GRI de Fundos Imobiliários 2022

Levy destaca relevância dos certificados imobiliários e como o setor pode seguir passos do agro

Em palestra na GRI de Fundos Imobiliários 2022, diretor de estratégias do Banco Safra falou de inflação do mercado externo, financiamento no setor imobiliário e reforma tributária

Levy destaca relevância dos certificados imobiliários e como o setor pode seguir passos do agro

A primeira palestra do Fórum GRI de Fundos Imobiliários 2022, em São Paulo, teve a presença de Joaquim Levy, diretor de estratégia econômica e relações com mercados Banco Safra, ex-Ministro da Fazenda e presidente do BNDES entre junho a julho de 2019. Quem realizou a intermediação do bate papo foi Arthur Vieira de Moraes, sócio diretor Clube FII.

A conversa abordou diversos temas, desde inflação, certificados imobiliários, financiamento no agronegócio e reforma triubutária. Logo no início da palestra, Levy foi breve ao explicar como funciona a inflação.

"O mecanismo é simples. Com muito dinheiro na mão aumenta a demanda, ainda mais com a oferta restrita. Questões fiscais favoreceram o governo, como o aumento do PIB".

Inflação no mercado externo

Posteriormente, o diretor de estratégias do Safra foi questionado sobre a inflação no mercado externo. Na segunda semana de outubro, o FMI fez projeções para a economia mundial nada favoráreis para 2023. Levy citou três grandes centros ao abordar a situação dos Estados Unidos, China e Europa. 

No mercado norte-americano, o palestrante disse que os problemas financeiros foram amenizados pela injeção financeia do governo no período do agravamento da pandemia. No entanto, Levy chamou atenção para a situação do país asiático.

"Nos EUA, a inflação de demanda é mais tranquila. O governo injetou muito dinheiro dentro de um ano, equivalente a 20% do PIB. O consumo de bens duráveis foi de 40%, que foi um fator inflacionário. Subiu, mas tinha como acompanhar a oferta. A China não tem tanta inflação. A confusão dos valores imobiliários complica. Estão começando a comercializar dólar, para mandar dinheiro para fora. É preciso ficar de olho nas questões de equilíbrio do mercado de câmbio com o mercado estrangeiro", afirmou.

Sobretudo, ao explicar a situação econômica no mercado europeu, Levy citou a recuperação no setor de serviços após o fim de medidas restritivas durante a pandemia. No entanto, ele chamou atenção para o conflito entre Rússia e Ucrânia, que pode causar instabilidade na moeda.

"O euro, que está no contexto de uma guerra, já perdeu 10% e pode recuar mais 15%. Surpreendentemente, no pós-Covid, a economia europeia estava se superando rápido. Depois da abertura econômica, o setor de serviços aumentou e ainda está dinâmico, apesar da instabilidade da energia (causada pelo conflito entre Rússia e Ucrânia). O choque pode causar efeitos secundários, como aumento da moeda e colocando a economia para baixo".

Relevância dos certificados imobiliários no mercado

Já no meio da conversa, o diretor de estratégias do Safra foi questionado se os certificados imobiliários são relaventes para o desenvolvimento. Nesse sentido, ele afirmou que o setor precisa ser "financiado por mecanismos do mercado". Dessa forma, o entrevistado ressaltou a importância da sofisticação do mercado para o campo.

"O setor imobiliário terá que ser financiado por mecanismos do mercado, o que é muito bom. Os arranjos de 50 anos atrás foram importantes e alguns continuarão. Com a economia mais sofisticada, existem realizar financiamentos. Há 15 anos, tinha que bater na porta do banco público para fazer um financiamento. Hoje, utilizamos nosso dinheiro para financiar o mercado privado. Os fundos têm essa vantagem, financiamento a longo prazo", disse Levy.

O que aprender com o agronegócio?

Levy também abordou que o mercado imobiliário precisa passar por uma inovação nos seus financiamentos, como ocorreu no agronegócio. Para o ex-ministro, a produtividade do campo melhorou por conta dos investimentos privados no setor.

"A produtividade do agronegócio melhorou, enquanto o mercado imobiliário poderia ter uma maior produção. No agro é mais claro, é o setor que mais cresce na economia e com maior giro econômico. (…) Na medida que há apetite do investidor, você atrai outras fontes de recurso para alimentar isso".

No entanto, não é só de alegria que vive o mercado agrícola. O diretor de estratégias do Safra ressaltou que o maior desafio dessa área é a recuperação das pantagens. Dessa maneira, Levy destacou a importância do Fiagro para isso.

"O desafio do agronegócio no Brasil é a recuperação de pastagens, um processo que leva de três a quatro anos. O Fiagro é bom para isso, [que] busca aumentar a produtividade da terra. Vi algumas construções que utilizam diversas alternativas para otimizar a estratégia", ressaltou o diretor de estratégias do Safra.

Reforma tributária

Por fim, o presidente do BNDES entre janeiro a junho de 2019 foi questionado como o governo caminha para realizar uma reforma tributária. Levy disse que é uma questão complexa, mas a mudança passa por quem "acaba falando mais rápido".

"Objetivamente, temos a discussão sobre a reforma tributária. Tem que avaliar a questão fiscal, se é necessário ou não, aprimorando as estratégias. É uma reforma complexa, mas muito importante. Não sei como será tributado [uma possível] reforma de Imposto de Renda. A prioridade é a reforma que organizará o setor de produção do Brasil, sem penalizar agro ou serviço. Seria formidável um interesse da parte de candidatos [à presidência]. A mudança é feita a partir de estudos ou política, quem acaba falando mais alto", concluiu Levy.