Gases do efeito estufa

CHARGE - A tarefa hercúlea para abaixar as emissões de CO2

A União Europeia e a China deram grandes passos na semana passada ao impor custos mais pesados às emissões de gases do efeito estufa

CHARGE - A tarefa hercúlea para abaixar as emissões de CO2

Por Geoffrey Smith, do Investing.com – O comércio de dióxido de carbono está se tornando global.

A União Europeia e a China deram grandes passos na semana passada ao impor custos mais pesados às emissões de gases do efeito estufa, o maior causador das mudanças climáticas causadas pelo homem.

As iniciativas vieram na mesma semana em que inundações devastadoras de alta magnitude atingiram a Europa e a China, avisos de destruição que as novas medidas visam evitar.

No longo prazo, dizem os analistas, as medidas ainda podem cumprir o que prometem, criando um melhor conjunto de incentivos para a produção e consumo de energia (e ampliando uma classe de ativos negociáveis que gerou retornos consideráveis nos últimos dois anos).

Mas, no curto prazo, seu impacto provavelmente será mínimo e enfraquecido, como no passado, pelo lobby e a subsequente diluição de tais regulamentações. Aqueles que esperam ganhar dinheiro rápido com futuros de licenças de carbono precisarão de um conhecimento exaustivo das entrelinhas da regulamentações locais à medida que elas evoluem.

A estratégia de redução de emissões ‘Fit for 55’ da UE, publicada na semana passada, é muito mais abrangente, mas é a da China a mais importante, visto o status do país como o maior poluidor do mundo atualmente.

“Sem uma redução considerável da China, a meta de 1,5 grau é essencialmente impossível”, disse o enviado dos EUA John Kerry em um discurso na terça-feira, referindo-se ao principal objetivo do Acordo do Clima de Paris de limitar o crescimento da temperatura média em todo o mundo.

Apesar de prometer reduzir suas emissões de 2030 em diante e ser neutra em carbono até 2060, a China ainda constrói usinas elétricas a carvão – uma personificação viva e explosiva do fenômeno de “vazamento de carbono”, pelo qual a atividade industrial poluidora simplesmente se transfere para países com menor regulamentação.

Portanto, vale a pena analisar o esquema de comércio chinês começando com o setor energético – mais de 2.000 empresas de energia que respondem por cerca de 14% das emissões relacionadas à produção de energia em todo o mundo. No entanto, os preços pagos pelos créditos de emissões na estreia desta sexta-feira em Xangai – menos de US$ 8 a tonelada – não estão nem perto do nível de US$ 50 que o Fundo Monetário Internacional diz ser compatível com Paris.

A verdade é que o único esquema útil de longo prazo é aquele que dói, e o histórico do presidente Xi Jinping nesse contexto não é encorajador: repetidamente, ele atenuou ou recuou reformas estruturais ambiciosas assim que seu custo econômico de curto prazo se tornou evidente. Os principais poluidores, como a indústria petroquímica, têm três anos para fazer lobby junto ao governo antes de pagar qualquer centavo por suas emissões, e não há referência direta nos planos do ETS (Sistema de Comércio de Emissões da UE) a uma redução real nas emissões ao longo do tempo. O risco de retrocesso é muito claro.

No entanto, neste caso, a China pode não ter alternativa. O plano da UE para o mecanismo de ajuste fronteiriço de carbono (CBAM) tornará mais fácil punir os produtores que pagam um preço mais baixo por suas emissões. Os democratas do Senado dos EUA – em busca de maneiras de vestir as tarifas de importação de Donald Trump com roupas mais ecológicas – agora também estão trabalhando em um mecanismo semelhante. Não há futuro para grande parte da indústria chinesa sem acesso a ambos os mercados, então algum tipo de progresso demonstrável terá de ser feito.

Existem riscos óbvios dos esquemas da UE e dos EUA serem usados para fins protecionistas, mas as regras da Organização Mundial do Comércio podem pelo menos mitigá-los, garantindo que o Ocidente não dê mais folga a outros poluidores vistos como menores ameaças geopolíticas, como Índia ou Brasil.

No final das contas, porém, o policiamento das políticas de mudança climática internacionalmente pode ser menos desafiador do que garantir sua aceitação doméstica.

O ETS da UE, argumentam Claus Vistesen e Melanie Debono da Pantheon Macroeconomics, equivale a “um grande e sustentado aumento de impostos sobre o consumo de energia nos próximos 20 a 30 anos”, que provavelmente cairá mais sobre os pobres do que sobre os ricos, na ausência de outras medidas. O argumento seria igualmente verdadeiro para medidas análogas dos EUA ou da China.

Na França, os impostos ecológicos de Emmanuel Macron criaram o movimento dos “coletes amarelos”. Nos EUA, a transição energética se submete muito facilmente à manipulação por extremistas tanto de esquerda quanto de direita, como mostraram as tempestades de inverno no Texas. A política de taxação de energia na China dificilmente terá um desempenho mais amigável, apesar de todos os esforços do Partido Comunista para conter os protestos.

Na verdade, as dificuldades de implementação de tais políticas podem fazer você pensar que a única coisa capaz de manter os três comprometidos com as obrigações de Paris será os cada vez mais frequentes e cada vez mais extremos eventos climáticos.

Nesse aspecto, pelo menos, parece haver pouco risco de decepção.