terça, 23 de abril de 2024
IPCA

Preço da carne bovina não deve impactar cenário de inflação para 2020

22 novembro 2019 - 15h59Por Tiago Tristão
Foi divulgado hoje (22) o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que é uma prévia da inflação oficial. O índice subiu 0,14% em novembro, menor resultado para o mês desde 1998, quando a taxa variou negativamente 0,11%. Em 12 meses, o IPCA-15 acumula alta de 2,67%, valor abaixo dos indicados nos 12 meses anteriores, que foi de 2,72%. No acumulado do ano, apresenta uma alta de 2,83%. Projetamos o IPCA com uma alta de 0,38% para o mês de novembro (o IBGE divulgará o dado oficial dia 6 de dezembro), o que implica em uma taxa interanual de 3,14%.   Houve leve aceleração puxada pelo grupo Transportes (subiu 0,30%), impactado pelo aumento da gasolina e do etanol em novembro. Alimentação e bebidas apresentaram ligeira alta no índice de novembro (de 0,06%), após três meses consecutivos de deflação. O destaque positivo foi o grupo Carnes, que subiu 3,08%, e deve apresentar altas expressivas nos próximos meses devido à demanda chinesa. Desde junho a inflação medida pelo IPCA-15 permanece bem-comportada e estável, com média de 0,09% (taxa anualizada de 1,1%).

Propagação da inflação de carne bovina no IPCA

Os preços da carne bovina têm apresentado sucessivos aumentos no atacado, segundo dados coletados da CEPEA-ESALQ/USP. O preço do boi era de R$ 227,40 por arroba (15 quilos) no dia 21 de novembro, o que representa uma variação de 38,7% no s últimos 30 dias. Essa alta está relacionada ao aumento da demanda chinesa. Desde 2018 a China enfrenta problemas de produção devido à peste suína africana. As exportações de carne bovina para a China subiram 24% de janeiro a outubro e a alta demanda chinesa eleva o preço da carne (as unidades habilitadas para a exportação para a China subiram de 16 para 40 nos últimos 9 meses, segundo dados da Associação Brasileira de Frigoríficos). Para avaliar os efeitos de um choque no preço das carnes sobre o IPCA utilizamos um modelo de vetor autoregressivo (VAR), seguindo a mesma metodologia empregada pelo Bacen para avaliar a propagação da inflação de alimentos no IPCA. O choque no preço da arroba do boi impacta, em um primeiro momento, os preços do grupo "Carnes", depois se propaga para os grupos de "Alimentos Industrializados", e "Refeições” (alimentação fora de casa). A função de resposta ao impulso do choque de um ponto percentual no preço da arroba do boi sobre esses grupos do IPCA é apresentada no gráfico abaixo.   A estimativa pontual indica que o aumento de 1% no preço da arroba resulta em um efeito acumulado de 0,39% no grupo "carnes" (após 3 meses), 0,17% no grupo "Alimentos industrializados" (após 5 meses), e de 0,05% no grupo "Refeições" (após 4 meses). Ponderando os efeitos acima pelo peso dos respectivos grupos no IPCA, temos que o índice, no total, sofre um efeito acumulado de 0,012%. Os maiores repasses se dão entre 30 e 60 dias após o choque no preço do atacado.