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XP: varejo surpreende positivamente com Black Friday fraca, inflação pressionada e renda deprimida

Setor cresceu 0,6% na passagem de outubro para novembro, acima das expectativas da XP que esperava recuo de 0,8% e do consenso de mercado que previa queda de 0,4%

- Marcello Casal Jr/Agência Brasil
- Marcello Casal Jr/Agência Brasil

As vendas no varejo ampliado cresceram 0,6% entre outubro e novembro, o que foi uma surpresa positiva, diz a XP, que esperava recuo de 0,8% mês a mês. O consenso de mercado previa queda de 0,4% na mesma base de comparação.

Esse resultado interrompeu uma sequência de três quedas mensais consecutivas. A diferença entre a projeção da XP e o resultado efetivo deveu-se sobretudo ao desempenho mais forte das vendas de “materiais de construção” (0,8% ante outubro, após cinco recuos seguidos na margem) e “outros artigos de uso pessoal e doméstico” (2,2% ante outubro, o segundo avanço consecutivo), disse Rodolfo Margato, economista da XP.

Na comparação com novembro de 2020, as vendas do comércio ampliado exibiram queda de 2,9% (XP: -6,5%; consenso: -6,1%).

Enquanto isso, as vendas do comércio varejista restrito – exclui veículos, motocicletas, peças automotivas e materiais de construção – tiveram expansão de 0,6% entre outubro e novembro, também uma surpresa positiva à XP e ao consenso de mercado (-0,2% e 0,0%, respectivamente).

Em relação a novembro de 2020, o varejo restrito contraiu 4,2% (XP: -5,9%; consenso: -5,6%).

As vendas reais no varejo ampliado mostraram declínio de 2,9% no trimestre móvel encerrado em novembro em comparação aos três meses imediatamente anteriores, após ajuste sazonal (de -3,8% na média móvel trimestral até outubro), ao passo que as vendas no varejo restrito apresentaram decréscimo de 2,3% na mesma métrica (de -3,0% na leitura anterior).

Por sua vez, o efeito de carrego estatístico – assumindo taxa de variação nula em dezembro – para o desempenho do varejo ampliado no 4º trimestre corresponde a -2,1% em relação ao 3º trimestre; para o varejo restrito, a XP estima uma herança estatística de -1,4%.

Em relação aos dados desagregados, cinco dos dez segmentos varejistas acompanhados pela PMC exibiram crescimento das vendas reais entre outubro e novembro, já descontados os efeitos sazonais.

“Além dos bons números registrados nos agrupamentos de materiais de construção e outros artigos de uso pessoal e doméstico, destacamos o aumento das vendas de supermercados (0,8% m/m) e veículos, motocicletas e partes/peças automotivas (0,7% m/m, após contração acumulada de quase 2,5% nas duas leituras anteriores). No lado negativo, chamamos a atenção para o encolhimento das vendas de tecidos, vestuário e calçados (-1,9% m/m) e combustíveis e lubrificantes (-1,4% m/m)”, diz Margato.

A deterioração de fundamentos de consumo e problemas em cadeias de suprimentos (disponibilidade de produtos) estão por trás desta avaliação sobre a última Black Friday, com um desempenho mais fraco, avalia o economista.

“Em nossa visão, as atividades varejistas têm sido prejudicadas pela inflação bastante pressionada, salários baixos, aperto das condições financeiras e deslocamento de maior proporção dos gastos das famílias do mercado de bens para serviços (na esteira da reabertura econômica). Logo, não interpretamos a surpresa positiva com o desempenho das vendas em novembro como um sinal de reversão de tendência”, diz Margato.

Margato avalia ainda que as estatísticas do mercado de crédito seguem sólidas, mas a acentuada elevação dos juros e o crescente comprometimento de renda das famílias tendem a arrefecer as concessões ao longo de 2022.

Por sua vez, a massa de renda disponível deve crescer de forma tímida este ano (ao redor de 1%), já que as contribuições positivas do maior nível de emprego e das transferências governamentais sob o programa Auxílio Brasil (que substituiu o Bolsa Família) serão compensadas, em grande medida, pelo fim dos pagamentos emergenciais relativos à Covid-19 e pela massa salarial real em patamares historicamente baixos.

Com isso, a XP projeta alta de 0,7% para as vendas do varejo ampliado em 2022, após retração de 1,4% em 2020 e recuperação de 4,5% em 2021.

Para o varejo restrito, por sua vez, anteveem ligeiro acréscimo de 0,3% no ano corrente (2020: +1,2%; 2021: +1,6%).  

“Esperamos aumento de 0,7% para o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) entre outubro e novembro. Com relação a novembro de 2020, a proxy mensal do PIB deve exibir alta de 0,4%. O IBC-Br será divulgado pela autoridade monetária na próxima 2ª-feira (17/01). Se nossa estimativa estiver correta, o efeito de carrego estatístico para a variação do indicador no 4º trimestre será de -0,2 p.p.”, pontua.

Por fim, a XP espera crescimento de apenas 0,1% para o PIB do 4º trimestre ante o trimestre imediatamente anterior (expansão de 1,0% em comparação ao 4º trimestre de  2020). O PIB total, segundo a corretora, deve registrar elevação de 4,4% em 2021. Para o PIB de 2022, por sua vez, estima estabilidade (0%).

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