Por Antonio Marcos Samad Júnior*
O ingresso dos investidores estrangeiros na bolsa trouxe otimismo ao mercado de ações brasileiro. O fluxo de capital externo somou em janeiro R$ 32,5 bilhões, fazendo com que o Ibovespa ingressasse em um rally de alta, que atingiu 7% no primeiro mês do ano.
Todo este cenário tende a levar o investidor a se empolgar e intensificar suas aplicações na renda variável. Mas não se engane! Fazer parte da euforia de agora é um risco no médio prazo se o seu objetivo for manter os papéis em carteira.
A recente alta tem a ver com a mudança nos fundamentos ou está relacionada à euforia com o ingresso de capital externo na bolsa? Ora, a economia brasileira exibe fragilidades que prejudicam os fundamentos das empresas.
Além da questão fiscal, nos deparamos com uma inflação persistentemente em alta, que tem feito o Comitê de Política Monetária (Copom) elevar a taxa básica de juros (Selic) reunião após reunião.
Após atingir os 10,75%, a perspectiva é de que a Selic continue elevada, mesmo que os aumentos sejam mais conservadores, como o Copom sinalizou em sua última ata.
No documento, o colegiado destacou que é apropriado que o ciclo de aperto monetário avance significativamente em território contracionista.
O comitê enfatizou que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Tal posicionamento significa a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros, mas a manutenção dos juros na casa de dois dígitos, algo não vivenciado pelos brasileiros desde maio de 2017.
A inflação e a taxa de juros alta refletem diretamente no desempenho da economia real, o que atinge o preço dos papéis na bolsa. Alguns segmentos, como os intensivos em capital e as varejistas são mais impactados, outros menos.
Portanto, um fato é certo: o investidor precisa avaliar se no preço da ação já estão descontados estes fatores. Ao decidir onde colocar seus recursos, primeiro faça uma análise: verifique os preços alvos dos analistas. Qual o potencial de valorização? Por quanto tempo pretende manter o papel em carteira?
A tendência do mercado acionário brasileiro para este ano não é de alta, nem de baixa, mas sim de volatilidade. Estamos próximos a uma eleição e, somente este fato, já deve deixar o investidor com o pé atrás.
A partir do momento em que a corrida eleitoral começa, as ações passam a sentir o peso das pesquisas e a polaridade esquerda versus direita não ajuda a dirimir este tipo de movimento.
É possível encontrar ainda barganhas na bolsa, porém o momento de entrar pode não ser dos melhores. Lembre-se da máxima: comprar na baixa e vender na alta. É difícil, mas com investimentos, as emoções devem ser deixadas de lado.
*Antonio Marcos Samad Júnior é CEO da Axia Investing.