85% das instituições do setor financeiro classificam a importância das questões ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês) com notas de 7 a 10, sendo 10 a indicação mais alta. Os dados são de uma pesquisa realizada pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), que buscou entender como o tema tem sido visto e tratado.
Cerca de 44% das empresas consultadas deram notas 9 e 10 para a importância das questões ESG e 42% atribuíram notas 7 e 8.
Apenas 3% das instituições entrevistadas deram notas entre 0 e 4, que indicam que veem pouca ou nenhuma importância nas questões ESG.
“A sustentabilidade não é um tema novo no mercado, no entanto, com a pandemia de covid-19, ganhou tração por conta da mudança da percepção de risco dos investidores. Esse movimento é positivo e, sem dúvida, ajudará a alavancar essa pauta”, afirma Carlos Takahashi, vice-presidente da Anbima e coordenador do Grupo Consultivo de Sustentabilidade da associação.
Entretanto, foi identificada uma assimetria entre a atribuição de importância para a sustentabilidade e a adoção de medidas práticas.
Muitas instituições que respondem de forma positiva às perguntas sobre percepção e importância do tema ESG dizem estar em processo de implementação ou ainda não ter implementado ações concretas.
Enquanto 85% das gestoras de recursos e 90% dos bancos deram notas acima de 7 para a importância que veem na sustentabilidade, apenas 26% das gestoras e 43% dos bancos incluem esse tema em seus códigos de conduta.
Apenas para 18% dos entrevistados a sustentabilidade foi considerada essencial no desenvolvimento da divulgação de produtos.
Foco nas gestoras de recursos
Quando olhamos apenas para as gestoras de recursos, houve avanço na existência de política de investimento responsável: 80% das casas afirmam ter uma política de investimento responsável ou um documento que formalize seu tratamento ao tema – se não estiver pronta, ao menos em desenvolvimento.
Na edição de 2018 do levantamento, esse número era de 68%.
Um terço (35%) está em processo de desenvolvimento de um documento que incorpore questões ESG.
Entre as gestoras que não têm política nem estão desenvolvendo uma, destacam-se as assets de menor porte, com até R$ 100 milhões em ativos sob gestão.
“O mercado caminha para uma evolução. Chama atenção o percentual de casas que estão trabalhando o assunto no momento ou que, ainda que não tenham nada concreto, planejam implementar políticas e processos ESG. Especificamente nas gestoras de recursos é possível ver um amadurecimento. Mais casas têm políticas de investimento responsável, aumentou o volume de ativos analisados pelas lentes ESG e também a quantidade de empresas que têm uma estrutura interna específica para tratar o assunto”, afirma Takahashi.
Com relação à análise dos ativos sob as lentes ESG, 49% das gestoras avaliam entre 100% e 50% dos papéis. Apesar de ainda tímido, esse percentual foi superior ao registrado na pesquisa realizada em 2018, quando era 27%.
Sobre a estrutura das assets, houve avanço no mercado: enquanto, em 2018, apenas 34% das gestoras declararam ter alguma estrutura para tratar de ESG, agora 71% afirmam ter alguma estrutura (exclusiva ou não) para tratar de sustentabilidade, mas com funcionários diretamente envolvidos ou treinados ou com comitê específico dedicado ao tema.
Confira os resultados completos:
Qual é a importância do tema sustentabilidade para a instituição? (Única, em %)
Como percebe o estágio atual da instituição quanto à sustentabilidade como parte essencial do desenvolvimento e da divulgação dos produtos da empresa? (Única, em %)
Instituição tem política de investimento responsável ou um documento que formalize seu tratamento ao tema? (Única, em %)
Percentual de ativos com avaliação ESG
(Única, em %)
Frase que melhor define a estrutura da instituição para tratar ESG (Única, em %)
A pesquisa Retrato da Sustentabilidade no Mercado de Capitais foi realizada em duas fases.
A primeira, qualitativa, liderada pela consultoria estratégica Na Rua, contou com 144 participantes para responderem exercícios sobre o tema e 41 para realização de entrevistas em profundidade.
A segunda, quantitativa, contou com o apoio do Datafolha: foram 265 casas entrevistadas, sendo 209 gestoras de recursos.
A margem de erro fica entre 6 e 7 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro de um nível de confiança de 95%.