O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reconheceu os esforços do Ministério da Fazenda na elaboração do arcabouço fiscal, ressaltando que a equipe demonstra preocupação com a trajetória da dívida pública.
Em coletiva de imprensa sobre o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) nesta quinta-feira (30), Campos Neto afirmou que ainda não chegou a analisar a nova regra fiscal, mas que o BC irá incorporar as projeções dentro de sua própria estratégia no controle de inflação e flutuação do cambio.
O diretor do Banco Central, Diogo Guillen, afirmou que não existe uma relação mecânica entre a regra fiscal e o controle da inflação, mas que o canal de expectativas é o que traz o maior impacto dentro dessa cesta de estratégias.
No RTI divulgado na manhã desta quinta-feira (30), o BC elevou sua estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2023, de 1,0% para 1,2%.
No relatório, foi mantida a estimativa para a expansão da agropecuária de alta de 7,0%. A revisão para a indústria foi de variação 0 para 0,3%. No caso dos serviços, o BC mudou a previsão de crescimento de 0,9% para 1,0%.
Nova alta de juros em 2023?
Quando perguntado sobre o comunicado do Copom na última decisão de juros, em que não foi descartada a possibilidade de uma nova alta de juros em 2023, o presidente do BC reiterou que existe agora uma "politização" do texto da autoridade.
Neste sentido, ele afirmou que a possibilidade já existia desde o comunicado de novembro e que o trecho em questão está ligado às projeções da autoridade.
Para Campos Neto, não haveria sentido retirar a hipótese, tendo em vista a piora de expectativas inflacionárias do próprio Boletim Focus. Ele reiterou que a decisão do Copom é técnica e baseada em diversas variáveis.
Crise dos bancos
No último comunicado do BC, a autoridade já havia demonstrado uma preocupação com o cenário externo se deteriorando, principalmente no que diz respeito à crise de bancos na Europa e nos Estados Unidos.
Na coletiva, os membros da autarquia voltaram a citar essa preocupação. No entanto, apesar de ser um sinal de alerta, Campos Neto acredita que o crédito no Brasil não será impactado de forma tão forte por esses fatores.
Ele afirmou ainda que o sistema bancário brasileiro está extremamente capitalizado, mas que existem modalidades de crédito que preocupam, citando como exemplo o caso da Americanas (AMER3) e suas debêntures.
"Entendemos que existe um processo de desaceleração de crédito, que é próximo ao que esperavamos, mas é importante ficar vigilante ao tema", ressalta.
Campos Neto pontuou que no caso de problemas de liquidez advindas deste tema, o BC está preparado para agir no controle da situação.