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Selic: Copom deve cumprir sinalização de alta de 1 p.p.; o que pode ser novidade?

Colegiado deve elevar taxa básica de juros a 12,75% ao ano

- Agência Brasil
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Por Jessica Bahia Melo, da Investing.com – Com a continuidade das pressões inflacionárias, a expectativa é de que o Comitê de Política Monetária (Copom) eleve a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, mais uma vez na semana que vem.

O colegiado deve, assim, cumprir a sinalização do comunicado da última reunião, quando precificou a alta em mais 100 pontos-base na reunião que ocorre entre os dias 3 e 4 de maio, e subir a taxa básica de juros de 11,75% para 12,75%.

No final do segundo dia, o comitê detalha sua decisão em um comunicado. A continuidade da guerra, impulsionando os preços das commodities, é um dos fatores que prejudica as expectativas nesse momento. Até o dólar, que vinha em ritmo de queda, voltou a rondar os R$5.

O objetivo de mais uma alta da Selic é conter a inflação – visto que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) anual chegou a 11,30% em março. Os próximos dados do IPCA de abril devem ser divulgados em 11 de maio.

Enquanto isso, a prévia da inflação, o IPCA-15, divulgado no dia 27 de abril, apontou alta mensal de 1,73%, contra 0,95% em março.

O resultado, impulsionado pela elevação no preço dos combustíveis, veio abaixo das expectativas do mercado, mas foi a maior alta para abril desde 1995.

Com isso, a alta acumulada do IPCA-15 é de 12,03% em 12 meses até abril, contra 10,79% em março. Já a meta do IPCA definida para este ano é de 3,5%, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Ciclo de alta de juros terá fim em breve?

O ciclo de alta da taxa de juros iniciou em março de 2021, quando a Selic saiu da mínima histórica de 2% ao ano para 2,75%. Nas últimas semanas, o Banco Central sinalizou que pretendia encerrar o ciclo de alta da Selic e, por isso, a previsão dos analistas é de uma alta dos juros em mais um ponto, chegando a 12,75%. Mas a alta deve parar por aí ou pode não ser o suficiente?

O movimento ocorre enquanto bancos centrais de economias desenvolvidas indicam alterações em suas políticas de juros, mas mais tardiamente, para conter os efeitos inflacionários crescentes. É o caso do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, e do Banco Central Europeu (BCE).

Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, acredita que alguns elementos ainda vão pressionar as expectativas e aumentar as incertezas. O economista espera uma elevação de um ponto em maio e meio em junho, no máximo 0,75%, caso a tendência mude. A estimativa da Western é de Selic máxima em 13,25% e IPCA ao final do ano de 7,6%.

“Ficamos no vazio nas últimas semanas com a greve do Banco Central e não sabíamos como as expectativas estavam evoluindo. Desde o final de março, tivemos uma surpresa do IPCA. Após o primeiro Focus desde então, as expectativas subiram no prazo mais curto. No entanto, as de 2023 subiram, mas bem menos”, explica. Entre os choques que geram incerteza, a produção de grãos na Ucrânia, novo lockdown na China e efeitos nas cadeias produtivas são fatores de risco. Lima lembra que o Banco Central sinalizou que pararia o ciclo de aperto monetário em mais um ponto percentual, mas acredita que será preciso fazer mais um ajuste em junho.

O professor de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), Mauro Rochlin, reforça que a expectativa é que a inflação tenha atingido seu ápice, e que em junho comece a cair. “O mercado entende que a Selic não vai subir além de 13,25%”, afirma, ponderando que “novos números do IPCA podem mudar essas expectativas para pior”.

Para Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas, o país está próximo do fim do ciclo de aperto, mas ainda há certa dúvida se os juros devem parar em 12,75%, 13,25% ou 13,5%. “Esse aperto já foi muito, já vai ter impactos na inflação e na atividade no horizonte relevante, mas eles [Copom] estão querendo calibrar esse final de ciclo. O Copom foi mais enfático nas suas últimas comunicações indicando que a próxima reunião teria um aumento levando a Selic para 12,75% e que essa seria o nível final da taxa de juros, só que tivemos notícias ruins desde então”, detalha. A Claritas estima Selic a 13,25% ao final do ano e IPCA em 7,5%.

Regime de Metas a “ferro e fogo”

A taxa de juros corre atrás da curva? Segundo o professor da FGV, enquanto os outros países estavam mais hesitantes em elevar os juros para conter a inflação, hoje isso não ocorre no Brasil, principalmente porque, com a Selic no nível em que está, é possível ter rendimentos com juros reais. Aplicar o Regime de Metas de Inflação a “ferro e fogo”, como citou, seria se atentar à teoria que embasa o regime de que o “recado precisaria ser muito firme e claro para que a autoridade monetária não perca a credibilidade. Assim, as expectativas são ancoradas”, completa.

Aversão a risco e influência nos mercados

As últimas semana foram de maior volatilidade nos mercados, com baixas recorrentes tanto na bolsa brasileira, asiáticas, europeias e americanas. “Já vimos nos últimos dias um cenário de aumento de riscos, com correção muito grande nos mercados em reação a falas do FED. Mas desde que ficou claro que o FED estava atrás da curva e que poderia elevar a patamares não esperados, o impacto não foi negativo”, acredita a gestora da Claritas. Segundo ela, o impacto dos juros não é claro e ainda não se sabe se, devido ao fato de o aperto monetário no Brasil ter iniciado antes dos outros países, se isso pode beneficiar o Brasil.

Já Lima completa que a renda fixa voltou a ficar atrativa com o atual patamar da taxa de juros mais elevada. “Estamos sujeitos à volatilidade de informações, efeitos nas commodities, afetando o câmbio. Nossa percepção é que nos preços atuais, e dada volatilidade de queda de bolsa lá fora, isso pode atrasar novas emissões aqui no Brasil. O processo eleitoral por si só já é sinônimo de volatilidade”, lembra.

Vamos crescer menos por causa dos juros? Provavelmente

A alta na taxa de juros é uma política restritiva, que visa diminuir a demanda para poder conter a alta nos preços. Por isso, há efeitos no Produto Interno Bruto (PIB). A expectativa da Claritas é de um crescimento de 0,2% em 2022, enquanto a Western está mais otimista e acredita em um PIB de 0,6% ou 0,7%. Após atrasos devido à greve, o Banco Central do Brasil divulgou nesta semana os dados do Boletim Focus. As previsões dos economistas consultados trazem uma perspectiva de aceleração para o IPCA, o PIB e a taxa Selic. O IPCA previsto para este ano é de 7,65%, Selic em 13,25% e PIB em 0,65%.

“A Selic é um dos motivos pelos quais se espera um PIB inferior a 1%. É difícil pensar em um PIB mais vigoroso, é um trade off, e claramente a favor do combate à inflação”, completa Mauro Rochlin.