StockBeat: gigantes do petróleo encaram o abismo

Por Geoffrey Smith

Investing.com – Ou o setor de petróleo e gás natural está à beira de um desastre, ou uma oportunidade de compra se abriu.

Por motivos óbvios, as ações de petróleo e gás natural tendem a seguir o preço do petróleo bruto, apesar de o grau de correlação variar de acordo com o setor e a região. Porém, a combinação de coronavírus, guerras comerciais, aliança Opep-Rússia e mudanças climáticas parecem ter quebrado essa ligação, ao menos no curto prazo.

O preço do Brent – que tende a ser mais volátil do que preços agregados de ações – se recuperou em mais de 10% após sua queda de 10 de fevereiro, quando estava em US$ 53,11 por barril, mas esse não seria um palpite óbvio ao olhar para o mercado de ações.

Quase todas as gigantes da Europa – Royal Dutch Shell (LON:RDSa), BP (LON:BP), Total (PA:TOTF), ENI (MI:ENI) e Repsol (MC:REP) – estão sendo negociadas em baixa em relação a como estavam no dia em que o Brent despencou. A norueguesa Equinor (OL:EQNR) é a única exceção, e ainda assim está apenas 2,2% acima de sua mínima.

Por que, enquanto o mercado de petróleo está dando o seu melhor para “olhar além” do impacto de curto prazo do Covid-19, o mercado de ações não está conseguindo fazer o mesmo?

Um argumento poderia ser que a incapacidade da Opep de chegar a um acordo com a Rússia sobre maiores cortes de produção tenha atingido as gigantes ocidentais de maneira particularmente forte, dado que o cenário resultante de “menor por mais tempo” do petróleo transforma projetos lucrativos em marginais e requer prêmios de risco mais altos de investidores.

O coronavírus também atingiu alguns com mais força do que outros. A Shell, por exemplo, sofreu muito com a interrupção do mercado de GNL, uma vez que os compradores chineses se recusaram a receber carregamentos já contratados, fazendo com que o gás mais caro do mundo fosse despachado em outro lugar da Ásia por preços mínimos.

A Shell é a maior fornecedora de GNL do mundo e também a com pior performance entre as gigantes neste ano, com queda de 15%. Das outras grandes do GNL, a Total está caindo 9,6%, a Repsol, 13% e a Equinor , 9,6%. Apenas a BP não sofreu tanto, com queda de 2,7%.

Mas nem a Opep e nem o coronavírus podem explicar porque a Shell, a Equinor, a Eni e a Total estão todas perto de suas mínimas em três anos e meio sem sinal de recuperação em vista.

A explicação para isso está provavelmente mais próxima de uma mudança estrutural de longo prazo contra as empresas de combustíveis fósseis sinalizada por Larry Fink, da Blackrock, em uma carta que alertou para uma “remodelação fundamental nas finanças” para refletir preocupações em relação às mudanças climáticas.

Não é coincidências que empresas de energia de baixo carbono, que por anos ficaram presas aos preços do petróleo porque eram tecnologia marginal, quebraram essa ligação este ano, ao mesmo tempo em que as gigantes do hidrocarboneto fracassaram.

Os produtores de hidrocarboneto podem sofrer um salto se os preços do petróleo se mantiverem no nível atual, o que seria o que eles precisam para cobrir investimentos e dividendos. As ricas avaliações de ações “mais verdes” podem oferecer uma boa oportunidade de arbitragem no curto prazo. Mas o alerta de Fink ainda será válido quando o último paciente de coronavírus se recuperar.

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