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Lula critica juros altos, quer rever venda da Eletrobras (ELET3) e critica dividendos da Petrobras

Durante sua primeira entrevista ao vivo como presidente da República pela terceira vez, petista afirmou que a divulgação do novo marco fiscal deve ser adiada para quando retornar da China

Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente eleito - Rovena Rosa, para a Agência Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), presidente eleito - Rovena Rosa, para a Agência Brasil

Em sua primeira entrevista ao vivo desde que assumiu a presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a criticar a manutenção da taxa básica de juros Selic em 13,75% ao ano. 

“Eu, sinceramente, acho um absurdo. E acho engraçado que o sistema financeiro e alguns editorialistas de jornais achem ruim que a gente critique”, comentou. “Não há razão lógica. Só quem concorda o sistema financeiro, que sobrevive e vive disso e ganha muito dinheiro com especulação”, complementou.

Aos jornalistas do site Brasil 247, reiterou ter responsabilidade e afirmou que seus governos anteriores foram corretos no controle de gastos públicos. Aos críticos da visão mais desenvolvimentista de seu governo, ele alegou que irresponsabilidade seria “vender a Petrobras (PETR3)(PETR4) para pagar a dívida externa, por exemplo”.

“Desde o meu primeiro mandato, lá em 2003, com o [Antônio] Palocci [ex-ministro da Fazenda], eu proibi usar a palavra gasto pra falar em educação. Você fala em investimento! Por que você deveria falar gasto em saúde? O que custa para um país uma pessoa sã no trabalho normalmente e uma pessoa doente?”, comparou.

Juros

A partir desta terça-feira (21), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) inicia o primeiro de dois dias de reuniões para a decisão de política monetária sobre a taxa básica de juros Selic, que está em 13,75% ao ano.

Lula desinterditou o debate sobre o patamar dos juros ao criticar aberto a posição de Roberto Campos Neto, presidente da autoridade monetária.

Consecutivamente, políticos influentes como o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), também ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, e o presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, engrossaram as críticas, como fizeram em evento no Rio de Janeiro na última segunda-feira (20).

Para o presidente, Roberto Campos Neto não tem compromisso com a lei de autonomia do órgão. nao tem compromisso com a lei que traz autonomia à autarquia. “A lei diz ser preciso cuidar da inflação e do emprego, coisa que ele não se importa”, enfatizou.

O petista sinalizou que vai continuar a brigar pela redução da taxa de juros, independentemente do que for decidido amanhã e do tom do comunicado do comitê.

Em defesa de Fernando Haddad

Lula fez, ainda, a defesa de Fernando Haddad à frente do Ministério da Fazenda.

“Ele já tem muita política na cabeça e competência para fazer o que já foi feito. Ele convive com um segmento da sociedade que eu não convivo. Ele tem obrigação de conversar com banqueiros, investidores e precisa fazer as coisas com cuidado. Ele pensa igual ao governo e não existe problema nenhum dele com o PT ou com o governo. Eu tenho certeza que ele vai ajudar a resolver o problema da economia desse País. Eu tenho profundo respeito por ele.”

O arcabouço fiscal pode esperar

O presidente sinalizou, ao contrário do que era especulado, que a apresentação do novo arcabouço fiscal deve ser feito após o término da viagem da comitiva à China.

O petista alegou que causaria estranheza divulgar o novo plano e sair em viagem logo em seguida e disse ser necessária a presença de Fernando Haddad para explicar suas diretrizes.

Eletrobras (ELET3)(ELET6): reestatização a caminho?

Lula comentou sobre a privatização da Eletrobras (ELET3)(ELET6) concretizada no ano passado e categorizou a operação de venda como um crime de lesa-pátria.

“Eles venderam por R$ 36 bilhões, esse dinheiro utilizado para pagar a dívida pública. Não existe sinais de que vai baixar o preço da energia para o povo brasileiro. E fizeram uma loucura: embora o governo tenha 40% das ações, participa das discussões apenas com 10% e se quiser comprar papéis, teria que pagar o triplo que seria desembolsado por uma empresa comum”.

“Não vai ficar por isso. Vamos entrar na Justiça em relação a isso. O salário dos diretores aumentou. O cidadão que está no conselho ganha R$ 200 mil para participar de uma reunião por mês”, indignou-se.

Petrobras (PETR3)(PETR4): dividendos sob ataque

“[A Petrobras] não pode ser uma empresa vendedora para ter um lucro de R$ 200 bilhões e distribui-lo aos acionistas minoritários, quando metade desse dinheiro poderia ser investimento em salário para pesquisar novas fontes de energia, petróleo. É um absurdo”, afirmou o presidente.

