gastos retira confiança no país, dizem especialistas

A desorganização fiscal é o principal obstáculo no cenário macroeconômico brasileiro e, junto com o câmbio e a inflação altos, tendem a dificultar o crescimento do país

Palácio do Planalto - Agência Brasil/Fabio Rodrigues
Palácio do Planalto - Agência Brasil/Fabio Rodrigues

Por Ana Beatriz Bartolo, da Investing.com – A desorganização fiscal é o principal obstáculo no cenário macroeconômico brasileiro e, junto com o câmbio e a inflação altos, tendem a dificultar o crescimento do país. Essa é a visão dos analistas que participaram da mesa “O Caminho Para a Recuperação Econômica”, transmitida pelo BTG (SA:BPAC11) Bankers Experience 2021. Além disso, repercutindo as discussões sobre um possível furo no teto de gastos, os especialistas apontam que isso seria um golpe final na confiança do mercado.

“Está bem claro que há uma vontade política de aumentar os gastos no ano que vem, mas isso não vem acompanhado de novos impostos ou corte em outras áreas. Para fazer isso, estão tentando mexer no teto”, fala Tiago Berriel, Estrategista-Chefe da BTG Pactual Asset Management. Para ele, isso elimina o caráter disciplinador que o teto teria sobre a política fiscal e faz com que a política monetária adotada para evitar a alta na inflação limite o crescimento do país.

Essa visão é acompanhada por Carlos Woelz, Sócio Fundador da Kapitalo Investimentos, que destaca que dos seis anos em que o teto existe, ele foi desrespeitado em três, e a conversa sobre uma possível mudança no índice não aumenta a sua credibilidade.

“Estamos num ponto macroeconômico de muito cuidado, onde historicamente o Brasil usou políticas de estabilização. Para aumentar os gastos, você pode subir impostos, o que é desagradável, ou cortar de outro lugar, mas esse não é o caminho que estamos seguindo”, diz Woelz.

Abrir mão do teto de gastos, como o governo parece estar fazendo, terá um impacto direto na dívida do país, na inflação e nos juros, explica José Carlos Carvalho, sócio da Vinci Partners.

Carvalho relembra que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já afirmou que não pretende mudar o ritmo de aceleração da taxa Selic por oscilações pontuais na economia. “O problema é que o fim do teto de gastos não é um pequeno distúrbio, é um terremoto. Se eles [o BC] estão comprometidos com 2022, faria sentido acelerar o aumento dos juros na próxima reunião do Copom, mas não houve nenhuma comunicação nesse sentido”, comenta. Para Carvalho, uma alta de 1,25 p.p. na Selic não iria parecer “desesperado”.

Expectativas para 2022

Os três especialistas concordam que ainda é muito cedo para discutir cenários sobre 2022, considerando que é um ano eleitoral e ainda não há certeza sobre quem seriam os candidatos e quais seriam as suas propostas.

Woelz acredita que uma precificação de 10,5% a 11% da inflação para o primeiro semestre do próximo ano é justa. Mas Carvalho aponta que apesar dessa tendência de alta no IPCA, o mercado de trabalho e a massa salarial estão retomando.

Para o sócio da Vinci Partners, o próximo ano será desafiador e o crescimento deve cair pela metade. Ainda assim, em 2022 deve acontecer uma expansão fiscal, com estados e municípios podendo gastar um pouco mais por causa do superávit deste ano, e no agronegócio, a safra deve ser boa, considerando o aumento de 4% na área plantada.

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