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O "G" de ESG: em 2022, empresas precisam avaliar suas práticas de governança

Investidores, reguladores e consumidores demonstram cada vez mais interesse e capacidade de avaliação de ações efetivas de empresas

- Christina Morillo/Pexels
- Christina Morillo/Pexels

Por Agência EY – O consumidor tem demonstrado preocupação com valores como sustentabilidade, responsabilidade social e transparência na gestão corporativa. Quando se aborda cada uma das três palavras da agenda ESG, o “G” – de governança – é fundamental para a avaliação de uma empresa.

“A governança direciona todas as ações da empresa e vai desde a decisão estratégica, seu desdobramento em políticas, práticas e na supervisão de riscos, com uma avaliação contínua para geração de valor”, explica Denise Giffoni, sócia de consultoria da EY. 

Para ela, em 2022, as empresas precisam atuar em uma agenda de avaliação de suas práticas de governança como um exercício contínuo.

Em entrevista à Agência EY para a série especial sobre as perspectivas socioeconômicas do País para 2022, Denise fala sobre a importância da agenda ESG, o peso da governança no mundo corporativo e a atenção do consumidor sobre o tema.

Cada vez mais empresas brasileiras têm adotado uma agenda ESG. Qual a importância dessa adesão não apenas para as empresas, mas para o desenvolvimento do próprio país?

O movimento ESG é reflexo de uma preocupação e consciência global frente a aspectos socioambientais e da relevância do papel das companhias neste ecossistema e no mercado, atuando com transparência e responsabilidade.

A adesão das companhias, guiada por um propósito que envolve investidores e stakeholders, traz um movimento de dentro para fora, avaliando e aprimorando suas ações quanto ao impacto de sua cadeia produtiva e considerando de que forma seu negócio e suas estratégias futuras podem ter um impacto positivo no mundo.

Traz também responsabilidade quanto a ações efetivas sobre o impacto das operações frente aos recursos naturais, à população, comunidades e sua diversidade. Tudo isso frente à boas práticas de gestão e prestação de contas, ética, transparência, responsabilidade e equidade.

Neste processo de evolução contínua, as empresas que atuam em uma agenda ESG são também impulsionadoras do desenvolvimento destas práticas no país, além de contribuir para discussões e inovações, buscando a sustentabilidade dos negócios e do futuro da economia global.

A agenda ambiental é mais discutida nas empresas quando o assunto é ESG. Mas qual a importância de dar um peso também para a questão de governança, o “G”?

A governança é imprescindível para direcionar como cada tema de negócio é avaliado pelo conselho, inserido na estratégia e praticado pela companhia em seus mais diversos fóruns.

Uma governança bem estruturada permite, além de outras ações, a discussão e viabilização de ações pelo conselho, o desdobramento para toda a companhia e divulgação para o mercado.

O conselho de administração tem como responsabilidade avaliar ações e estratégias para garantir a perenidade e sustentabilidade dos negócios, visando a geração de valor para investidores e partes interessadas, como consumidores, comunidades, fornecedores, funcionários.

Para isso, a empresa deve possuir uma visão clara de gerenciamento de riscos, aplicação e uso de recursos, políticas estabelecidas e estruturas de monitoramento, além de garantir que as informações sejam disponibilizadas de forma ampla, seguindo o princípio da prestação de contas, de forma clara, com diligência e responsabilidade.

A implementação de boas práticas de governança corporativa traz maior segurança quanto à avaliação e execução de diretrizes estratégicas, suporta processos mais eficientes e cria um processo claro e transparente de comunicação com o mercado, demonstrando por meio de resultados e indicadores as ações da empresa conectadas à agenda ESG.

O que podemos entender como uma boa agenda de governança em acordo com a pauta ESG? E qual a importância de as práticas serem adotadas de fato no dia a dia da corporação e não apenas no discurso para o público externo ou mesmo interno?

A governança direciona todas as ações da empresa, desde a decisão estratégica, seu desdobramento em políticas, práticas e na supervisão de riscos, com uma avaliação contínua para geração de valor.

O dia a dia deve contar com processos e práticas que vão desde a estruturação e avaliação de conselho, comitês específicos e diretoria, do acompanhamento contínuo de ações e necessidades de investimentos, o uso de indicadores, a criação de metas de curto, médio e longo prazo, um monitoramento de controles e riscos por meio de estruturas independentes e o uso de políticas e estruturas que suportem tais práticas e que promovam ética e transparência.

É importante ressaltar que investidores, reguladores e consumidores demonstram cada vez mais interesse e capacidade de avaliação de ações efetivas da empresa.

Reguladores têm atuado no aprimoramento de requerimentos de divulgação de práticas de Governança Corporativa, o que traz não somente visibilidade ao mercado como um compromisso de que ações têm sido realizadas, mas também proporciona parâmetros de comparação com dados públicos.

As empresas com boas práticas sociais de governança têm mais chance de se destacar no mercado, sobretudo na visão do consumidor? Como?

O consumidor tem demonstrado preocupação sobre o futuro do planeta e com valores como sustentabilidade, responsabilidade social e transparência na gestão corporativa.

A pandemia fez com que houvesse uma reflexão ainda maior sobre seu papel no mundo, suas ações, a importância das comunidades e do uso dos recursos.

E isso é refletido em como o consumidor interage com o mercado, buscando empresas socialmente responsáveis, que prezam pelo meio ambiente e que possuem boas práticas de governança.

Há uma busca por marcas que se posicionam e atuam de forma estruturada e efetiva nos temas, com transparência e ética.

Além disso, há uma tendência de que os consumidores deixem de comprar de marcas com as quais não se identificam em termos de ideais defendidos e ou que atuam com práticas inconsistentes ou não transparentes.

Segundo o EY Future Consumer Index 2021, pesquisa que visa compreender e acompanhar a evolução dos sentimentos e comportamentos dos consumidores durante e pós a pandemia, a sustentabilidade se tornou o critério mais importante de compra para 66% dos brasileiros entrevistados e 61% passaram a achar mais importante observar os valores praticados pelas empresas das quais pretendem comprar.

Em um momento de tantas perdas na sociedade, 84% dos consumidores brasileiros mencionam que os negócios devem ser conduzidos com ética, 83% acreditam que o comportamento das empresas é tão importante quanto os produtos e serviços que elas vendem e 79% concordam que as marcas têm a responsabilidade de realizar mudanças positivas no mundo.

As empresas precisam atuar em uma agenda de avaliação de suas práticas de governança como um exercício contínuo, com atenção especial aos riscos emergentes, necessidades de stakeholders e tendências.

A governança corporativa deve ser desenhada de forma a assegurar que os temas serão tratados com a devida atenção e profundidade por seus diferentes fóruns, em uma discussão estruturada, com monitoramento de práticas e uma forma de divulgação que suporte a construção de valor.