Projeções

Inflação, Ômicron e aumentos dos juros: o que esperar de 2022

2021 nos mercados foi uma gangorra de eventos que marcaram as escolhas dos investidores, pode 2022 trazer um retorno gradual à normalidade, tanto financeira como social?

- Paulo Whitaker/Reuters
- Paulo Whitaker/Reuters

Por Alessandro Albano e Francesco Casarella, da Investing.com – Lockdowns, recuperação, e então a Ômicron.

2021 nos mercados foi uma gangorra de eventos que marcaram as escolhas dos investidores, com talvez mais que qualquer outra coisa o retorno da inflação e as pendências de decisões dos bancos centrais que pesam sobre essas escolhas.

Moedas digitais iniciantes, como Dogecoin e Shiba Inu, bem como ações-meme como GameStop e AMC (NYSE:AMC), revolucionaram, para o bem ou para o mal, a maneira como os mercados são operados, e trouxe ao palco protagonistas inesperados (os chamados Redditers) que, com certa semelhança à Davi indo de encontro a Golias, tentaram (e falharam) em fazer ouvir sua voz num mercado grande demais para eles.

O presidente do Fed, Jerome Powell, a presidente do BCE, Christine Lagarde, e os seus colegas dominaram as manchetes, que se fixaram em um adjetivo: "transitória", que nunca assumiu um significado tão central nos mercados e nas mentes dos investidores como no ano passado, reafirmando que, na era da flexibilização quantitativa, a comunicação é a ferramenta mais estratégica de que dispõem os banqueiros.

Desse modo, quais são as questões mais importantes que esperam os investidores?

E será que 2022 nos trará um retorno gradual à normalidade, tanto financeira como social?

"Nas mentes dos traders, estão questões como a inflação e se ela é transitória ou não, os prováveis aumentos de juros por parte dos principais bancos centrais, e se os preços elevados dos ativos de risco, sejam eles ações, divida corporativa ou alto rendimento, são realmente sustentáveis", diz a MG Capital, organizando o cenário do que poderá estar à frente.

Recapitulação dos mercados de 2021

2021 foi, sem dúvida, um bom ano para as principais classes de ativos. As commodities, impulsionadas pelo fim dos lockdowns, reaberturas e uma recuperação econômica muito forte, apresentaram desempenhos robustos.

O índice CRB aumentou mais de 35% desde o início do ano.

A escalada da inflação, cuja duração foi permitida graças aos bancos centrais, que inicialmente a consideravam "transitória" antes de reavaliarem sua postura ao final do ano, proporcionou apoio de valuation a esses produtos.

No entanto, temos de fazer uma distinção entre as diversas commodities, porque nem todas tiveram um desempenho positivo este ano.

Por exemplo, entre os metais preciosos, o ouro e a prata, em particular, sofreram uma queda, ao contrário das matérias primas energéticas, sobretudo o petróleo.

Vale a pena destacar que, embora historicamente o ouro seja considerado um ativo seguro, especialmente em períodos de inflação alta, de modo que ele opera bem especialmente em contextos de de inflação muito elevada e duradoura, ao que parece, neste momento, estamos apenas na fase inicial deste fenômeno.

Do lado dos títulos, tem-se dito há anos que aqueles que possuem títulos estão fadados a sofrer perdas severas, principalmente em função de um aumento dos juros.

Veremos (provavelmente) estes aumentos nas taxas de juros em 2022, começando pelo Federal Reserve, mas 2021 se encerrou com spreads estáveis em toda a Europa e rendimentos de títulos que caíram na primeira parte do ano, embora tenham conseguido se recuperar durante os períodos de aversão ao risco (por exemplo, em novembro).

No geral, olhando a diferentes classes de ativos de títulos, a categoria de grau de investimento apresenta queda em torno de 1%.

Os títulos dos mercados emergentes estão sofrendo mais (redução acima de 10% para os expressos em moeda local, de acordo com a Eaton Vance), e permanecem sob pressão devido ao avanço do dólar, que representa grande parte da sua moeda de dívida.

Por fim, em relação ao mercado de capitais, muitos também ficaram decepcionados.

A tese era: "Se os mercados de ações subiram em 2020 apesar dos lockdowns das interrupções econômico devido à Covid-19, então os mercados certamente irão desmoronar em 2021".

Mais uma vez, no entanto, o mercado de touros que tem durado praticamente desde 2009 (se chamarmos março de 2020 uma correção, ainda que grave) tem seguido seu caminho, batendo em pequenos obstáculos mas subindo de forma mais ou menos constante, recompensando novamente os investidores que evitaram o timing de mercado e se mantiveram fiéis.

O que fazer em 2022

Não se pode ter uma bola de cristal, mas em sua perspectiva de investimento anual, Amundi diz que "os investidores devem começar o ano com uma alocação prudente/neutra (considerando também as altas valuations do mercado) e tentar aproveitar as oportunidades de valor relativo presentes a nível regional e setorial".

Para o gerente de ativos francês, será necessário prestar atenção à "ilusão de retornos nominais, visando, em vez disso, retornos reais", enquanto o clássico modelo de portfólio de 60% ações / 40% títulos "será posto à prova".

Na verdade, a correlação positiva entre os mercados de ações e de títulos exigirá, como explicam os especialistas da Amundi, "uma alocação de ativos mais dinâmica", e as taxas em alta colocarão pressão sobre "áreas de alto custo dentre as ações de crescimento".

A seleção das ações deve se concentrar nas empresas com lucros e "poder de repassar custos mais altos para os clientes, na qualidade e nos ativos de valor", enquanto a Europa “deve ser privilegiada graças ao programa ‘Next Generation’ da UE, com foco especial na transição ecológica".

2022 também deve ver o retorno das ações dos mercados emergentes para o centro das atenções.

O objetivo dos investidores, diz Matteo Germano, diretor de Multi-Ativos e CIO da Amundi na Itália, deve ser "mirar para retornos reais positivos e a preservação do capital".

Na falta de alternativas, acrescenta ele, o mercado de ações "continua privilegiado, mas temos de prestar atenção a áreas com valuations excessivas ou expostas a juros crescentes, focando em vez disso em mercados mais descontados, como os mercados europeus e os emergentes, e no segmento de valor. Agora, mais do que nunca, a diversificação será essencial".

Para os analistas do Goldman Sachs Group, o aumento dos custos de empréstimos em diferentes partes do mundo será um dos temas centrais para 2022, sendo que aumentos anteriores de juros precoces e mais rápidos “provavelmente apoiarão maiores retornos".

O gigante suíço UBS Group, por outro lado, espera um 2022 "de duas velocidades", com as altas taxas de crescimento e inflação no primeiro semestre do ano "favorecendo mercados cíclicos, como a zona do euro".

No entanto, eles afirmam que a redução do crescimento e da inflação no segundo semestre "impulsionará setores defensivos, como a saúde", enquanto os níveis ainda baixos dos juros, rendimentos e spreads "motivarão os investidores a seguir caminhos diferentes para os retornos".

"Olhando mais adiante", acrescenta o UBS, "a transição para o carbono zero e o avanço das revoluções tecnológicas representarão as tendências de investimento mais importantes da década, por meio de oportunidades na greentech e em soluções sustentáveis, além de permitir tecnologias como inteligência artificial, big data e cibersegurança."