Na noite de terça-feira (22), o Nubank (NYSE:NU) (NUBR33) divulgou o seu primeiro balanço após o IPO realizado em dezembro passado. A fintech reportou ter obtido, entre outubro e dezembro de 2021, um prejuízo líquido de US$ 66,2 milhões. Apesar do número expressivo, a cifra reflete uma queda em relação às perdas de US$ 103,7 milhões no quarto trimestre de 2020.
O primeiro balanço do Nubank pós-IPO era esperado com muita ansiedade entre investidores e agentes do mercado financeiro, devido à forte oscilação que os papéis sofrem desde a abertura de capital da empresa na Bolsa de Nova Iorque (NYSE).
No início de fevereiro, as ações ensaiaram uma recuperação e tinham desempenhado uma forte sequência de ganhos, com altas superiores a 45% em cinco pregões (de 3 a 9 de fevereiro), mas o ciclo tão logo foi interrompido.
Hoje (23), por volta das 14:38, as ações do Nubank em Nova Iorque recuavam 8,52%, a US$ 8,01.
No acumulado desde a estreia na bolsa de Nova Iorque, em 9 de dezembro, as ações do Nubank acumulavam perdas de 22,07%, às 14:38 (horário de Brasília) nesta quarta-feira (23).
Já os BDRs, que estrearam na B3 (B3SA3) no mesmo dia, apresentam desvalorização de 32,27%. Hoje (23), os papéis despencavam 8,27%, a R$ 6,88, por volta das 14:26.
Por que tanta volatilidade das ações?
Danielle Lopes, sócia e analista da Nord Research, avalia que a faixa de preço do Nubank veio alta demais, tanto para os papéis negociados em NY, quanto para as BDRs.
“O preço se trata de uma fatia do valuation. A companhia veio com um valor 200x maior que o lucro que eles deram, que era pequeno. E se você tentar trazer isso para outros múltiplos, também fica caro. Foi um pagamento muito antecipado, um risco altíssimo. Por conta disso, as cotações ficaram acima para fazer o valuation. A companhia teria que lucrar para que essa relação preço/lucro ficasse mais estável e mais confortável para o investidor”, explica.
Lopes avalia que o recente movimento de desvalorização da ação foi influenciado também pelo cenário macroeconômico dos Estados Unidos. Por lá, a inflação subiu 0,6% em janeiro, após alta de mesmo percentual em dezembro, de acordo com dados do Departamento do Trabalho divulgados no dia 10 de fevereiro. Em 12 meses até janeiro, o índice saltou 7,5% – o maior avanço anual em 40 anos (desde fevereiro de 1982).
Esses números devem forçar o Federal Reserve a iniciar um ciclo de alta de juros neste ano. Agora, o Goldman Sachs, por exemplo, chega a prever sete altas de 25 pontos-base na taxa básica de juros dos Estados Unidos – antes, estimava cinco elevações.
“Isso vai impactar as empresas de tecnologia de cara, porque elas tomam mais crédito para financiar crescimento. E vai impactar também o valuation como um todo, porque você tem uma taxa de desconto maior e vê um movimento de ajuste do mercado por conta disso”, afirma a analista.
Lopes destaca ainda que esse cenário impulsiona, por fim, um movimento de migração das growths (empresas em que você paga antecipado por um crescimento, como o Nubank) para as de value (de múltiplos mais baixos, que oferecem menor risco para o investidor).
“Além disso, se beneficiam também as empresas que se comprovaram ao longo do tempo, com resultados. Você sai de um risco de valuations altos para empresas com múltiplo menor, de risco menor – não 100% sem riscos – e que já entregam resultados”, complementa.
Hora de operar vendido?
Em 19 de janeiro, a Empiricus publicou um relatório em que indicava operação short (posição vendida) para as ações do Nubank e alimentou ainda mais as desconfianças de investidores e agentes do mercado financeiro em relação ao banco digital.
Esse tipo de transação permite ao investidor apostar (e ganhar dinheiro) com a desvalorização de um papel. Além disso, analistas da Empiricus viam potencial de queda de 70% para o Nubank.
Entre os motivos para recomendar o short, a Empiricus expôs motivos como a dificuldade que o banco tem em monetizar seus usuários, o fato de o Nubank ter uma receita por usuário 14 vezes menor que a de grandes bancos tradicionais e a provável necessidade de a fintech captar mais recursos para aumentar sua concessão de crédito.
Por fim, a Empiricus ainda fez outra drástica avaliação de que o Nubank deveria valer algo em torno de R$ 54 bilhões e não o montante de R$ 170 – R$ 200 bilhões em que a fintech oscila desde o seu IPO.