Relações com outros países

Lula anunciou que pretende remontar a embaixada brasileira na Venezuela e enfatizou que as relações com a Rússia são importantes. O presidente relembrou que o País condenou a invasão russa em território ucraniano e que agora seria preciso encontrar alguém que fale em paz. Todo mundo ficou envolvido direta ou indiretamente na guerra.

O petista adiantou que vai conversar sobre o conflito com o presidente chinês Xi Jiping.

“Primeiro se para a guerra e depois conversa para ajustar o que seria preciso para haver paz entre os dois países. Eu acho que foi uma boa novidade o presidente chinês ter ido até lá e acho que o Brasil pode dar uma contribuição extraordinária para finalizar tudo isso e termos paz”, declarou.

Instituições

Lula considera que os esforços de seu governo para normalizar o papel das instituições são positivos, sobretudo sobre um possível alinhamento das Forças Armadas com o governo anterior do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os reflexos dos atos golpistas de 8 de janeiro.

O presidente declarou que militares serão tratados com respeito, mas não como seres humanos diferenciados. O petista confessou ainda que, em sua cabeça, tem a ideia de que a invasão às sedes dos Três Poderes estava planejada para o dia de sua posse, mas que houve desistência em razão da grande quantidade de pessoas presente na cerimônia.

“Pela Constituição brasileira, sou o chefe supremo das Forças Armadas. Todas as pessoas que participaram daquela manifestação de golpe serão punidos. O cidadão que inventou de quebrar coisas e pode vir a ser um sargento ou coronel vai ser punido. Tenho a palavra das três Forças para despolitizá-las. Temos um interesse de enviar um projeto de lei para quem quiser ser candidato ir à reserva. As Forças Armadas têm o compromisso de garantir a soberania e a integridade do nosso território e precisam atender ao presidente da República independentemente do partido.”

Indicações para o STF

Lula foi questionado pelos jornalistas sobre as próximas indicações para o Supremo Tribunal Federal (STF), à medida que as especulações dão conta de que Cristiano Zanin, seu advogado em processos que o petista enfrentou no âmbito da Operação Lava-Jato, seja o nome sugerido. 

O petista, entretanto, relembrou que não indicou nenhum amigo seu em governos anteriores e reiterou que, se pudesse voltar no tempo, faria as mesmas nomeações.

“Eu não quero um amigo, alguém do PT e sim alguém competente para exercer. Ele [Zanin] foi a grande revelação jurídica desses últimos anos, embora tenha sido muito criticado por não ser criminalista. Mas sabe o que acontece? Eu tinha consciência de que o meu processo era político e por isso eu o quis. Porque as decisões políticas eu tomava. Ele nunca tomou uma decisão em que ele não fosse na cadeia conversar comigo.”

O presidente disse que vai tomar sua decisão sozinho, que não tem compromissos e que, no momento oportuno, vai indicar o nome ao Senado Federal, com o preceito de que vai julgar a pessoa qualificada para ajudar o Brasil.

Neste ano, serão compulsoriamente aposentados os ministros Ricardo Lewandowski e Rosa Weber, respectivamente.

PGR

Sobre a Procuradoria-Geral da República (PGR), o presidente adiantou que não vai escolher nenhum nome da lista tríplice e classificou a força-tarefa da Operação Lava-Jato como um bando de moleques e atribuiu a seus membros a decisão de não respeitar a convenção. Eles jogaram fora a lista tríplice”, afirmou.

Harmonia entre os ministérios

O presidente declarou estar satisfeito com seus ministros, apesar das últimas derrapadas de ministros como Carlos Lupi (Previdência Social) e Márcio França (Portos e Aeroportos). “As pessoas estão com uma vontade de trabalhar, todo mundo quer acertar”, justificou, quando questionado sobre a antecipação dos chefes das pastas em anúncios que não teriam passado pelo crivo da Casa Civil.

A pasta tem o comando do ex-governador baiano Rui Costa (PT), a quem Lula elogiou como sua “Dilma de calças”. 

O programa “Voa Brasil”, anunciado por Márcio França, pode oferecer passagens aéreas subsidiadas a R$ 200 reais para determinadas faixas da população, mas sua formatação dependia de um conjunto de outros setores do governo federal. 

Já Carlos Lupi antecipou-se no que diz respeito à decisão do CNPS (Conselho Nacional da Previdência Social) em reduzir a taxa máxima de juros do empréstimo consignado para beneficiários do INSS. A mudança no limite máximo de juros foi feita a pedido do ministro.

Lula relembrou que, para a medida não causar tanta polêmica, era preciso ter chamado os bancos para conversar.

Confira a entrevista completa: