Câmbio

Dólar deve terminar o ano a R$ 5, mas há riscos, diz BTG Pactual Digital

O banco aponta que a acomodação que tem se apresentado na taxa de câmbio deve ser posta em risco por indicadores econômicos no Brasil e no exterior

Dólar
- Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Por Ana Julia Mezzadri, da Investing.com – Na análise do BTG Pactual Digital, em relatório distribuído nesta quarta-feira (8), o mês de setembro será “decisivo para o rumo do câmbio”, em meio à escalada da tensão entre os Poderes e a riscos fiscais. Neste momento, porém, a projeção do banco é que o dólar termine 2021 a R$ 5.

Com cautela, o banco aponta que a acomodação que tem se apresentado na taxa de câmbio deve ser posta em risco por indicadores econômicos no Brasil e no exterior, além dos desenvolvimentos políticos no cenário doméstico, que podem aumentar a aversão ao risco.

No cenário externo, o principal evento com potencial de mexer com a taxa de câmbio, segundo o BTG Pactual Digital, é a reunião do FOMC, que pode definir quando se dará o início do tapering (redução gradual dos estímulos monetários). Até então, a expectativa é que esse movimento se inicie em dezembro e que a reunião deste mês confirme esse panorama. Isso, segundo o banco, seria positivo para o real e demais países emergentes.

Internamente, o mercado estará de olho na reunião do Copom, em busca de sinais de uma postura mais hawkish após sinais de persistência da inflação. Caso isso se confirme, o fluxo financeiro para o Brasil poderia aumentar, favorecendo o real.

Outros pontos do cenário doméstico que podem pesar sobre o câmbio são a crise hídrica, a reforma tributária, a reforma administrativa e a discussão sobre os precatórios. “A restrição temporal imposta pela eleição do próximo ano nos indica que casos estes temas não avancem este mês, poucas mudanças relevantes serão feitas até que a composição do novo governo seja definida”, dizem os analistas.

Considerando todos estes pontos, o BTG Pactual Digital desenhou três possíveis cenários para a taxa de câmbio ao fim de 2021: o cenário base, com 50% de chance de se concretizar, o cenário otimista (15% de probabilidade) e o cenário pessimista (35%).

Cenário base

No cenário base, o dólar terminaria 2021 a R$ 5, o índice dólar a 92 e o título do Tesouro dos EUA a 10 anos a 1,5%. Neste panorama, o banco considera que o pacote de infraestrutura seria aprovado nos EUA, financiado por emissão de dívida e elevação de impostos, e o tapering iniciaria em dezembro com elevação de juros apenas em 2023.

No Brasil, o novo Bolsa Família seria aprovado com benefício de R$ 300, permitindo a manutenção da dívida bruta/PIB em 82%. A vacinação continuaria no ritmo de agosto, a reforma tributária e a privatização dos Correios avançaria em 2021 e o teto de gastos seria mantido. Finalmente, os preços das commodities seguiriam em patamares elevados.

Cenário otimista

No cenário otimista, por sua vez, 2021 chegaria ao fim com o dólar a R$ 4,80, o índice dólar a 90 e o título dos EUA a 10 anos a 1,4%. Neste panorama, o pacote de infraestrutura dos EUA seria aprovado com financiamento vindo majoritariamente da elevação de impostos e o tapering também iniciaria em dezembro, com aumento de juros em 2023.

No plano doméstico, haveria alta de arrecadação em 2021 e o novo Bolsa Família seria aprovado com benefício de R$ 270, de modo que a dívida bruta/PIB ficaria abaixo de 82%. O ritmo de vacinação seria acelerado e, como no cenário base, a reforma tributária e a privatização dos Correios avançariam em 2021 e o teto de gastos seria mantido.

No âmbito das commodities, uma retomada do crescimento global acima das expectativas aumentaria ainda mais os preços.

Cenário pessimista 

Por fim, no cenário pessimista o dólar terminaria 2021 em R$ 5,40, com índice dólar em 94 e título dos EUA a 10 anos em 1,75%. Nesta projeção, o pacote de infraestrutura dos EUA seria financiada principalmente por meio da emissão de dívida e o tapering iniciaria neste ano, com aumento dos juros em 2022.

Internamente, o novo Bolsa Família teria benefício de R$ 300, mas seria retirado da regra do teto de gastos. O risco da variante delta se confirmaria, com aumento no número de casos e retomada das medidas de restrição. A agenda de reformas seria paralisada, assim como o projeto de privatização dos correios.

Para as commodities, haveria uma piora nas expectativas de crescimento da economia, reduzindo a demanda.