O Ibovespa, principal índice da B3 (B3SA3), a bolsa brasileira, atravessa uma sessão muito difícil nesta quinta-feira (5). Após chegar a mínima de 4%, aos 104.013 pontos, às 13:00 operava aos 104.121 pontos, com perdas de 3,90%.
Pedro Serra, chefe de pesquisas da Ativa Investimentos, avalia que, em primeiro momento, a nossa bolsa reflete os mercados externos. Dow Jones e S&P 500 registram perdas superiores a 3% e Nasdaq 100 aprofunda quedas a quase 5% na tarde desta quinta-feira. O analista diz que hoje vivemos um Risk-off day.
O termo se refere a momentos em que os investidores não estão dispostos a tomar riscos e procuram soluções mais conservadoras e defensivas.
E esse movimento ocorre um dia após o Federal Reserve elevar os juros dos EUA em 0,5 p.p., para 0,75%-1%, seu maior aumento único em 20 anos, com o objetivo de reduzir a inflação de uma alta histórica de 40 anos (cerca de 8,5% no acumulado dos últimos 12 meses).
O aperto monetário visto no Brasil começa a ser sentido nos Estados Unidos. A escalada de juros deve terminar com uma taxa de 3,5% no final deste ano.
“As empresas techs lá estão em forte queda e os mercados emergentes também sofrem com o momento. E isso tem a ver com o discurso do Banco Central da Inglaterra hoje (5) pela manhã e as recompras do Fed anunciadas ontem. Hoje, o mercado começa a fazer contas e avalia transtornos e ainda há uma inflação persistente em todo o mundo”, avalia Serra.
A sequência de altas em 0,5% iniciada nesta quarta-feira, como indicado pelo Fed, fortalece os títulos públicos como o T10 (Tesouro Americano de 10 anos), e aplicações de renda fixa consideradas as mais seguras para investidores no mundo, visto que os Estados Unidos são tidos como um porto seguro para investimentos.
“O fato dos juros nos EUA estarem subindo faz com que uma grande quantidade de dinheiro saia do Brasil em busca da segurança que o Tesouro Americano pode oferecer em rentabilidades mais atrativas, sobrando um pouco menos de dinheiro para posições mais especulativas como no Brasil e outros países emergentes”, comenta Lucas Sharau, sócio e assessor de investimentos da iHUB Investimentos.
Ainda segundo o especialista, os gestores que lidam com grandes fortunas precisam decidir o que é mais importante neste momento. Manter a segurança de sua existência e, em segundo plano, equilibrar os mais diversos aspectos de rentabilidade e manutenção do poder de compra com diversificação e coerência, é a expectativa do mercado.
Somado a tudo isso, a moeda brasileira enfraquece com a reversão de fluxo estrangeiro. No curto prazo, Pedro Serra aposta que a Bolsa ainda deve seguir em forte volatilidade sem nenhum trigger (evento ou ação que desencadeia o movimento de uma ação) por uma alta relevante, com valuations muito descontados.
Em menos de cinco meses, a bolsa brasileira já ultrapassou os 120 mil pontos e esteve próxima de cair abaixo dos 100 mil, ou seja, a volatilidade é uma constante no momento. Mesmo diante deste cenário, segundo a XP Investimentos, a previsão de fechamento da bolsa em 2022 é na casa dos 130 mil pontos, maior índice histórico.
“A bolsa brasileira é composta na sua maioria por commodities, mas também possui em sua composição outros segmentos, cada um em seu momento, sendo que muitos deles ainda com perspectivas positivas de crescimento para investimentos mais longos do que seis meses a um ano”, afirma Lucas Sharau.
No próprio segmento de commodities, segundo o especialista, existem resquícios dos impactos da pandemia, e os preços de algumas empresas ainda podem estar descontados em relação aos preços considerados “justos” por suas ações.
Para concluir, Sharau comenta que o investidor com um perfil não tão arrojado, posicionado na bolsa brasileira e que não deseja sofrer grandes impactos nos próximos seis meses, deve comprar proteção ou sair desta posição, pois o fluxo de dinheiro extrangeiro não deve retornar no curto prazo.
“Entre janeiro e março tivemos 62 pregões, e o estrangeiro fechou com saldo comprador positivo em 57 deles. Mas, desde a virada do trimestre em abril, foram 19 pregões com 14 deles o capital extrangeiro sendo mais vendido do que comprado, ou seja, o investidor vem retirando dinheiro da bolsa brasileira e levando para outra vertente de investimento”, finaliza Sharau.
“Como os valores estão baixos, a entrada e a saída de fluxo estrangeiro causam muita volatilidade porque a porta fica muito pequena”, diz. “Os juros se abriram lá, estamos em risk-off e tudo que representa mais risco sofre”, concluiu Serra.