Sob desconfiança

O que o mercado financeiro pode esperar de Gleisi na SRI de Lula?

A escolha da deputada federal paranaense pegou de surpresa tanto setores do PT quanto parlamentares do Centrão

Divulgação
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A presidente do Partido dos Trabalhadores (PT), a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), assume nesta segunda-feira (10) a Secretaria de Relações Institucionais (SRI) do Palácio do Planalto.

A escolha da deputada federal paranaense pegou de surpresa tanto setores do PT quanto parlamentares do Centrão, que esperavam ocupar esse espaço para consolidar sua influência no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A função de Hoffmann, no entanto, vai ser muito mais que gerir a atual base aliada.

Com a experiência de ter conduzido alianças decisivas para a candidatura de Lula em 2022, a nova ministra vai ter a missão de fortalecer o governo e preparar o terreno para a disputa presidencial de 2026, garantir apoio partidário e evitar dissidências, informou o jornalista Guilherme Amado, do site Plato BR.

Dentro do PT, existe o consenso de que a manutenção da base governista não pode ser dissociada das estratégias eleitorais futuras.

Amado relembra que Gleisi Hoffmann demonstrou sua habilidade política em momentos-chave.

Em 2018, com Lula preso pela Operação Lava-Jato, coordenou a campanha presidencial petista e costurou uma coligação com apenas três partidos (PT, PCdoB e PROS), o que levou Fernando Haddad ao segundo turno com 31,30 milhões de votos (29,28% dos votos válidos).

Quatro anos depois, foi responsável por montar a maior aliança política da história de Lula, reuniu nove legendas (PT, PCdoB, PV, PSB, PSOL, Rede, Solidariedade, Avante e Agir) para derrotar o então presidente Jair Bolsonaro (PL) e garantir a volta do petista ao Palácio do Planalto.

No PT, a mudança foi vista como estratégica. Lula resolveu reforçar seu meio campo. Sabe que com ele não terá vacilo, afirmou um petista próximo ao presidente a Amado. Ela conduziu a campanha vitoriosa de 2022 depois de ter construído o que era possível naquela situação de 2018, completou.

Com a chegada de Gleisi à SRI, uma das prioridades imediatas seria neutralizar resistências de setores desconfortáveis com a gestão petista e evitar que partidos aliados desembarquem do governo, diz Amado.

Desde que foi anunciada como nova ministra, ela iniciou contatos com lideranças do Congresso Nacional, em especial da Câmara dos Deputados, para estabelecer pontes de diálogo.

Lideranças governistas avaliam que, embora seja cedo para garantir apoio futuro, a relação entre o Palácio do Planalto e os partidos vai ser construída progressivamente. Não se pode adiantar esse apoio, mas claro que a relação será construída ao longo do tempo, explicou um parlamentar aliado.

A escolha de Gleisi para a SRI também representa um resgate de sua importância no governo.

Após coordenar a transição presidencial em 2022, era esperada sua nomeação para um ministério de peso. No entanto, Lula optou por mantê-la à frente do PT e frustrou aliados que a viam como nome natural para a Casa Civil. Na época, Lula justificou: “ Eu penso que ela tem que ficar na presidência do PT”.

Agora, o presidente parece ter revisto sua decisão. Em sua última entrevista no Planalto, fez questão de exaltar Gleisi: A companheira Gleisi já foi ministra chefe da Casa Civil da Dilma. Eu estava preso, e fui um dos responsáveis pela companheira Gleisi virar presidenta do nosso partido. Politicamente, tem pouca gente nesse país mais refinado que a Gleisi.

Desde a posse de Lula em janeiro de 2023, Hoffmann vocalizou uma ala do PT mais à esquerda, mais aguerrida em relação ao mercado financeiro e contra o liberalismo. A parlamentar não se poupou em tecer críticas mais contundentes ao aumento da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central (BC) e a ajustes e cortes de gastos implementados, além de regramentos como o arcabouço fiscal – uma das principais bandeiras ddo ministro da Fazenda e seu correligionário, Fernando Haddad (PT).

Agora, o mercado financeiro observa se as forças rearranjadas no governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenderão mais à esquerda, em benefício da ala mais “desenvolvimentista” e menos “fiscalista”.

As informações são de Metrópoles e Plato BR.

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