Por Ana Carolina Siedschlag, da Investing.com – Minério de ferro, grãos ou proteínas? Com a retomada da economia mundial, em especial da China, o momento de otimismo com empresas brasileiras ligadas ao setor de commodities deve permanecer positivo por pelo menos um ou dois anos, avaliaram analistas em conversas com o Investing.com.
Os principais produtos de exportação do país foram os responsáveis por segurar parte da queda do Produto Interno Bruto no ano passado e, nos primeiros três meses de 2021, seguem deixando outros segmentos da economia para trás: em fevereiro, o Índice de Commodities Brasil (IC-Br) do Banco Central, que mede o preço de commodities agrícolas, metálicas e energéticas convertido para reais, subiu 7,03%. Em janeiro, a alta mensal foi de 10,55%.
Com isso, algumas empresas listadas na bolsa brasileira surfam no novo boom e se convertem nas queridinhas das carteiras de investimentos de grandes casas brasileiras.
Confira a seguir quatro papéis para não ficar de fora do bom momento das commodities:
Para surfar no minério: Vale (SA:VALE3) e CSN (SA:CSNA3)
Para Henrique Esteter, analista de research e equity na Guide Investimentos, nem o recente recuo dos preços do minério de ferro, que fecharam a última semana em queda de 6%, elimina os fundamentos que mantêm o metal próximo da máxima dos últimos oito anos.
“Foi uma questão de correção na emissão de poluentes na China, que deixou o mercado atento. Mas a conjuntura do país, de investimento em infraestrutura, continua bastante aquecida”, diz.
Na semana passada, o Ministério da Ecologia e Meio Ambiente chinês pediu a uma das principais regiões siderúrgicas, a cidade de Tangshan, um controle mais rígido das indústrias poluentes do setor após a má qualidade do ar atingir níveis alarmantes.
A postura do órgão não parece representar uma mudança de longo prazo, aponta o analista, enquanto que a alta de 74% em 2020 dos preços da commodity dão alguma margem de “queima de gordura” para uma leve correção dos preços.
E, além da demanda chinesa, os setores de mineração e siderurgia brasileiros devem ainda ganhar com o prometido pacote de infraestrutura do presidente americano Joe Biden.
A expectativa é que a recém aprovação do pacote de alívio à Covid-19, que uniu democratas e republicanos em torno de uma conta de US$ 1,9 trilhão, faça com que um possível projeto para renovação de estradas, redes de esgoto e linhas de comunicação tenha maior facilidade de entendimento no Congresso americano nos próximos meses.
Assim, para Esteter, a aposta em um mercado superaquecido para obras de infraestrutura mantém Vale e CSN como ótimas opções de investimentos no momento.
“Com o BNDES saindo aos poucos da Vale e o acordo com o governo de Minas, que abre espaço para a revisão de rating pelas agências, os principais riscos da empresa ficaram para trás. Os múltiplos começam a ficar próximos ao exterior e deve haver pagamento de dividendos robustos”, destaca.
Já para a siderúrgica CSN, a análise é de performance cada vez mais sólida, com geração de caixa maior. “Já subiu muito, é verdade, mas há espaço para mais”, diz.
Para surfar nos grãos: SLC Agrícola (SA:SLCE3)
Também grandes sobreviventes do recuo do PIB do ano passado e tradicionalmente resilientes às crises políticas que afetam o país, as commodities agrícolas seguem como ativos interessantes para quem busca proteção.
Para 2021, a safra de grãos brasileira deve atingir 263,1 milhões de toneladas, segundo o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE) – um crescimento de 3,5% em relação ao ano passado, que já havia sido recorde na série histórica da pesquisa.
Somente a soja, o “ouro brasileiro”, deve subir 7,3% este ano, segundo o instituto. E para José Falcão, analista da Easynvest, é um segmento que deve continuar surfando não só no aquecimento da economia chinesa, a principal importadora, mas, no longo prazo, no crescimento da população global.
“Há estudos mostrando que o Brasil é um dos países com maior potencial de capacidade produtiva para alimentar o mundo no futuro. Por isso que a produção de commodities agrícolas do país bate recorde atrás de recorde, o que não tem expectativa de acabar”, aponta.
Para ele, uma das apostas na bolsa por conta disso é a SLC Agrícola, uma das maiores produtoras agrícolas brasileiras, concentrada em algodão, milho e soja.
"A SLC tende a aproveitar esse movimento de maior demanda por alimentos e também pegar carona no interesse por empresas com bom desempenho ESG", explica Falcão.
Para surfar nas proteínas: Minerva (SA:BEEF3)
No último ano, o PIB do agronegócio, medido pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), teve uma expansão recorde de 24,31%, ampliando para 26,6% a participação no PIB total do país, contra 20,5% em 2019.
E isso, além dos grãos, também em grande parte impulsionado pelo setor de proteínas – que também bateu alguns recordes ao longo do período, impulsionados, mais uma vez, pelas compras chinesas.
Ricardo Schweitzer, analista da Nord Investimentos, explica que a presença dos frigoríficos brasileiros no país asiático já vinha se fortalecendo principalmente em função da gripe aviária e da peste suína africana, que comprometeram a produção doméstica de proteínas da China.
Para ele, a sinalização é que essa perda de produtividade leve de cinco a dez anos para se recuperar.
“Isso tem incentivado o aumento de importação de proteínas, em especial a carne bovina tanto pela baixa capacidade de produção como por uma tendência secular de ocidentalização dos hábitos de consumo. Ou seja, os chineses tiveram uma aceitação da carne de boi”, explica.
Assim, dentre os frigoríficos brasileiros listados em bolsa, Schweitzer aponta que o mais atraente diante desse cenário é a Minerva, tanto por termos de múltiplos como da estratégia geográfica empregada pela empresa.