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O que esperar da reta final das eleições presidenciais argentinas?

Argentinos vão às urnas no próximo domingo (19), em meio a cenário de crise política e econômica

Pesos argentinos - Flickr/Diego Torres Silvestre
Pesos argentinos - Flickr/Diego Torres Silvestre

A contenda eleitoral pela presidência argentina está prestes a atingir seu ápice no próximo domingo (19/11), em um cenário de incerteza. O confronto entre o candidato de extrema-direita, Javier Milei (A Liberdade Avança), e o atual ministro da Economia, Sergio Massa (União pela Pátria), chega à reta final com ambos tecnicamente empatados nas pesquisas de opinião, enquanto o país enfrenta uma crise política e econômica.

Segundo as últimas pesquisas, Massa e Milei aparecem tecnicamente empatados. Conforme a Proyección Consultora, uma das empresas de pesquisa que se aproximou mais do resultado no primeiro turno, os dados indicam 47,7% das intenções de voto para Milei e 45,9% para Massa. No primeiro turno, o candidato peronista obteve 36,68% dos votos, enquanto o candidato ultraliberal conseguiu 29,98%.

Reação do dólar no país

Em meio a esse cenário, o governo de Alberto Fernández, que apoia o candidato Massa, optou por reforçar o controle sobre as atividades das casas de câmbio na Argentina às vésperas das eleições presidenciais, numa tentativa de conter a escalada do dólar no país, seguindo ações semelhantes às do primeiro turno eleitoral em outubro.

Por conta disso, o dólar blue, conhecido mercado paralelo, ficou sem preço desde a última quinta-feira (16), conforme reportado pelo jornal argentino Clarín.

As operações foram reduzidas após o governo intensificar os controles nas casas de câmbio e buscar diálogo com os principais operadores para evitar movimentações significativas no período que antecede as eleições, disputadas por Milei, defensor do liberalismo, e Massa, integrante da atual administração da Casa Rosada.

Devido à incerteza das pesquisas eleitorais, algumas casas de câmbio aumentaram suas ações no dia, comprando dólares a 960 pesos argentinos (aproximadamente R$ 13), um valor sem respaldo oficial de venda.

Em estabelecimentos mais distantes do centro de Buenos Aires, as compras foram interrompidas, com poucas ofertas de notas avaliadas em 1.050 pesos (R$ 14,50). Poucos clientes concordaram em pagar esse valor.

Na última quarta-feira (15), o governo aumentou em 0,8% o valor do dólar oficial, mas no dia seguinte, o mercado registrou apenas 0,1% de movimentação, fixando o valor em 345,5 pesos (R$ 4,70). Para sexta-feira (17), não foram esperadas grandes mudanças nas operações.

Um comerciante de Buenos Aires informou ao Clarín na quinta-feira (16): "Hoje o mercado teve seus altos e baixos. Houve algumas operações pequenas na abertura, mas por volta das 11h, as grandes casas pararam e tudo se aquietou. E já nos avisaram que não haverá operações amanhã".

Essa mesma situação foi observada no período pré-eleitoral de outubro, quando o governo de Fernández inseriu dezenas de funcionários da Receita Federal, Alfândegas e da polícia para conter as operações do dólar blue nas casas de câmbio. Na ocasião, o mercado voltou a funcionar timidamente somente na sexta-feira seguinte, vendendo o dólar a 1.200 pesos (R$ 16,50).

Disputa acirrada

Massa, de 51 anos, é ministro da Economia da Argentina no governo de Fernández. O candidato venceu o primeiro turno em primeiro lugar, com 36,68% dos votos, apesar das pesquisas indicarem inicialmente a liderança de Milei, que obteve 29,98% dos votos.

O cenário eleitoral permanece indefinido. As últimas pesquisas colocam Milei à frente, mas por uma margem estreita. O mais recente levantamento do AtlasIntel aponta Milei com 52,1% dos votos e Massa com 47,9%.

O que pensam os analistas?

Analistas avaliam que Massa se saiu melhor no último debate televisionado. Para Federico Servideo, diretor-presidente da Câmara de Comércio Argentino, Massa estava mais à vontade devido à sua experiência na vida política. No que diz respeito ao conteúdo, ele acredita que o debate foi "dentro do esperado: não muito profundo, mas agressivo, com os candidatos reiterando estratégias e pontos já apresentados durante a campanha".

Servideo destaca que Massa foi inteligente ao apontar as inconsistências e incoerências de Milei, enquanto Milei não conseguiu aproveitar a questão econômica para se posicionar melhor.

As propostas econômicas de Massa abrangem um superávit comercial, um câmbio competitivo e desenvolvimento com inclusão, políticas direcionadas ao emprego e discussões sobre o endividamento externo junto a organizações internacionais. Além disso, ele aposta na valorização e exploração dos recursos naturais da Argentina. No entanto, há poucos detalhes sobre como Massa pretende combater a inflação.

Servideo aponta que falta ênfase nas propostas de Massa para um ajuste fiscal na Argentina, considerando que qualquer presidente precisará realizar um ajuste drástico. Ele destaca que a proposta de Massa para ajustar a economia através do crescimento é válida, mas a ausência de um ajuste fiscal é notável.

Por outro lado, Milei, de 53 anos, apresenta propostas mais radicais para a economia argentina, incluindo a dolarização, o fechamento do Banco Central e restrições nas relações com a China, um dos principais parceiros econômicos do país sul-americano.

Analistas observam que, ao longo da campanha, Milei precisou moderar o tom e muitas de suas propostas são consideradas inviáveis a curto prazo. Por exemplo, a dolarização da economia é vista como algo difícil de ser implementado em um país com poucas reservas de dólares, atualmente na casa dos US$ 21 bilhões. Além disso, certas ações teriam custos políticos e diplomáticos para o país.

Milei também é crítico em relação à China e ao Brasil, especialmente ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Durante um debate, ao ser questionado por Massa se manteria relações com os dois países, Milei afirmou que não teria problema em não se comunicar com o presidente brasileiro, comparando-o à falta de diálogo entre Fernández e Jair Bolsonaro.

No entanto, especialistas apontam que Milei tem recuado em algumas de suas propostas mais extremas à medida que a campanha se aproxima do fim. Ele começou a separar seu discurso político do econômico, indicando que suas propostas podem não ser implementadas imediatamente.

Federico Servideo, da Câmara de Comércio Argentino, observa que Milei repensa ideias que não serão necessariamente adotadas logo no início do governo, como a dolarização da economia, diante da escassez de dólares e das implicações políticas e diplomáticas.

Apesar do cenário de incerteza, o debate acerca das visões políticas e econômicas propostas por Milei e Massa contínua a polarizar a opinião pública, com argumentos variados sobre as possíveis consequências de cada abordagem para o futuro da Argentina.

O país, mergulhado em uma crise política e econômica persistente, enfrenta um momento crucial na escolha do próximo presidente, em uma eleição que se desenha como uma das mais disputadas e imprevisíveis de sua história recente.