Perspectivas

S&P: demanda por metais em 2022 segue robusta em meio à transição energética e restrições

Segundo relatório da agência, os gastos dos consumidores, os esforços de estímulo dos governos e a aceleração da transição energética continuarão com o impulso à procura, aos preços e aos orçamentos de exploração da commodity

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Por Oliver Grey, da Investing.com – Os preços das commodities subiram novamente nas últimas semanas, em meio a crescentes pressões inflacionárias, à medida que bancos centrais ao redor do mundo começam a apertar suas respetivas políticas monetárias enquanto o Federal Reserve dos EUA acelerou seu cronograma do tapering de forma agressiva, em preparação a aumentos das taxas de juros em 2022.

O ouro se negocia atualmente em torno da marca dos US$ 1.800, 13% abaixo das máximas históricas alcançadas em agosto de 2020.

O minério de ferro era negociado 55% abaixo de suas máximas históricas de julho de 2021, com o impacto dos rigorosos controles sobre a produção e o uso de energia por parte dos planejadores do estado chinês sobre tanto a oferta como a demanda pelo metal.

No entanto, de acordo com a S&P Global Market Intelligence, as perspectivas de preços para os metais continuam a ser muito positivas até 2025, com um aumento na demanda decorrente da transição energética dos veículos elétricos.

"O setor de metais deve continuar sua recuperação dos efeitos da pandemia da Covid-19 até 2022. Os gastos dos consumidores, os esforços de estímulo dos governos e a aceleração da transição energética continuarão impulsionando a procura, os preços e os orçamentos de exploração", observou o S&P Global Market Intelligence no seu relatório de Perspectivas para Metais e Mineração.

À medida que 2022 se aproxima, a recuperação da pandemia continua a manter os preços dos metais elevados, o que sustenta o interesse dos investidores no setor de mineração.

No entanto, o aumento não será sentido uniformemente em todas as commodities do setor.

A recente campanha de descarbonização da China restringiu a produção de aço do país no segundo semestre de 2021, com implicações negativas para a demanda e os preços do minério de ferro.

O setor siderúrgico chinês, responsável por cerca de 15% das emissões de carbono do país, tem como meta alcançar o pico de emissões até 2025 e atingir uma redução de 30% em relação ao pico até 2030, segundo o plano geral do país para alcançar o pico de emissões de carbono até 2030 e a neutralidade de carbono até 2060.

Espera-se que o esforço de descarbonização da China cause o fechamento de altos fornos, levando a uma redução na produção chinesa de gusa no próximo ano.

Espera-se, no entanto, que a procura por minério de ferro de alta qualidade se beneficie devido à menor quantidade de impurezas e à maior produtividade.

Muitos produtores tiveram um ano exemplar em 2021, quando a combinação de preços fortes para a maioria das commodities com a recuperação da produção de combustíveis alimenta margens saudáveis.

Embora se espere que esta tendência continue ao longo de 2022, riscos de queda vêm surgindo, com o provável impacto das pressões inflacionárias sobre muitas operações em meio aos crescentes custos de insumos como combustível, eletricidade e equipamentos.

Ao mesmo tempo, 2021 deve estabelecer mais um recorde nas vendas globais de veículos elétricos, apoiadas pelo aumento do número de modelos disponíveis, melhorias nas tecnologias de baterias, incentivos aos consumidores e regulamentações mais rigorosos sobre emissões para os produtores.

A prolongada escassez de chips semicondutores restringiu o potencial total das vendas de veículos elétricos (VEs) em 2021, que devem se estender em 2022.

Os preços do carbonato de lítio aumentaram 350% no ano, consequência de aumentos inesperados na procura combinados com uma lenta expansão da oferta.

A atividade de M&A em lítio e o financiamento sem precedentes para exploradores juniores e intermédios em 2021 deverão melhorar a oferta a médio prazo, mas os desencontros entre oferta e demanda deverão continuar no ano que vem, com o aumento da demanda.

Os preços do cobre e do zinco também aumentaram para níveis recorde este ano, já que a escassez de energia limitou a produção das refinarias chinesas.

Embora a crise energética possa demorar algum tempo para se resolver, mantendo os preços elevados, ela poderá ter um impacto negativo sobre o crescimento econômico em 2022.

Pelo lado da oferta, espera-se que a produção de cobre extraído de minas aumente no próximo ano, aliviando o arrocho no mercado de concentrados.

Espera-se que a procura por cobre refinado supere o crescimento ao longo dos próximos quatro anos, pois o uso significativo do metal em painéis solares fotovoltaicos, na geração de energia eólica e na produção de veículos elétricos fazem dele um dos principais beneficiários da transição energética.

Além disso, espera-se que a demanda cresça devido à expansão da eletrificação da infraestrutura e às melhorias na infraestrutura de telecomunicações, particularmente na China e nos EUA.

Embora a demanda por zinco na transição energética seja um corolário da procura por cobre, o zinco é utilizado em energias renováveis para proteção contra corrosão, além de ainda existir a possibilidade de avanços na capacidade de armazenamento de energia das baterias de zinco.

Estes avanços ainda estão sujeitos aos desafios de menor ciclo de vida e capacidade de carregamento em comparação às baterias de íon de lítio.

Embora os analistas da S&P prevejam a flexibilização dos preços dos metais em 2022 em relação a suas máximas atuais, as restrições de oferta a médio prazo estão criando o cenário para preços historicamente acima da média até 2025, impulsionados predominantemente pelo aumento da demanda por materiais utilizados na aceleração da transição energética global.

Espera-se que as restrições de oferta persistam apesar dos esforços intensos de exploração, cuja previsão é de se expandirem ainda mais em 2022, enquanto os esforços de exploração continuam a se concentrar em regiões que conseguiram mitigar a maior parte dos impactos da pandemia.

Deve-se notar, no entanto, que poucas das descobertas resultantes serão desenvolvidas a tempo de atender às exigências de oferta a médio prazo. Confrontada com uma procura persistente, embora em moderação, o setor está às portas de um período de crescimento sustentado.

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