Após a divulgação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de agosto na última quinta-feira (9), em que foi reportada alta de 0,87% ante julho, a XP Investimentos revisou para 8,4% a projeção para a inflação ao fim de 2021, ante 7,7% estimado em relatórios anteriores.
Segundo o material assinado pelos economistas Caio Megale e Tatiana Nogueira, o principal desvio em relação às expectativas da XP foi encontrado nos combustíveis veiculares (0,08%) e os demais 0,14% se espalharam entre os demais itens, o que revela uma dinâmica mais desafiadora para a inflação no curto prazo.
“Ao incorporar apenas a surpresa na nossa projeção, impacto seria +0,22pp”, alegam.
IGP-DI
A revisão ainda incorpora os dados do IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna) divulgados na última quarta-feira (8), que, segundo os economistas, revelou pressão ainda mais forte nos preços ao produtor com correspondência no IPCA tanto para bens industriais, quanto alimentos, que devem se traduzir em repasses mais altos já em setembro.
“Já enxergamos essa elevação nas coletas de alta frequência de preços de alimentos (FGV) e combustíveis (ANP)”, dizem. A corretora ressalta que a inflação mais alta este ano gera uma inércia maior para 2022, e coloca um risco de alta na projeção da casa, de 3,7% para 2022.
“Por outro lado, estamos fazendo uma revisão mais abrangente do cenário – para incluir os últimos desdobramentos políticos e econômicos – que provavelmente incluirá uma reação mais intensa do Banco Central”, apontam.
Riscos fiscais
Os economistas explicam que uma inflação mais alta acarreta em mais gastos públicos futuramente. Isso porque parte das despesas obrigatórias do governo central é indexada à inflação do ano anterior; em particular, os benefícios sociais.
De acordo com o Tesouro Nacional, a cada 1 pp de aumento da inflação do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), os gastos públicos aumentam em R$ 8 bilhões
Na proposta orçamentária do governo enviada ao Congresso em agosto, a previsão de inflação do INPC para 2021 foi de 6,2%. A XP, agora, projeta o INPC 2021 em 8,6%.
“Assim, tudo mais constante, as despesas obrigatórias devem ser R$ 19,0 bilhões acima do que está contemplado na proposta de orçamento do governo, comprimindo outras despesas (uma vez que as despesas totais são limitadas pelo teto constitucional)”, apontam.
Megale e Nogueira ressaltam ainda que o orçamento enfrenta os outros problemas, compromissos políticos importantes assumidos pelo governo, como o aumento do programa Bolsa Família (mudado para Auxílio Brasil) e as emendas de relator, que não constam do projeto atual. E consideram provável que o programa de desoneração setorial da folha de pagamento seja estendido.
PEC dos Precatórios
O problema orçamentário pode ser endereçado com a aprovação da PEC dos Precatórios ou outra solução similar que permita ao governo postergar parte das despesas anuais com decisões judiciais e reduza outras despesas discricionárias, segundo Megale e Nogueira.
Entretanto, os economistas avaliam que as chances de aprovação diminuíram após as manifestações de 7 de Setembro, e a medida exigiria boa coordenação entre o Poder Executivo, o Judiciário e o Congresso Nacional.
“Um orçamento irrealista, em meio a turbulências políticas, é o principal risco para o cenário econômico daqui para frente”, concluem.