O presidente Jair Bolsonaro ganhou uma reportagem especial da revista britânica The Economist, um dos bastiões do liberalismo internacional. Mas não foi por sua política econômica. Bolsonaro é apontado pela revista como responsável por acelerar o desmatamento da Amazônia, em nome do progresso.
A revista cita o aumento do desmatamento nos últimos anos e o crescimento recente da derrubada de árvores, lembrando que o presidente contestou os números e mandou demitir o responsável pelo levantamento. E cita os impactos sobre o Brasil e sobre os países vizinhos da devastação da floresta. A revista sugere ainda que empresas e autoridades internacionais pressionem o governo brasileiro para que mantenha a proteção da Amazônia.
A maravilha natural da América do Sul pode estar perigosamente próxima do ponto de inflexão além do qual sua transformação gradual em algo mais próximo de uma estepe não pode ser impedida ou revertida, mesmo que as pessoas deitem seus machados, alerta a revista, acrescentando que o presidente do Brasil “está apressando o processo – em nome, ele afirma, do desenvolvimento”. O colapso ecológico que suas políticas podem precipitar seria sentido com mais intensidade nas fronteiras de seu país, que circundam 80% da bacia – mas também ia muito além delas. E isso deve ser evitado, afirma a The Economist.
Para a revista, a recessão e a crise política reduziram ainda mais a capacidade do governo de aplicar as regras de controle do desmatamento. Agora, o senhor Bolsonaro alegremente levou uma serra elétrica para a região. Embora o Congresso e os tribunais tenham bloqueado alguns de seus esforços para despojar partes da Amazônia de seu status protegido, ele deixou claro que os infratores de regras não têm nada a temer, apesar do fato de ele ter sido eleito para restaurar a lei e a ordem. Como 70 a 80% da extração madeireira na Amazônia é ilegal, a destruição aumentou para níveis recordes. Desde que assumiu o cargo em janeiro, as árvores estão desaparecendo a uma taxa de mais de duas Manhattans por semana, calcula a revista.
O presidente do Brasil descarta tais levantamentos, já que ele faz ciência mais amplamente, ironiza a reportagem. Ele acusa os forasteiros de hipocrisia – os países ricos não abateram suas próprias florestas? – e, às vezes, de usar o dogma ambiental como pretexto para manter o pobre do Brasil. “A Amazônia é nossa”, esbravejou o presidente recentemente. O que acontece na Amazônia brasileira, ele pensa, é o negócio do Brasil, diz a revista.
Exceto pelo fato que não é, observa a The Economist. Uma devastação da floresta prejudicaria diretamente os outros sete países com os quais o Brasil compartilha a bacia do Rio Amazonas. Isso reduziria a umidade canalizada ao longo dos Andes até o sul de Buenos Aires. “Se o Brasil estivesse represando um rio de verdade, não sufocando um rio aéreo, as nações a jusante poderiam considerá-lo um ato de guerra”, afirma a revista. Como a vasta reserva de carbono da Amazônia ardeu e apodreceu, o mundo poderia aquecer até 0,1° C até 2100 – não muito, você pode pensar, mas o alvo preferido do acordo climático de Paris permite um aquecimento adicional de apenas 0,5° C ou mais.
Segundo a revista, os outros argumentos de Bolsonaro também são falhos. Sim, o mundo rico arrasou suas florestas. O Brasil não deve copiar seus erros, mas aprender com eles como, por exemplo, a França, reflorestando enquanto ainda pode. A paranoia sobre conspirações dos países ricos é apenas isso. A economia do conhecimento valoriza mais a informação genética sequestrada na floresta do que a terra ou árvores mortas, lembra a The Economist.
Mesmo que isso não acontecesse, o desmatamento não é um preço necessário para o desenvolvimento. A produção brasileira de soja e carne bovina subiu entre 2004 e 2012, quando a derrubada de florestas diminuiu em 80%. De fato, além da própria Amazônia, a agricultura brasileira pode ser a maior vítima do desmatamento. A seca de 2015 fez com que os agricultores de milho no estado de Mato Grosso perdessem um terço de sua colheita.
Por todas estas razões, diz a The Economist, o mundo deveria deixar claro ao senhor Bolsonaro que não tolerará seu vandalismo. Companhias de alimentos, pressionadas pelos consumidores, deveriam rejeitar a soja e a carne produzidas em terras amazônicas ilegalmente exploradas, como aconteceu em meados dos anos 2000. Os parceiros comerciais do Brasil devem fazer acordos contingentes ao seu bom comportamento. O acordo alcançado em junho pela União Europeia e pelo Mercosul, já inclui dispositivos para proteger a floresta tropical. É esmagadoramente do interesse das partes aplicá-las, defende a revista.
O mesmo vale para a China, que está preocupada com o aquecimento global e precisa da agricultura brasileira para alimentar seu gado. Os ricos signatários do acordo de Paris, que se comprometeram a pagar os que estão em desenvolvimento para plantar árvores que consomem carbono, deveriam fazê-lo. O desmatamento responde por 8% das emissões globais de gases de efeito estufa, mas atrai apenas 3% da ajuda destinada ao combate às mudanças climáticas.
Se há uma bala verde nas táticas de terra queimada do senhor Bolsonaro em relação à floresta tropical, é que elas tornaram a situação da Amazônia mais difícil de ignorar – e não apenas para forasteiros, afirma a The Economist. A ministra da Agricultura do Brasil pediu que Bolsonaro permanecesse no acordo de Paris, lembrou. Desmatamento descontrolado pode acabar prejudicando os agricultores brasileiros se isso levar a boicotes estrangeiros de produtos agrícolas brasileiros. Os brasileiros comuns devem pressionar seu presidente para reverter o curso. Eles foram abençoados com um patrimônio planetário único, cujo valor é intrínseco e sustentador da vida, tanto quanto é comercial. Deixá-lo perecer seria uma catástrofe desnecessária, conclui a The Economist.
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