China

Receio de recessão mundial derruba bolsas; Itaú vê queda de 0,7 ponto no crescimento global por conta da guerra comercial

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O temor de uma recessão mundial por conta do acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China provoca hoje uma forte busca por proteção dos investidores que está derrubando os índices de ações das bolsas ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, na busca por proteção, os investidores compram títulos de renda fixa dos países desenvolvidos e derrubam os juros desses papéis.

O discurso mais duro das autoridades chinesas, desafiando o presidente americano Donald Trump, tem aumentado o receio de um retrocesso nos acordos negociados até agora para evitar os aumentos de tarifas. Hoje, jornais chineses disseram que o país pode retaliar os americanos na exportação de minérios estratégicos, os chamados terras raras, usados na fabricação de componentes eletrônicos. Ontem, executivos da empresa de eletrônicos Huawei, principal alvo de Trump, deu declarações criticando a atitude do presidente americano.

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No Brasil, o Índice Bovespa abriu em queda, de 0,62%, aos 95.790 pontos. O dólar comercial, por sua vez, está em queda, de 0,683%, vendido a R$ 3,9967, repercutindo a melhora do cenário político brasileiro após a tentativa de acordo entre os três Poderes anunciada ontem, que pode ajudar na votação da Previdência. Os juros, porém, inverteram a tendência dos últimos dias e estão subindo nos mercados futuros.

Na Ásia, o Índice Nikkei, do Japão, caiu 1,21% e o Hang Seng, de Hong Kong, 0,57%. Na Europa, o Índice Euro Stoxx 600 cai 1,58%, com o CAC, de Paris, perdendo 2%, o DAX, da Alemanha, 1,62% e o Financial Times, de Londres, 1,61%. Os mercados futuros americanos apontam para uma baixa de 0,93% para o Dow Jones, 0,84% para o S&P500 e 0,39% para o Nasdaq. O Dow Global cai 0,55%.

Petróleo cai e ouro sobe

Ao mesmo tempo, as commodities reagem à fuga do risco e expectativa de desaquecimento com queda de 2,89% no petróleo WTI, de Nova York, para US$ 57,45 o barril. O ouro, proteção para os momentos de crise, sobe 0,56% em Nova York, para US$ 1.284,10 a onça-troy (31,104 gramas).

Nos títulos do Tesouro dos EUA, o papel de 10 anos paga hoje os juros mais baixos dos últimos 20 meses, 2,23% ao ano, 0,04 pontos percentuais abaixo de ontem. Os juros, que já estão negativos na Alemanha, caíram mais, para -0,164% ao ano, 0,006 ponto menos, indicando busca por proteção.

Aversão global ao risco

“Estamos vivendo um momento de aversão ao risco global”, diz Pablo Stipanicic Spyer, diretor da corretora Mirae Asset. “O rali global pelos títulos americanos está ficando muito sério”, afirma. “O problema esta manhã é a China ameaçar usar a exportação de terras raras, muito importantes para o setor tecnológico americano, como barganha na guerra comercial”, explicou.

Juros indicam recessão

O receio dos investidores aparece no mercado de títulos americanos, com os juros dos papéis de 10 anos superando os de 3 meses em 0,13 pontos percentuais, um movimento típico de momentos que precedem recessões pois indicam que os juros podem ter de cair no curto prazo para ajudar a economia.

Guerra derruba a atividade

O risco de queda na atividade mundial por conta da guerra comercial cresceu nas últimas semanas, diante da atitude de maior confrontação das autoridades chinesas, afirma Mário Mesquita, economista-chefe do Banco Itaú e ex-diretor do Banco Central. “Os chineses parecem agora querer pagar para ver”, afirmou ontem, durante encontro com jornalistas.

A guerra comercial acentua um movimento de desaceleração que reflete também os problemas geopolíticos da Europa, com governos fracos e com políticas econômicas duvidosas, e o risco cada vez maior de uma saída desorganizada do Reino Unido da União Europeia depois dos fracassos na negociação do Brexit.

A China também segue seu processo de desaceleração, mas com as autoridades dispostas a dar menos incentivos para a economia do que em 2008 ou 2009.

Nas estimativas do Itaú, a guerra comercial e o aumento das tarifas de importação entre os dois países podem tirar 0,7 ponto percentual do crescimento mundial, impactando a cadeia produtiva global. Hoje, a Alemanha tem uma ligação muito maior com a China, e uma desaceleração chinesa poderia impactar o crescimento da Europa.

O mesmo vale para os países emergentes, como o Brasil, que hoje tem ligações maiores com a China do que com os EUA. “A guerra é preocupante em um momento em que a economia mundial já está desacelerando”, afirma.

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