Análise

Temporada mais fraca: 48% das empresas reportaram lucros do 4º tri abaixo do esperado, diz XP

44% das companhias do Ibovespa resultaram EBTIDA acima das projeções e 8% vieram em linha

- Paulo Whitaker/Reuters
- Paulo Whitaker/Reuters

A divulgação dos balanços do quarto trimestre do ano passado das empresas listadas na Bolsa começou na semana do dia 2 de fevereiro e todas as empresas do Ibovespa já reportaram seus resultados.

De acordo com as estimativas da XP, 48% dos resultados vieram abaixo do esperado. 44% das empresas reportaram lucros operacionais (EBITDA – sigla para lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) acima das projeções e 8% em linha.

Quanto às receitas, 46% das empresas superaram expectativas, 21% foram em linha e 34% vieram abaixo.

Já em relação aos setores, empresas de papel e celulose, educação, transportes e logística, mineração e siderurgia, agro, alimentos e bebidas reportaram números operacionais superiores às estimativas.

De destaques negativos, de acordo com os analistas Fernando Ferreira, Jennie Li e Rebecca Nossig, a maioria das empresas do setor elétrico desapontaram.

Ibovespa

Entre outubro e dezembro, o LPA (Lucro por Ação) do Ibovespa registrou alta de 32% quando comparado ao terceiro trimestre, e cresceu quase 7% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior, em grande parte explicado pela recuperação econômica inicial do país após a pandemia.

De acordo com dados fornecidos pela Bloomberg, para o ano de 2022, os analistas esperam que os lucros caiam após o 1T22.

Influências

Durante o quarto trimestre de 2021, fatores domésticos e externos afetaram os resultados das empresas, dizem Ferreira, Li e Nossig.

Como no terceiro trimestre do ano passado, incertezas sobre a trajetória fiscal brasileira e a mudança no teto de gastos, pressões inflacionárias que levaram a taxas de juros mais altas, projeções de crescimento econômico mais baixas – para 0% em 2022 – e tensões políticas crescentes pressionaram os ativos brasileiros.

Fora do Brasil, o anúncio do Federal Reserve sobre a necessidade de antecipar a alta das taxas de juros norte-americanas, as preocupações com a nova variante Ômicron, a crise energética mundial e a ruptura nas cadeias de produção afetaram os mercados globais.

Outro fator importante foi o início da alta dos preços das commodities, pontuam os analistas.

A rápida retomada das atividades econômicas após o afrouxamento das restrições impostas na pandemia, fez com que a retomada da produção de commodities não seguisse a mesma velocidade, desequilibrando a balança entre oferta e demanda.

Com menos quantidade disponível do que a necessária para abastecer as cadeias produtivas, os preços das commodities começaram a subir.

Reação das ações após resultados

As empresas que superaram as estimativas de EBITDA e receitas retornaram, em média, 1,0% e 0,2%, respectivamente, um dia após a data de cada relatório.

Enquanto isso, as empresas que divulgaram resultados abaixo das estimativas foram mais penalizadas com retornos de -2,4% e -0,9% para os mesmos indicadores.

E o índice Ibovespa subiu +14,4% na temporada de resultados, catalisado pela alta nos preços das commodities e a rotação no mercado para empresas de valor.

Destaque dos setores

Um destaque desta temporada de resultados foi o setor agro, alimentos e bebidas.

Para a XP, a Ambev (ABEV3), mesmo com pressões de custos, surpreendeu com novo recorde de volume para 2021.

A Jalles Machado (JALL3) apresentou números fortes e aproveitou uma tendência positiva nos preços de açúcar e etanol.

Enquanto isso, a Marfrig (MRFG3) e JBS (JBSS3) também registraram números fortes, impactados pelo bom momento e altos preços de seus produtos nos principais países importadores.

Em mineração e siderurgia, a Gerdau (GGBR4) e a Cemig (CMIN4) apresentaram bons números, devido ao aumento das exportações no Brasil, que compensaram a menor demanda interna.

No varejo, o principal destaque foi o segmento de consumo discricionário, com Natura&Co (NTCO3) e seus bons resultados, e o segmento E-commerce, com forte EBITDA da Viia (VIIA3).

Farmácias como d1000 (DMVF3) e Panvel (PNVL3) também reportaram resultados sólidos, beneficiados pelo impacto positivo do reajuste de medicamentos e pelo aumento da demanda por medicamentos, causada pela pandemia.

Em tecnologia, mídia e telecomunicações, a Bemobi (BMOB3) se destacou. O resultado da Bemobi surpreendeu positivamente, com receita líquida e EBITDA ajustado de 102% e 61%, respectivamente na comparação anual, pontuaram Ferreira, Li e Nassig.

O setor imobiliário também foi beneficiado pelo processo de reabertura econômica.

A brMalls (BRML3) deu continuidade ao processo de recuperação após a reabertura de seus shopping centers.

A Multiplan (MULTI3) também obteve bons resultados operacionais no segmento de shoppings, apresentando 100% do horário normal de operação no 4T21.

Os resultados também foram sólidos para as construtoras de média e alta renda, nas quais a maioria apresentou melhora nas margens brutas, apesar do recente aumento nos custos de material de construção.

Por outro lado, as margens das incorporadoras de baixa renda permaneceram pressionadas.

No setor de saúde, os planos de saúde também apresentaram ótimos resultados.

As receitas do Hapvida (HAPV3) aumentaram 14% A/A (em linha com nossa estimativa), principalmente devido a um aumento de 14% A/A no número de planos de saúde, juntamente com uma queda de 1,2% A/A no ticket médio.

Enquanto isso, em educação, a Cogna (COGN3) apresentou resultados ligeiramente positivos no 4T21, com receitas em queda de 5,6% A/A (em linha com a estimativa da XP), margem EBITDA ajustada em 27,3% (em linha) e prejuízo líquido ajustado de R$ 75 milhões (vs. nossa estimativa de R$ 105 milhões).

Algumas empresas do setor de bancos apresentaram resultados acima das expectativas, beneficiadas pelo aumento da taxa de juros do crédito e estabilidade em suas despesas operacionais.

Banco do Brasil (BBSA3) e Banrisul (BRSR6) apresentaram resultados bem acima das estimativas.

Por fim, em transporte e logística, a Movida (MOVI3) continuou com bons números, fruto do forte desempenho do segmento RaC e de mais um conjunto de números positivos de vendas de seminovos.

E em bens de capital, as empresas de transporte aéreo apresentaram ótimos resultados, como Azul (AZUL4) e Gol (GOLL4).