Por Marcio Coimbra*
A polarização da política brasileira se transformou em um jogo de pouca dignidade onde muitos procuram se escorar em um dos lados para proteger suas benesses e impulsionar seus ganhos.
Este duelo, em clima de faroeste onde vale tudo, se retroalimenta da rejeição de opostos. Sem uma via alternativa, estaremos diante da disputa entre extremos em nossa eleição presidencial.
A politização de absolutamente toda a agenda nacional passou mais uma vez pelo futebol, claro, sem faltar uma pitada de polarização e ataques nas redes sociais.
A Copa América está sendo usada como instrumento político, e o presidente afastado da CBF, Rogério Caboclo, resolveu jogar o futebol brasileiro no faroeste da polarização política em benefício próprio.
Fato é que o Brasil não possui a menor condição de sediar a Copa América. Diante de um calendário lento de vacinação e prestes a entrar na terceira onda da pandemia, sem leitos ou insumos para tratar dos doentes, o torneio não servirá a qualquer propósito positivo, inclusive para seus patrocinadores, a não ser os ganhos que podem ser explorados pelos cartolas e políticos.
Enquanto Colômbia e Argentina optaram por não sediar o evento, e Uruguai e Chile sequer cogitaram, Brasil e Venezuela duelaram pelo chamado "privilégio" de atender ao tardio chamado da Conmebol.
Enquanto a Copa América estiver sendo disputada em terras tupiniquins, nosso vizinho Peru, adversário da última final, estará inaugurando seu novo governo. Resultado de uma disputa feroz e golpes abaixo da linha da cintura, digna da tensão que se avizinha no Brasil em 2022.
O resultado é uma sociedade dividida, fragmentada, incapaz de reconstruir-se em meio a instituições em ruínas, responsáveis por uma eleição que não deixa vencedores, apenas um país vencido pela disputa política.
Enquanto isso, o clima de vale tudo cresce no Brasil, mesmo diante dos exemplos de nossos vizinhos, que vivem um clima de tensão, cada um diante de suas agonias.
Na Argentina, a pandemia caminha a passos largos, enquanto o Chile sai de um período de protestos para começar a escrever uma nova Constituição e a Colômbia enfrenta distúrbios, ao mesmo tempo que tenta reformar suas estruturas.
Bolívia e Equador inauguraram novos governos de vertentes distintas e a Venezuela segue com seu drama humanitário chamado de maduro-bolivarianismo.
O Brasil deveria optar por escapar deste faroeste político, caracterizado pela polarização tosca que tomou conta de nossa sociedade, porém, nomes como Caboclo, que vive seu ocaso na CBF, insistem em tragar para o caos até nosso futebol, que deveria passar ao largo das brigas políticas de Brasília. Um claro exemplo daquilo que devemos evitar.
A disputa feroz entre dois polos, sem espaço para diálogo e entendimento, nasceu em nossa política, mas já deixa sequelas sanitárias e agora esportivas. Ainda está em tempo de evitá-la em 2022.
*Márcio Coimbra é coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal. Presidente da Fundação Liberdade Econômica.
Com informações de Assessoria de Imprensa Instituto Presbiteriano Mackenzie.