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Humberto Mariano

Economista e Diretor AETQ de Fundo de Pensão Privado.

O Governo pode fazer mais

Aqui no Brasil, nos Estados Unidos e em todo o mundo capitalista as coisas funcionam da mesma forma. Tanto faz um ou outro governante, deste ou daquele partido; são as condições macroeconômicas (produto, renda, consumo, investimento e emprego) que vão det

11 novembro 2020 - 15h22
O Governo pode fazer mais

“Ainda que persistam as limitações impostas pela ordem global e pelo modelo prevalente nas economias capitalistas, de longe ainda o melhor disponível, é preciso que os governantes trabalhem para recuperar não apenas a capacidade de investimento, mas, sobretudo, a confiança e a parceria da sociedade no enfrentamento das grandes questões de nosso tempo: o fosso entre ricos e pobres e as mudanças climáticas”. 

Para os que se preocupam com a questão de quem será o próximo presidente dos Estados Unidos, o pior já passou. Mesmo com um cesto de ações chegando aos tribunais, é certo de que teremos posse em Washington no dia 20 de janeiro. 

É mais provável que o empossado seja Joe Biden, embora isso não possa ser, por ora, cravado. Seria muito estranho acompanhar um segundo mandato de Trump obtido no tapetão, embora isso jamais o envergonhasse. Aliás, Trump não se envergonha por pouco. 

Estou entre os brasileiros, que veem há décadas o Brasil significar quase nada para os presidentes americanos, sejam eles democratas ou republicanos. Portanto, alinhar-se a essa ou aquela candidatura reflete mais posições ideológicas individuais do que preocupação com os interesses nacionais. Há mais diferenças de caráter entre Biden e Trump do que de ideologia. Isso não é pouco, mas não é para nos deixar muito animados.

O que me diverte são as reações do mercado financeiro. Até o final de outubro o mercado fazia os tolos acreditarem que temia Biden. Com o democrata na dianteira, vaticinavam problemas para as empresas, via aumentos de impostos e legislação antitruste. Com isso, derrubavam as cotações de ações e títulos para baixo e os compravam de neófitos e desinformados investidores. 

Novembro chegou, Biden confirmou a vantagem, tem grandes chances de ser empossado e, subitamente, o mercado não o vê mais como hostil. Ao contrário, louva-lhe a sobriedade e o comedimento e eleva as cotações para vender aqueles mesmos títulos e ações àqueles mesmos investidores. Seria cômico se não fosse trágico.

Aqui no Brasil, nos Estados Unidos e em todo o mundo capitalista as coisas funcionam da mesma forma. Tanto faz um ou outro governante, deste ou daquele partido; são as condições macroeconômicas (produto, renda, consumo, investimento e emprego) que vão determinar sua linha de ação e fazê-lo cumprir, ou não, o programa de governo apresentado na campanha eleitoral.

Agendas de desenvolvimento

Já vai longe o tempo em que o setor público tinha maior controle sobre essas variáveis. A interdependência, a fluidez e a capilaridade do capital financeiro global, crescente desde os anos 1990, têm se sobreposto à vontade de qualquer governo e determinado o funcionamento das economias centrais e periféricas. Cada vez mais os governantes se voltam para agendas com temas morais, diante da sua impotência em controlar a economia. 

Entretanto, bons governos, a partir de modernos métodos de gestão e visão de futuro, ainda têm a capacidade de estabelecer agendas de desenvolvimento, nas quais o Estado tem o papel de indutor e regulador, cabendo à iniciativa privada a viabilização, realização e gestão dos equipamentos e serviços públicos ou privados resultantes do investimento. Infelizmente, não é o caso brasileiro até o momento. Até há pouco faltava-nos mais competência do que dinheiro. Agora faltam os dois, o que me traz à memória um dito de minha mãe: “em casa que não tem pão, todos briga e ninguém tem razão”. 

A solução, paradoxalmente, está na política. Mesmo com margens de manobra estreitas, dissemos acima que bons governos podem buscar e trazer bons resultados econômicos e, principalmente, sociais. É preciso que o Estado recupere capacidade de investimento nas áreas em que não pode ser substituído pela iniciativa privada. 

Da mesma forma, é preciso que, por meio da gestão de seu pessoal e de um modelo tributário mais distributivo e progressivo, proporcione mais e melhores serviços para a sociedade, em especial, para os menos favorecidos. Educação, Saúde, Emprego, Meio Ambiente, Justiça e Segurança Pública: essas são as demandas que importam aos brasileiros. O resto é retórica e fumaça.

A opinião e as informações contidas neste artigo são responsabilidade do autor, não refletindo, necessariamente, a visão da SpaceMoney.

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