Em entrevista, Larissa Quaresma, analista da Empiricus, reforçou a posição da casa de análise com base em motivação fundamentalista para indicar o short e ressalta que a empresa não foi a única a ter recomendação semelhante nas carteiras. “A gente entende e vê o Nubank como uma ótima empresa, mas o preço dela atual está um pouco exagerado. Uma boa empresa não necessariamente seria um bom investimento”, diz.
Para além das motivações fundamentalistas citadas acima, Quaresma destaca o fator técnico que, de fato, pode influenciar o sucesso do short ou não.
“A gente fez uma pesquisa. O papel do Nubank apresenta uma liquidez muito boa, tanto na BDR, que negocia mais de R$ 10 milhões por dia de volume diário, quanto nos EUA, que apresenta muito mais que esse valor”, diz.
“Nós conversamos com várias corretoras, com mesas de negociação competitivas do BTG Pactual, da XP (XPBR31), e entendemos que montar esse short era viável. Mas o que fizemos? Recomendamos para nossos assinantes que fosse montado o short lá fora, com o papel mais líquido ainda, e não com a BDR, por motivos de segurança”, complementa.
A analista ressalta que a Empiricus deixa todos os tutoriais disponíveis para instruir os assinantes a conseguirem fazer a operação e sobre como podem abrir uma corretora no exterior.
“Nós recebemos muitos relatos de assinantes que montaram short bem. Eles têm ganhado dinheiro e a gente monitora diariamente o comportamento das taxas de aluguel”, diz. Quando a entrevista foi realizada [dia 16/02], 30% do fold estava tomado em aluguel. “Isso significa que muitos investidores têm esse papel em posição vendida e esse percentual tem crescido”, acrescentou, ao alertar que vê a taxa de aluguel da BDR no Brasil está um pouco exagerada. “Por isso a gente recomendou shortear lá fora”, encerra.
Quaresma acrescenta que a Empiricus hoje vê riscos baixos para a operação de short, “o que pode mudar por causa do dinamismo do mercado” e também pouca possibilidade de haver um short squeeze – termo utilizado para definir um movimento brusco de aumento significativo no preço de uma ação em função de operações vendidas que fazem com que os investidores sejam obrigados a vender os seus ativos.
“O volume de short está em alta. A gente não vê o contrário, de pessoas que tentam puxar o preço para cima e sim para baixo. Não quero dizer que essa situação vai mudar ou não, pode ser que o ponto da nossa tese se prove errado, mas mantemos nossa posição baseada em fundamentos e de olho no fator técnico”, complementa.
A recomendação, inclusive, pode ser revisada a qualquer momento, não somente por interferência dos números do balanço divulgado ontem.
“Eles são alguns dos fatores que a gente monitora. Pode ser que algum fator macroeconômico jogue contra, por mais que a gente tenha previsto. Por exemplo, os EUA podem não subir os juros tão rapidamente quanto a gente imaginava. Sempre calculamos o retorno potencial versus o risco potencial”, explicou.
Já Danielle Lopes observa a indicação de short com cautela. “A gente [Nord Research] não faz isso. Nós não temos essa recomendação em carteira”. Mas pondera: “para o investidor que já faz acompanhamento e gosta de tomar risco, ele conseguiria até ter um ganho relevante sim”, pontua.
Apesar das possibilidades, Lopes alerta: “O Nubank já chegou a cair 20%, teria que ter um valuation muito assertivo para saber até onde vai cair. Eu não faria isso agora. Acho muito incerto. Quem fez isso no IPO conseguiu uma decisão acertada, confiante de que a ação estava cara. Talvez a longo prazo, se a empresa continuar sem resultados, você tenha uma boa posição aí”, diz.
Pessimismo generalizado entre analistas
A Empiricus destacou ainda a forte exposição que o Nubank tem ao ver a sua base de clientes composta por um público mais jovem e de baixa renda – o que acarreta em um maior risco de inadimplência, já que o cenário macroeconômico de 2022 tende a ser muito desafiador.
Em linha com a análise da casa, o BTG Pactual (BPAC11) fez a mesma observação em relatório divulgado no dia 10 de fevereiro.
No material, analistas do banco rebaixaram de compra para venda a recomendação sobre as ações do Nubank e desacreditaram projeções que estimavam valorização delas em até 40%. Além disso, analistas do banco ressaltaram que uma possível deterioração do ciclo de crédito tende a dificultar ainda mais o desempenho das ações do Nubank.