A vitória do candidato de extrema-direita Javier Milei nas eleições presidenciais da Argentina no último domingo (19) gerou preocupações no cenário do comércio brasileiro, conforme avaliado em um relatório do Indicador de Comércio Exterior (Icomex) divulgado pela Fundação Getulio Vargas (FGV).
Embora, a curto prazo, não sejam esperados impactos significativos nas trocas comerciais entre os países, o possível desenlace da Argentina do Mercosul poderia afetar de maneira negativa as exportações brasileiras.
"A vitória de Milei na Argentina levanta preocupações para o comércio externo brasileiro. Nada que afete no curto prazo o intercâmbio comercial, que já estava desacelerando com a crise argentina. Os riscos surgem com as incertezas trazidas por pronunciamentos durante a campanha presidencial. A saída do país do Mercosul, se ocorrer, traz impactos negativos para as exportações brasileiras beneficiadas com acordos (caso automotivo) e tarifas preferenciais. Além disso, poderá afetar o término das negociações com a União Europeia previstas para 7 de dezembro, que, mesmo sendo antes da posse do novo presidente, poderá ser contaminado com um cenário desfavorável", avaliou a FGV.
O Brasil registrou um superávit de US$ 4,7 bilhões em suas trocas comerciais com a Argentina de janeiro a outubro deste ano, mesmo diante da crise econômica no país vizinho. Esse resultado representa mais do que o dobro do superávit de US$ 2,3 bilhões obtido no mesmo período do ano anterior.
No entanto, o relatório do Icomex prevê um superávit recorde para a balança comercial brasileira em 2023, podendo atingir a marca de US$ 100 bilhões. O saldo da balança comercial já alcançou um recorde de US$ 80,2 bilhões no acumulado do ano até outubro, impulsionado principalmente pelo superávit de US$ 42,3 bilhões nas trocas comerciais com a China, que representam 53% do superávit total.
Além da China, houve superávit para o Brasil nas trocas comerciais com outros países, como os demais países da América do Sul (US$ 9,0 bilhões) e a Ásia excluindo a China (US$ 7,7 bilhões). Mas, o Brasil acumula déficit nas trocas comerciais com os Estados Unidos (US$ 2,3 bilhões) e com a União Europeia (déficit de US$ 100 milhões).
As projeções futuras envolvem incertezas relacionadas ao crescimento econômico de diferentes regiões. "Para o Brasil, o crescimento da China, que explica 30% das exportações, é o principal determinante. E, nesse caso, as previsões de menor crescimento do país poderão reduzir o aumento das exportações brasileiras. No tocante às importações, se confirmado o menor crescimento do PIB brasileiro em 2024, seria um fator a atenuar a redução do superávit comercial", destacou o relatório do Icomex.
A expansão do superávit da balança comercial brasileira em 2023 tem sido impulsionada pelo aumento do volume exportado e a redução do volume importado, enquanto os preços têm apresentado queda para ambos os fluxos, conforme observado pelo Icomex. De janeiro a outubro de 2023, o volume exportado pelo Brasil cresceu 9,3% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto o volume importado registrou uma queda de 2,7%. Os preços das exportações recuaram 7,4%, enquanto os das importações diminuíram 9,2%. Em valores, as exportações aumentaram 0,9% no acumulado do ano, ao passo que as importações caíram 11,8%.