Economia

Selic em 12,25%: exterior e ruídos fiscais podem interromper ciclo de cortes, alertam analistas

A autoridade monetária destacou que o comportamento dos preços foi responsável pelo corte dos juros pela terceira vez consecutiva

- Agência Brasil
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Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu a taxa básica de juros Selic em 0,5 ponto percentual, para 12,25% ao ano. A decisão, anunciada na noite de quarta-feira (1º), foi amplamente esperada por analistas financeiros.

No tom do comunicado, a autoridade monetária destacou que o comportamento dos preços foi responsável pelo corte dos juros pela terceira vez consecutiva.

Contudo, dirigentes ressaltaram a necessidade de cautela em atenção ao exterior.

“O ambiente externo mostra-se adverso, em função da elevação das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos, da resiliência dos núcleos de inflação em níveis ainda elevados em diversos países e de novas tensões geopolíticas”, declarou o colegiado.

Na avaliação de Adriana Dupita, economista da Bloomberg, “o comentário abre espaço para que o BCB desvie do seu plano de cortar meio ponto a cada uma das próximas reuniões, caso o cenário internacional se deteriore”.

No documento, membros contrataram a decisão de manter novos cortes de 0,5 p.p. nas próximas reuniões, mas sinalizaram que podem mudar o tempo do período de cortes, caso outros fatores observados se complexifiquem.

As futuras decisões serão impactadas sobretudo pelo homólogo norte-americano, acredita Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero Investimentos.

Caso o BC dos Estados Unidos mantenha o atual patamar de juro para além do 1S23, o COPOM eventualmente poderia desacelerar o passo do ciclo em curso, mormente se houver mudança na meta fiscal, e a taxa terminal seria, neste caso, mais elevada, declarou o estrategista-chefe.

Portanto, o contexto “demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”, comentou. 

O Comitê destacou que a “magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo depende da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”.

Lucas Farina, analista econômico da Genial Investimentos, destacou que o comunicado não celebra a melhora da composição da inflação nas últimas leituras, principalmente dos serviços subjacentes e das métricas de núcleo.

A interrupção do movimento de reancoragem das expectativas de inflação também parece estar incomodar bastante o Banco Central, principalmente para os anos de 2025 e 2026, de acordo com Farina.

“Nesse comunicado, foi adicionada a palavra “apenas” no trecho “expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador”. A adição dessa palavra em uma frase de teor mais “hawkish” evidencia o incômodo do Banco Central com essa desancoragem das expectativas”, pontuou.

A Órama Investimentos encaminhou a sua análise ao mesmo sentido. Na avaliação de Alexandre Espírito Santo, economista-chefe, e da analista Eduarda Schmidt, os recentes ruídos associados à política fiscal brasileira não podem ser desconsiderados.

“Uma demonstração oficial contrária a equipe econômica vinda do Executivo causa desconforto e, sob o olhar das expectativas, pode, sim, interferir na política monetária mais à frente”, comentaram.

Diante de um quadro externo muito mais desafiador, de conflitos armados e de juro americano elevado por mais tempo, o lado fiscal sob controle torna-se cada vez mais importante para a condução da política de juros, afirmaram os analistas.

A casa mantém sua estimativa para a taxa básica de juros Selic em 11,75% ao fim deste ano. Para 2024, acreditam que a taxa terminal vai ficar em 9,5% a.a., com quatro reduções de 0,5 p.p. e uma última de 0,25 p.p.

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