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ARTIGO - Tomar posição em dólar não faz mal a ninguém

As perspectivas de curto prazo mostram que a moeda americana tende a perder força, mas se observarmos o que vem por aí, não há fatores de médio e longo prazo que nos façam acreditar que esta tendência veio para ficar

- Foto: Karolina Grabowska/ Pexels
- Foto: Karolina Grabowska/ Pexels

*Por Antonio Marcos Samad Júnior

A sequência de valorização do real frente ao dólar tem levado muitos ao questionamento: é hora de fazer posição na moeda americana?

As perspectivas de curto prazo mostram que a moeda americana tende a perder força, mas se observarmos o que vem por aí, até o fim do ano, não há fatores de médio e longo prazo que nos façam acreditar que esta tendência veio para ficar.

Há tempos não víamos a cotação do dólar a ficar abaixo de R$ 5,00, mais especificamente desde junho de 2021.

De lá para cá, as dúvidas quanto ao futuro da economia com a chegada das novas variantes da Covid-19, crises políticas vindas de Brasília e os problemas ficais, dentre outros fatores, fizeram o real perder valor, claro que com sobressaltos e volatilidade.

A sequência atual rompe uma tendência que vemos há anos na economia brasileira. Desde 2017, a moeda brasileira perde valor frente ao dólar.

Naquele ano, a queda foi de 1,99%, em 2018 de 16,92%, em 2019 de 3,5%, em 2020 de 29,36% e em 2021 de 7,47%. Mas, algo mudou. No acumulado de 2022, vemos o real se valorizando cerca de 12% em relação à moeda americana.

Os motivos? O aumento do valor das exportações com a alta dos preços das commodities no mercado internacional é um dos fatores de pressão. Além disso, os estrangeiros passaram a ver o Brasil como oportunidade.

Boa parte do movimento de valorização do real se deve ao fluxo de capital estrangeiro chegando ao país para aproveitar a alta da taxa básica de juros (Selic), que atualmente está entre as maiores taxas de juros reais do mundo.

Quando o investidor estrangeiro traz dinheiro para o Brasil, ele precisa vender seus dólares e comprar reais para poder comprar títulos de renda fixa no Brasil, principalmente títulos públicos. Essa grande venda de dólares está pressionando a cotação da moeda americana semana após semana.

Os investidores externos também estão aproveitando as barganhas da bolsa, que registrou entrada de US$ 50 bilhões neste ano.

A questão que se impõe agora é até quando esse fluxo de dólares continuará entrando no Brasil? Será que os estrangeiros pretendem ficar por muito tempo por aqui? O que acontecerá com o câmbio caso esse fluxo se inverta? Sim, o dólar veio abaixo dos R$ 5,00. Ele vai se manter neste patamar? Provavelmente não.

É preciso lembrar que os fundamentos econômicos que justificariam esta forte valorização não mudaram. A crise fiscal é a mesma, a escalada da inflação preocupa, a Ucrânia ainda em guerra com a Rússia e, para completar, temos uma corrida eleitoral muito polarizada e que promete ainda muita volatilidade no mercado doméstico.

Com todas essas observações feitas, nos parece ser interessante aproveitar esse recuo do dólar neste início de 2022 para fazer uma reserva em moeda americana. Tomar um pouco de posição em dólar nesse momento não vai fazer mal a ninguém!

*Antonio Marcos Samad Júnior, CEO da mesa proprietária Axia Investing