sábado, 27 de abril de 2024
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Pretos e pardos são minoria entre investidores e maioria entre empreendedores

19 novembro 2019 - 19h18Por Renan Sousa

Quando você imagina alguns investidores, o que vem à sua cabeça? E quando se pensa em empreendedores? Quem são essas pessoas que movimentam a bolsa e os mercados? Pensando no dia da Consciência Negra e onde estão as pessoas pretas e pardas na economia brasileira, a Spacedica de hoje vai falar sobre o perfil dos investidores e dos empreendedores, mas de uma maneira diferente.

Perfil dos investidores

Não existem dados exatos sobre a porcentagem de negros investidores no mercado financeiro. A maioria das pesquisas leva em conta gênero, quantidade de dinheiro investida e metas, como comprar um carro ou uma casa. A partir disso, é possível traçar um perfil baseado em informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), do site da B3, a bolsa brasileira, e da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Gênero e região

Essas entidades estimam que 42% dos brasileiros têm produtos de investimento, tanto em renda variável quanto em renda fixa. A maioria dos investidores se identifica com o gênero masculino (55%) e se concentra na região Sul (20%) e na região Sudeste (51%), onde 78% e 55% da população se autodeclaram como brancos, respectivamente.

Classe social do Investidores

Pensando que são as duas regiões mais ricas do Brasil, vemos que pessoas que declararam ser da classe A e B são as que mais aplicam na bolsa, e dos 10% mais ricos do grupo, 70% são brancos e têm renda acima de R$ 8.000 per capita.

Do outro lado

Em contrapartida, pessoas pretas e pardas representam 27,7% dos mais ricos, mas são maioria nas classes C, D e E, que vivem com renda familiar entre R$ 1.800 e R$ 8.000. Representam 75% entre os 10% com menor renda, apesar de serem 56% da população brasileira.

Qualificação do Investidores

No momento de competir com pessoas brancas, os pretos e pardos costumam ter desvantagem também: enquanto a porcentagem de negros com ensino superior é de 6,6%, entre os brancos a taxa é dobrada (12,8%), e, antes de chegar à faculdade, apenas 4 em cada dez negros terminam o ensino médio.

Empréstimos

Na população mais afetada pela crise econômica, os inadimplentes são maiores, em número, nas regiões Sul e Sudeste, nas classes C, D e E, que somam 93,3% dos devedores, em comparação a 6,7% da A e B, muito porque essa população é a que mais sofre com desemprego e subemprego.

Conclusões

Se pensarmos em quem é o investidor brasileiro, encontraremos um perfil mais comum: a pessoa branca, da classe alta, que não toma empréstimos e provavelmente mora na região Sul ou Sudeste. O mercado financeiro exclui, em geral, 58% da população brasileira. Apesar disso, segundo Dirlene Regina da Silva, Economista e Mestre em Gestão de Negócios pela Universidade de Poitiers, o mercado financeiro era muito mais distante das pessoas, no início dos anos 1990. “A bolsa é uma democratização da forma de investir. É uma evolução para o país que as pessoas tenham acesso e conhecimento sobre algo que somente uma elite tinha acesso”, comenta.

Empreendedorismo negro

O negros são os que mais empreendem no Brasil, totalizando 14 milhões de empreendimentos próprios. Mas, apesar de terem o crédito rejeitado três vezes mais do que brancos, segundo dados do Sebrae. Em especial, mulheres pretas e pardas formam uma “maioria invisível” no país, apesar de movimentarem aproximadamente R$ 704 bilhões por ano. Mas contratar pessoas negras também tem suas vantagens. Dados de 2018 estimam que para cada aumento de 10% em diversidade racial no empreendimento, há um aumento de 0,8% no lucro, antes dos juros e impostos. E que empresas com uma diversidade étnica maior tendem a ter resultados financeiros 35% acima da média do mesmo setor.

O mercado, pelos negros

Para o coordenador do Núcleo de Estudos e Observação em Economia Criativa da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Juarez Tadeu de Paula Xavier, existem pontos que devem ser pensados ao se falar em empreendedorismo negro ou, como ele chama, etnoeconomia. “Em primeiro lugar, ele [o empreendedorismo] nasce da escassez, não do excesso. Como não tem um projeto, uma compreensão de logística, é a área que mais abre, mas também é a que mais fecha”. Segundo Juarez, existe uma falta de políticas públicas que permitam o negro se perpetuar no mercado. Para ele, é preciso tirar as pessoas pretas e pardas da condição de “economia de escassez”. Onde a única opção é abrir um negócio, e colocá-la no “projeto de consumo e investimento”. “Quando você usa parte do seu lucro pra comer, você perde poder ganho daquele dinheiro”, comenta. Ele dá o exemplo dos anos 1980, em que diversas escolas de samba surgiram como forma de incentivar e perpetuar a cultura negra. Mas, segundo ele, “era conteúdo negro, feito por negros, para negros. No momento em que foi inserida em um circuito maior da economia, atraindo viajantes, movimentando multidões, ele embranqueceu, perdeu suas raízes”. A economista Dirlene da Silva faz uma colocação parecida. “A educação financeira é importantíssima. Acredito que, daqui um tempo, deva ser uma disciplina obrigatória nas escolas”, conclui.