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Queimem as caravelas!

O desafio de engajar os profissionais em um ambiente da cultura do imediatismo

- Unsplash
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O ano era 1519 e as viagens ultramarinas para descoberta e conquista da América se intensificava. A tripulação das caravelas viva um misto emoções: de um lado euforia com a conquista do desconhecido, do novo, pelo pioneirismo; do outro lado, um medo de doenças, fome e grande temor das tribos indígenas locais, em especial em relação aos astecas, uma tribo de guerreiros destemidos, marcados pela brutalidade.

Esse é o cenário quando a tripulação de Hernan Cortés desembarcou na baia de Quintana Roo, no México. Ao notar o temor e hesitação de sua tropa, o conquistador não pensou duas vezes e ordenou: “Queimem as Caravelas”. Ao fazê-lo, Cortés demonstrou que só existia um único caminho, a conquista das terras mexicanas, ou venciam ou morriam.

Um ato heroico, motivacional, que representou um marco há época, sendo um dos motivos para engajar a tropa para a rápida conquista do território que hoje é denominado de México, e que deixa muitas lições para os dias atuais.

Atualmente, não faltam livros motivacionais, canais no youtube e fórmulas mirabolantes para engajar os profissionais em empresas. Além é claro do bom e velho pacote de bondades, por meio da oferta de refrigerante à vontade, cafés dos mais variados tipos, doces, entre outros. O resultado de tudo isso, os profissionais continuam desmotivados, mudando de emprego ao sabor do vento. 

Vivemos em um mundo onde prevalece a cultura do imediatismo, as pessoas não têm a paciência necessária, que não compreendem a necessidade do polimento do tempo e demonstram uma falta de maturidade para aguardar o tempo natural das coisas, desejam a recompensa, o sucesso de forma imediata, quase que instantânea.

O sucesso profissional, por sua vez, é forjado de grão em grão, por muitos anos de esforço, repetição, trabalho duro, diametralmente o oposto dos que os profissionais atualmente buscam. A consequência da expectativa para alcançar o olimpo de forma rápida versus a realidade de conquistas graduais e lentas, está gerando uma sociedade de trabalhadores ansiosos, frustrados e desmotivados.

A pergunta que fica: como as empresas conseguem engajar seus profissionais para desenvolver um trabalho longevo e duradouro? A famosa resposta de um milhão de dólares, que talvez ninguém tenha.

Uma das muitas ferramentas que vem sendo muito utilizada – em especial pelas startups – para gerar o engajamento é a utilização de programas de Stock Options. Trata-se de uma modalidade de remuneração por meio de outorga de opções ou ações, no qual os beneficiários têm a possibilidade adquirir participação societária nas empresas em que trabalham.

Os programas de Stock Options são uma ótima opção de alinhamento de interesses, uma vez que o interesse dos beneficiários é o mesmo da administração e dos stakeholders, reduzir os custos e fazer a empresa prosperar. Por se destinar há um grupo seleto de profissionais, existem critérios mínimos como o “tempo de caso” (denominado de cliff) e do período de vesting (período mínimo para aquisição das opções) que são poderosas ferramentas de retenção de profissionais, uma vez que os beneficiários precisam cumprir determinados períodos, para se habilitem a ter direito a fazer jus às opções.

Contudo, não é qualquer tipo de Plano de Stock Options que não é enquadrado como remuneratório. Para que seja caracterizada a natureza mercantil, o de Plano de Stock Options, nos termos da recente decisão preferida em 25 de setembro de 2021 pelo Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) que julgou um caso emblemático no qual considerou determinado Plano de Stock Options (de executivo da Qualicorp) é necessário a existência de três características: onerosidade, voluntariedade e risco.

Curioso refletir sob essa perspectiva, antigamente as pessoas eram motivadas pela causa, por um projeto maior no qual ela era uma pequena gota em um oceano de oportunidades. Atualmente, além de um salário competitivo, um ambiente agradável, acolhedor, ainda assim, é necessário a utilização de outros meios, tais como descritos acima, correndo o risco de os trabalhadores ainda acharem que a empresa não está sendo prestativa o suficiente.

Muitos navios ainda precisarão serem queimados para iluminar o caminho dessa nova geração.

A opinião e as informações contidas neste artigo são responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, a visão da SpaceMoney.

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