Análise

Crise hídrica e setor elétrico: analistas avaliam os principais impactos nas ações

Especialistas afirmam que setor deve continuar atrativo

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Por Jessica Bahia Melo, da Investing.com – Com a perspectiva de retomada do crescimento econômico neste ano, a previsão é também de um aumento no consumo de energia, mas a possibilidade de um racionamento e a fatura da conta de luz mais cara preocupam famílias e empresas brasileiras.

De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o Brasil enfrenta a pior estiagem dos últimos 91 anos. Mas, segundo analistas consultados pelo Investing.com, como a situação é transitória, não é o momento de pânico para quem investe nesse setor, que deve continuar atrativo.

As companhias de energia no Brasil atuam em três áreas: geração, transmissão e distribuição. Na B3 (B3SA3), há o Índice de Energia Elétrica que mostra o desempenho médio das principais empresas do setor listadas, entre elas Copel (SA:CPLE6), Eletrobras (SA:ELET3), EDP Brasil  (SA:ENBR3), Engie Brasil (SA:EGIE3) e Light (SA:LIGT3).

Apesar do avanço de outras matrizes energéticas, o Brasil possui um sistema de geração predominantemente hídrico.

Para tentar mitigar os efeitos da escassez de chuvas, que esvazia reservatórios e afeta a geração das hidrelétricas, o país recorre a fontes alternativas, como gás natural e energia solar.

Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), as usinas eólicas corresponderam a 83% do acréscimo de potência no primeiro semestre deste ano. Na sequência, aparecem as usinas termelétricas e as pequenas centrais elétricas.

Acionamento de termelétricas
Relatório do Inter Research sobre a crise hídrica aponta que, mesmo na pior situação possível, não deve ocorrer um racionamento de energia devido à maior diversificação da matriz energética.

No entanto, há um trade-off  na utilização das termelétricas, ou seja, há um preço a se pagar.

Ao preservar a fonte hídrica, o custo marginal do sistema é elevado. “A atual crise hídrica se encontra em um momento bem distinto do que foi vivenciado em 2001. Houve uma diversificação considerável da capacidade de geração por outras fontes, em especial para a térmica que, embora seja mais cara, garante estabilidade para a oferta. Por sua vez, a fonte eólica apresentou uma considerável evolução. Com o avanço da tecnologia a queda nos custos totais acabaram viabilizando os investimentos e tornando algo rentável.”, cita o documento.

Com a situação do fenômeno meteorológico La Niña, o relatório vê como período crítico os meses de outubro e novembro, considerando também o menor desempenho de fontes eólicas nesse momento. Entre outras medidas que poderiam mitigar a situação do fornecimento de energia estariam o retorno do horário de verão e a criação e uma nova bandeira tarifária vermelha patamar 3.

Efeitos diversos para geradoras, transmissoras e distribuidoras
Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, explica que distribuidoras de energia focadas na indústria estão sendo beneficiadas pela recuperação econômica, principalmente no Nordeste e Norte, como Neoenergia (SA:NEOE3), que divulgou balanço nesta semana, e Equatorial (SA:EQTL3).

Segundo o analista, a situação hidrológica é ruim, mas os resultados das companhias geradoras não devem ser afetados de forma drástica nesse segundo trimestre. “A evolução da nossa matriz garante que a gente tenha um nível de conforto para uma temporada”.

Mas, se a crise hídrica continuar no segundo semestre, os balanços podem apresentar resultados menos promissores, como a Cesp (SA:CESP6) que possui 100% da matriz hidrelétrica. Outras empresas, como Eneva (SA:ENEV3) e Ômega Geração (SA:OMGE3), vem se mostrando como solução para diminuir a dependências das hidrelétricas.

Guilherme Tiglia, sócio da Nord Research, diz que a parte de transmissão está bem blindada. “Já distribuição é a parte mais volátil do setor elétrico, mas está passando por momento positivo do setor devido ao alto consumo relacionado à retomada econômica. Tem o risco de não conseguir entregar o que de fato está contratado, mas existem formas de se proteger contra isso”, acredita.

Para Tiglia, caso o investidor acredite que os fundamentos serão mantidos, o setor energia continua a ser uma boa oportunidade de investimento.

“O maior problema está nas geradoras de energia, principalmente as que possuem mais parcela nas hídricas, onde há uma produção abaixo do esperado. Até atingir período de mais chuvas, é natural que tenha uma queda de produção e, por outro lado, você tem que honrar contratos. Para essas empresas, se elas não conseguem produzir o que foi contratado, elas muitas vezes precisam comprar energia e pagar preços mais altos e isso é prejudicial para os resultados”, ressalta.

Pagamento de dividendos
Mesmo com as diferenças entre as características das empresas de energia listadas na Ibovespa, o setor de energia é conhecido como um dos mais perenes e por ser grande pagador de dividendos.

Com os custos mais elevados devido à situação hídrica, há a possibilidade de diminuição nos lucros e, por consequência, dos dividendos. Esse seria caso das geradoras, mas não das transmissoras e distribuidoras, segundo Arbetman.

O analista acredita que o prejuízo na compra de energia de curto prazo das geradoras não será o suficiente para que elas não efetuem pagamento de dividendos. “É possível que se de fato a situação ficar mais difícil elas reduzam o pagamento”, pondera.

Arbetman traz ainda alguns atenuantes. A situação hídrica neste ano não deve se manter e existem soluções dentro do setor que podem oferecer que o investidor quer em relação aos dividendos, principalmente as transmissoras, como a Taesa (SA:TAEE4).

Já a EDP Brasil (SA:ENBR3), que pode ser beneficiada pela retomada industrial, possui uma politica de pagamento de proventos fixa, com riscos de oscilações menores. Caso o investidor busque outros setores com a estratégia de alcançar dividendos maiores, entre outras oportunidades citadas estão os setores de siderurgia, mineração e os bancos.

Tiglia acredita que pode ser que ocorra redução do pagamento de dividendos das empresas mais afetadas, mas não apostaria nesse cenário. “Acho que ainda não é o caso. E é uma situação que vai passar. É um momento bom pensando em oportunidades”, pondera.

Assim como Arbertman, Tiglia coloca o setor bancário como alternativa para o investidor que busca papéis com bons pagamentos de dividendos. No entanto, alguns riscos devem ser ressaltados como motivos de cautela, como os impactos da pandemia e mudanças na reforma tributária que podem afetar o pagamento de juros sobre o capital próprio.