Em movimento inesperado, a Câmara dos Deputados aprovou ontem (13) à noite um projeto que altera a Lei das Estatais e pode facilitar a indicação de nomes políticos para empresas controladas pelo governo.
A alteração permite que pessoas que tenham participado da organização de campanhas eleitorais assumam cargos nas diretorias ou diretorias das estatais em apenas 30 dias. De acordo com as regras atuais, esta quarentena era de trinta e seis meses.
A pontuação final da Câmara dos Deputados foi de 314 parlamentares a favor, contra 66 que diziam não à mudança. O projeto ainda precisa ser aprovado pelo Senado Federal sancionado pela Presidência da República.
Para o BTG, todo o movimento trata-se de um “retrocesso rápido” e a “situação segue fluida e alguns ajustes ainda são prováveis nos próximos dias,
mas isso foi indiscutivelmente negativo para a Petrobras (PETR3)(PETR4)”.
De acordo com os analistas Pedro Soares, Thiago Duarte e Bruno Lima, a alteração elimina um dos principais mecanismos de defesa da influência política
na empresa.
Embora alguns possam argumentar que a lei não tem protegido totalmente a Petrobras de tentativas de interferência política, a mudança do artigo
foi um sinal mais claro de que a estratégia do controlador pode ser menos apoiada por aspectos puramente técnicos daqui para frente, disseram os analistas.
Conforme argumentado recentemente em outros relatórios pelo próprio BTG Pactual, tanto a Lei das Estatais quanto os estatutos da petroleira protegem a empresa, mas não a blindam, dado que podem ser alterados. “Dito isso, a velocidade com que a mudança ocorreu nos pegou de surpresa”, escreveram.
Entretanto, pontuaram haver uma “preservação de um pagamento de dividendos razoável”. “Mas as mensagens fornecidas pelo novo governo e sua equipe de transição energética até agora não são animadoras, e as sugestões são de que a atual política de dividendos da empresa deve ser revisitada
(e reduzida)”, completaram.
Soares, Duarte e Lima calculam que, caso o payout seja revisado para 35% ou 25% (mínimo estabelecido pela Lei das Sociedades por Ações) dos lucros, projeta-se ainda um dividend yield (DY) de 16% ou 12% em 2023, respectivamente.
Para uma ação que negociou com rendimentos de 20% a 25% nos últimos dois anos (quando a alocação de capital foi elogiada pelos investidores), não acham que o patamar seja atrativo o suficiente.
Eles lembram também que mudanças na estratégia da Petrobras podem em breve afetar as atuais expectativas de lucro (maiores despesas
gerais e administrativas, despesas financeiras), o que significa que a rentabilidade dos dividendos pode cair ainda mais mesmo em um cenário de preços de petróleo estáveis.
“Estamos neutros, por enquanto, até termos mais visibilidade sobre as intenções do governo em relação ao uso do caixa da Petrobras no médio prazo”, concluíram os analistas, que acrescentaram ainda que o viés foi deteriorado a negativo.
O BTG Pactual mantém-se neutro às ações ordinárias de Petrobras (PETR3)(PETR4), com preço-alvo de R$ 37,50.