A inflação oficial do Brasil medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 0,23% em agosto, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira (12).
Apesar da alta, o índice ficou abaixo do que era esperado por analistas e pelo consenso do mercado financeiro, que projetava alta de 0,28%.
Na taxa anualizada, o IPCA foi a 4,61%, contra 3,99% registradas nos doze meses imediatamente anteriores (com a elevação de 0,12% em julho). Em agosto de 2022, a variação havia sido de menos 0,36%.
O processo inflacionário
Em relatório, o BTG Pactual destacou que “o índice veio melhor que as expectativas, tanto na leitura do índice cheio quanto nos itens mais importantes para a política monetária, como a inflação de serviços e núcleos”.
A leitura bastante positiva para em agosto pode ajudar a ‘estancar’ as revisões altistas de IPCA 2024 que tem acontecendo há três semanas seguidas, segundo o Relatório Focus, destacou o banco de investimentos.
João Savignon, head de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, avalia que os desvios para baixo em relação às suas projeções vieram principalmente do segmento de combustíveis e alimentação no domicílio. No sentido oposto, o setor de vestuário registrou alta superior à projetada.
O analista ressalta que o maior impacto individual no resultado do IPCA de agosto foi exercido pelo aumento de 4,6% da energia elétrica, o que levou o grupo Habitação a apresentar alta de 1,11%.
“Já esperava que o resultado de hoje fosse puxado por esse segmento, principalmente, pela influência do fim da incorporação do Bônus de Itaipu”, destacou.
No lado das quedas, Savignon ressalta o grupo Alimentação e Bebidas, que desempenha forte peso no bolso dos consumidores. O segmento mostrou queda pelo terceiro mês consecutivo, de 0,85%, devido ao recuo de 1,26% nos preços da alimentação no domicílio.
Na avaliação do analista, a dinâmica deve seguir favorável no mês de setembro “assim como de Bens Industriais, que também continuam com uma perspectiva favorável”.
IPCA menor que o esperado pode intensificar ciclo de queda da Selic?
O índice de difusão desponta como outro importante mensurador da quantidade de produtos que aumentaram no mês para decisões no Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC).
O aumento dos preços foi mais generalizado no mês passado, uma vez que passou de 46,0% em julho para 53,0% em agosto.
No lado da inflação de serviços, igualmente monitorada pela autoridade monetária, a abertura foi positiva, de acordo com André Meirelles, diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart XP. A média móvel de três meses do índice passou de 5,38% em julho para 4,06% em agosto.
Para o executivo, o IPCA trouxe sinais mistos na abertura “o que contribuiu para a tese de que o Banco Central deve continuar com o corte de -0,5% na próxima reunião do Copom, que acontece na semana que vem”.
Para Rafael Bevilacqua, estrategista-chefe da Levante Investimentos, a alta da inflação deve justificar uma atitude cautelosa do colegiado, que deve seguir com a redução gradual da taxa Selic.
“Mesmo assim, a alta dos preços não foi tão intensa quanto se esperava e foi concentrada em fatores pontuais, como o fim do bônus de Itaipu nas contas de eletricidade e o reajuste dos combustíveis pela Petrobras (PETR3)(PETR4)”, comentou.
“Assim, há argumentos a favor de um afrouxamento mais intenso da política monetária ou se há uma sinalização nesse sentido na próxima reunião do Copom”, finaliza o especialista.
Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, avalia que os dados do IPCA vieram bons, com leitura de desaceleração para núcleos e serviços e ressalta que o Banco Central focaria justamente nesses dados.
“O BC falava que iria olhar para a parte qualitativa da inflação, que são esses dados que vieram bons, para o hiato do produto e para as expectativas. As expectativas estão paradas em 3,5% ao ano em horizonte mais longo. Sobre atividade, a produção industrial veio mais fraca, e vamos ter ainda nesta semana divulgação de dados do varejo e de serviços. E os números estão bons para a inflação”.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, aponta que “ainda que os serviços tenham se mostrado melhor que o esperado”, não aposta em uma alteração sobremaneira no ritmo do corte de juros, que deve seguir em 0,50 p.p. por reunião, conforme projetado previamente.
De maneira análoga, o executivo aposta que o IPCA deste ano deve atingir 5,10%.
Paulo Silva, economista e analista ALM da Efí, corrobora com a visão da Selic terminal em 11,75% neste ano, uma vez que “os resultados positivos, especialmente no setor de serviços”, indicam que a economia desacelera e fortalece a hipótese de continuidade do ciclo de redução da taxa básica de juros.
Confira a variação de todos os grupos:
- – Habitação: 1,11%
- – Educação: 0,69%
- – Saúde e cuidados pessoais: 0,58%
- – Vestuário: 0,54%
- – Despesas pessoais: 0,38%
- – Transportes: 0,34%
- – Artigos de residência: -0,04%
- – Comunicação: -0,09%
- – Alimentação e bebidas: -0,85%