Que tal comprar um título de renda fixa que paga -1,0% ao ano? Ou então emprestar R$ 150 para alguém que, no fim do prazo, vai te devolver somente R$ 140? Não faz muito sentido, certo?
Mas investimentos assim existem. E, por mais difícil que seja de acreditar, eles são muito procurados por investidores.
A maioria desconhece a existência dos juros negativos. O nome, por si só, causa estranheza. Afinal, como pode existir algo com valores negativos no mercado? Confira como eles funcionam:
O que são juros negativos e qual a lógica por trás deles?
Títulos com juros negativos surgem quando autoridades monetárias de um país fixam a taxa básica de juros (como a Selic no Brasil) em um valor abaixo de zero, o que influencia os ativos indexados a ela.
As taxas “abaixo de zero” foram muito utilizadas para os países se recuperarem da crise financeira mundial de 2008, por exemplo.
À época, o sistema financeiro americano praticamente “quebrou” por conta de um fenômeno de enorme inadimplência no mercado imobiliário, o que gerou uma crise de grandes proporções em todo o mundo.
Para tentar sanar os efeitos e não deixar o consumo cair, os Bancos Centrais de diversos países diminuíram as taxas básicas de juros, estabelecendo até mesmo valores abaixo de zero, estimulando a população a gastar em vez de deixar o dinheiro rendendo.
Essa é uma estratégia utilizada não apenas nos tempos de crise: atualmente, diversos países, como Japão e Suiça, oferecem títulos com taxas negativas com esse mesmo propósito.
Confira o patamar das taxas básicas de juros anuais de outros países:
Argentina: 38%
Austrália: 0,10%
Brasil: 6,25%
China: 3,85%
União Europeia: 0,0%
Dinamarca: – 0,35%
Estados Unidos: 0,0%
Japão: – 0,10%
México: 4,50%
Reino Unido: 0,10%
Rússia: 6,75%
Suíça: – 0,75%
Turquia: 18,00%
Qual a lógica de investir em títulos com juros negativos?
Perder menos. Uma vez que os bancos europeus e japoneses cobram taxas para manutenção de contas correntes (mesmo sem movimentação), é mais barato investir do que deixar o dinheiro parado.
Esse é ainda um cenário difícil de imaginar no Brasil. Atualmente, a nossa taxa básica de juros (Selic) está em ciclo de alta.
Na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), responsável por definir a meta da Selic, foi definido que a taxa ficaria em 6,25% ao ano, mas especialistas consultados pelo relatório Focus (também do Banco Central) acreditam que ela deve ultrapassar os 8% a.a. até o final de 2021.