Eleição norte-americana

Risco fiscal nos EUA? Trump e Harris ignoram dívida crescente e economistas se preocupam

Analistas apontam que propostas de gastos e cortes de impostos dos dois candidatos gerariam um aumento significativo da dívida norte-americana

AP Photo/Alex Brandon
AP Photo/Alex Brandon

Apesar do histórico aumento dos déficits e da dívida dos Estados Unidos da América (EUA), as campanhas do ex-presidente Donald Trump e da atual vice-presidente Kamala Harris não tem colocado a questão da redução do déficit fiscal no centro de suas propostas, mesmo com o risco da dívida superar, em breve, os níveis vistos durante a Segunda Guerra Mundial.

Esse cenário tem despertado preocupações entre economistas. Analises recentes dão conta de que as propostas de gastos e cortes de impostos tanto de Trump quanto de Harris gerariam um aumento significativo da dívida, maior que o registrado em ciclos eleitorais anteriores.

Brian Riedl, economista do Instituto Manhattan, destacou em artigo que, ironicamente, à medida que a crise da dívida se aproxima, o interesse por parte de políticos e eleitores diminui.

“Nos anos 1980 e 1990, déficits mais modestos dominavam os debates econômicos, levando a seis grandes acordos de redução do déficit que equilibraram o orçamento entre 1998 e 2001. Essa era já ficou para trás”, afirmou Riedl.

Inflação e juros em alta

Marc Goldwein, diretor sênior de políticas do Comitê para um Orçamento Federal Responsável (CRFB, na sigla em inglês), afirmou que os eleitores podem começar a sentir os efeitos da crescente dívida nos EUA à medida que os custos impactam suas finanças.

Ele destacou que a crise inflacionária vista em 2021 e 2022 foi impulsionada, em grande parte, pelos altos déficits. Estudos recentes mostram que uma fatia significativa da inflação durante esse período foi resultado direto dos gastos federais no pós-pandemia.

O impacto da dívida crescente vai além das finanças públicas. “Dívidas elevadas empurram as taxas de juros para cima”, explicou Goldwein.

Isso significa que o custo dos empréstimos para carros, empresas e imóveis aumenta, afetando diretamente os consumidores. “Os americanos veem isso todos os dias ao tentar comprar uma casa ou um carro”, afirmou.

Crescimento econômico em risco

Segundo analistas, a alta da dívida também pode desacelerar o crescimento econômico no longo prazo.

Isso porque, investidores que compram títulos do Tesouro dos EUA podem deixar de investir em projetos mais produtivos, o que limitaria o potencial de geração de empregos e de aumento da renda.

Nesse sentido, estudos recentes sugerem que 42% da inflação excessiva registrada até fevereiro de 2022 foi causada pelos gastos federais, e não pelos problemas da cadeia de suprimentos, segundo uma análise da State Street.

Isso eleva o risco de que o Federal Reserve tenha que manter as taxas de juros altas por mais tempo para controlar a inflação, o que poderia dificultar a recuperação econômica.

“Há um risco crescente de que o Fed tenha declarado a missão de combate à inflação como cumprida prematuramente”, alertou o analista Ed Yardeni.

Para Yardeni, com déficits fiscais superiores a 6% do PIB e o crescimento econômico girando em torno de 3% ao ano, manter a inflação sob controle pode ser mais difícil do que o esperado.

Sair da versão mobile