SpaceNews

Copom: corte na Selic pode ficar só para setembro, admitem analistas

Especialistas citam falta de sinalização mais contundente de que os juros podem ser reduzidos na próxima reunião do Comitê

- Antônio Cruz/Agência Brasil
- Antônio Cruz/Agência Brasil

O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou, na última quarta-feira (21), a manutenção da taxa básica de juros Selic em 13,75% ao ano. A decisão veio em linha com o consenso do mercado financeiro, mas o tom duro do colegiado em comunicado subsequente frustrou as expectativas de investidores.

Em documento,  ao avaliar o processo de desinflação no Brasil, o comitê defendeu ser preciso ter "paciência" no controle dos preços e não deu sinalizações mais contundentes de que possa cortar juros em sua próxima reunião, a ser realizada em agosto.

No texto, o Copom informou que "o ambiente externo se mantém adverso" e que "os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, inclusive com a retomada de ciclos de elevação de juros em algumas economias".

Nesse sentido, a SpaceMoney traz as opiniões de oito analistas sobre a decisão do Banco Central (BC). Veja abaixo:

Para Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe de Warren Rena, "o comunicado buscou conter um excesso de otimismo do mercado com relação à trajetória de queda da Selic".

O analista destaca que o comitê não explicitou um maior conforto com a evolução recente da inflação. No comunicado, a autoridade monetária citou que a inflação acumulada em doze meses vai subir ao longo do segundo semestre e apontou que as medidas de núcleos seguem acima do intervalo compatível com a meta de inflação, sem apontar a abertura benigna das últimas leituras.

O executivo analisa que, em outras palavras, de forma sutil, o Copom não se compromete mais com a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado.

"O comunicado mudou o tempo verbal. Enquanto antes apontava que avaliaria se ela seria capaz para assegurar a convergência da inflação, agora afirma que a estratégia tem se mostrado adequada", pontua Goldenstein. 

A Warren Rena segue com o call de que o Comitê vai iniciar o processo de flexibilização monetária com um corte de 0,25 p.p. em agosto, e acelerar para reduções de 0,50 p.p. nas reuniões subsequentes do ano, com a Selic em 12% ao fim deste ano e, em 2024, aos 9,50%.

Marianna Costa, economista-chefe da TC Investimentos, projeta as mesmas expectativas para as reuniões remanescentes deste ano. 

A executiva vê que o ciclo de queda deve continuar ao longo dos dois primeiros trimestres de 2024, com cortes consecutivos de 50 pontos, o que deve trazer a taxa Selic para perto de 10% em meados do ano, mas não fez estimativas para o fim do próximo ano.

Gondestein avalia que a projeção de inflação no cenário de referência vai continuar em declínio, "em função de provável revisão adicional baixista do IPCA para 2023 e da perspectiva de continuidade do movimento de declínio das expectativas de inflação".

De acordo com o estrategista-chefe, a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) – formado por Roberto Campos Neto (presidente do Banco Central), Fernando Haddad (ministro da Fazenda) e Simone Tebet (ministra do Orçamento) – sobre a meta de inflação vai ser fundamental para a redução das incertezas e do desvio das expectativas em relação à meta.

Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante, declarou que Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central (BC) e os demais membros do Comitê de Política Monetária (Copom), "seguem a escola de Tomé". 

"[Eles] querem ver uma queda consistente dos índices de inflação e uma ancoragem das expectativas do mercado antes de se comprometerem com um corte na taxa Selic", comentou.

Segundo o analista, as atenções se concentrarão nas expectativas para a divulgação da ata do comitê, a ser divulgada na próxima terça-feira (27), "para saber quais as crenças do BC e sua avaliação sobre a taxa de juros neutra para a economia".

Na avaliação de Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero, "o colegiado moderou silenciosamente o tom, por exemplo, ao reduzir a incerteza acerca do arcabouço fiscal a "residual"e eliminar o cenário alternativo, presente nas divulgações desde fevereiro deste ano".

De acordo com o analista, antes projetava-se a inflação considerada a Selic constante em 13,75% ao longo de todo o horizonte relevante.

"Caso os formuladores de política monetária anunciem a primeira redução da Selic em agosto, vai ser em intensidade inferior ao projetado pelo mercado" aposta van Moorsel.

Já Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, aposta que "devemos ter a manutenção da Selic na próxima reunião em agosto, em que deve haver a sinalização de quando o corte pode ocorrer".

Ao que tudo indica e como não houve sinalização neste comunicado, o executivo acredita que o corte se dê muito provavelmente na reunião de setembro.

"O Copom está bem assertivo no discurso e não vai mudar agora", complementou.

André Meirelles, diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart, destaca que "o comitê retirou do comunicado trechos importantes, como, por exemplo, a frase que dizia não hesitar em retomar o ciclo de ajuste nos juros, caso o processo de desinflação não transcorra como esperado".

Destaque semelhante fez a Órama Investimentos, em relatório assinado pelo estrategista-chefe Alexandre Espirito Santo e por Eduarda Schmidt, analista de macroeconomia. 

Eles fazem a leitura de que uma redução de 0,25 p.p., para 13,50% a.a., deve ocorrer   "muito possivelmente"  no encontro de agosto.

Além disso, foi removido o parágrafo que dizia que não necessariamente o lançamento do novo arcabouço fiscal levaria a queda dos juros, apesar de incluir em seu balanço de riscos que as incertezas sobre o projeto ainda têm impacto sobre a percepção de inflação. 

Para a reunião entre Fernando Haddad, Roberto Campos Neto e Simone Tebet, esperam que seja discutida algum tipo de alteração nas metas de inflação.

Espírito Santo e Schmidt creem ser provável a alteração do período e passar a prazos mais estendidos, a chamada meta contínua, no lugar do "ano calendário", como ocorre em muitos países.

  "Outras modificações outrora ventiladas podem ser vistas pelo mercado como casuísticas e não devem prosperar, como, por exemplo, a elevação do centro da meta para 4%, dos 3% atuais" , concluíram.

Adriana Dupita, economista sênior da Bloomberg Economics, declarou que o "Banco Central não sinaliza, mas também não fecha a porta para um corte em agosto". "Vai depender de novas boas notícias nestas variáveis", avalia.