Política

O Partido da Lava Jato não existe

O tempo dirá se Moro e Dallagnol conseguirão se inserir na política partidária e ganhar influência real no jogo de Brasília 

- Agência Brasil
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A confiança em seu semelhante foi um dos mais importantes fatores entre os que levaram a espécie humana a atingir o topo da cadeia evolutiva no planeta Terra. Ela permitiu que nos juntássemos em tribos, famílias, comunidades, povos, estados e nações, a partir da percepção de segurança e pertencimento que a vida gregária proporciona. 

O contrário seria o caos, o cada um por si, a lei do mais forte e, talvez, até a extinção da espécie num dos diversos cataclismas que sempre rondaram a Humanidade. Os efeitos devastadores das incontáveis guerras, epidemias e catástrofes naturais só foram vencidos pela união de semelhantes por meio de contratos naturais (parentescos) e sociais (da coletividade).

Por isso, como premissa de formação humanista, tenho de confiar nas instituições e nas pessoas até que a evolução dos fatos mostre e prove o contrário. 

Por isso não acredito no tal Partido da Lava Jato. Da mesma forma, não creio que a Operação Lava Jato tenha sido orquestrada com objetivo definido de alterar a estrutura de poder no Brasil. Tampouco interferir na vontade soberana de eleitores e no funcionamento do jogo democrático. Não é nem mesmo uma invenção do Poder Judiciário, do ex-juiz Sergio Moro ou dos procuradores de Curitiba.

É hábito da Polícia Federal dar nomes sugestivos às suas diversas operações, nomes que guardam relação, até mesmo mitológicas, com seus objetos. A Operação Lava Jato, por exemplo, nasceu de investigações de lavagem de dinheiro por meio de uma rede de postos de gasolina na capital paranaense.

Se as investigações iniciadas naquela rede de postos de gasolina chegaram aos mais altos escalões do poder, com a Justiça prendendo, processando e julgando, nem sempre nessa ordem, políticos e empresários, então poderosos, não é o caso de inferir que tudo isso estava previsto e que fazia parte de uma escalada ao poder por uma facção de juízes e procuradores. Estes não criaram os fatos, decerto lamentáveis, que temos acompanhado nos últimos anos.

Nem mesmo coletaram as provas que permitiram condenações, competência da Polícia Federal.  Também não era atribuição dos juízes e procuradores estabelecer salvaguardas para as empresas, usadas por seus donos para malfeitos, assim como não lhes é permitido processá-las criminalmente.

Entretanto, não resta a menor dúvida, que em algum momento de todo esse processo, as injunções políticas passaram a prevalecer, se não nos atos formais dos julgadores, pelo menos em suas consequências. A sede de vingança contra os políticos e a justificada onda anticorrupção tornaram Sergio Moro um herói nacional.

Figura onipresente em cartazes, faixas e bonecos nas grandes manifestações, cortejado por políticos, convidado para simpósios e palestras por grandes empresas, presença constante na mídia, artigos em jornal e entrevistas diárias para rádio e televisão. Deixou-se seduzir pela voz rouca (ou louca?) das ruas e acabou capturado por uma das facções em luta pelo poder. Por fim, foi abandonado e execrado por essa mesma facção. Coisas da vida.

Políticos profissionais

Tudo isso já é História. Todos sabem. O que importa agora são os próximos passos. O primeiro já foi dado e de forma bastante acertada. Moro buscou a ajuda de uma fonoaudióloga, profissional habilitada e competente para fazer sumir aquele terrível “conge” e outras mazelas de sua fala. Já tivemos, e temos, presidentes com problemas com a Língua Portuguesa, mas o caso de Moro não requer professores. A Fonoaudiologia está aí para isso mesmo.

A entrada de Moro no mundo oficial da política, ou seja, dentro de um partido, já era esperado desde quando largou a magistratura no início do governo Bolsonaro. O Ministério da Justiça é o mais político de todos os ministérios, por sua abrangência e influência e é provável que Moro, de boa-fé, esperasse institucionalizar sua luta contra a corrupção.

Tentou com seu pacote anticrime, mas não recebeu o apoio de seu próprios pares no Executivo, menos ainda no Legislativo, o poder menos interessado em aumentar o alcance da Justiça e em endurecer penas, que mais adiante viriam a tolher os seus “negócios”.

Nem mesmo a pauta contra os crimes comuns conseguiu avançar e nenhuma política nacional de segurança chegou sequer a ser pensada, que dizer, então, implementada. Sonhou com o STF, que, evidentemente, lhe fora prometido.  Ficou no sereno, na planície, a ver navios, como queiram.

Entrou no Podemos e pode ser candidato a Presidente da República, Senador ou Governador do Paraná, a depender do papel que Álvaro Dias preferir exercer em seus anos finais de carreira política. Tem projeção nacional para a candidatura à Presidência, mas remotas chances de eleição. Faz parte desse amontoado insosso e inodoro, que chamamos Terceira Via, o pessoal que tem entre um e dez por cento de intenções de votos.

Pior ainda, terá pouca influência num eventual segundo turno Bolsonaro x Lula. Seus eleitores são, majoritariamente, bolsonaristas, ou melhor, fanáticos antipetistas, que voltarão ao ninho tão logo as urnas do primeiro turno sejam lacradas.

Enfim, Moro veio para ficar na política nacional. Deltan Dallagnol nem tanto. Este será apenas mais um candidato, que, se eleito, enfrentará a hostilidade de seus colegas de Congresso, que não esquecerão tão cedo suas famosas apresentações em Powerpoint. No Congresso precisará batalhar pela simpatia do pessoal da portaria e da copa para ter seus pequenos desejos atendidos: cafezinho quente e jornais entregues antes da nove horas em seu gabinete. 

A política, no Brasil, para o bem e para o mal, permanece sendo coisa de profissionais. Assim não fosse, Waldemar Costa Neto já teria voltado para sua aprazível Mogi das Cruzes após sua condenação a sete anos de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Passou pouquíssimos dias na cadeia e, hoje, troca mensagens de madrugada, articulando a entrada em seu partido de um dos favoritos da próxima eleição presidencial. Não é pouca coisa
 

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