Desnecessário discorrer sobre quão negativos andam os humores no mercado brasileiro nestes últimos meses. Os ativos de risco – sem exceções – e também alguns de menor risco (como determinados títulos do Tesouro) foram dizimados em uma frenética debandada de investidores – individuais e institucionais – para a renda fixa indexada a CDI.
As pessoas assistem aos números piscando em vermelho, dia após dia, nas suas telas, o que exacerba o medo e veste de mais legitimidade a percepção de risco aumentado. Em nossas interações com todos os tipos de investidores, essa é uma constante. Todos estão em nível máximo de preocupação “com o que pode acontecer” e, diante disso, desejam reduzir exposição ao risco.
Aqui uma ressalva: não há nada de errado em desejar reduzir risco. Momentos como o atual muitas vezes trazem à tona uma cruel verdade de que determinado investidor carregava risco muito superior ao ideal. E é claro que, quando tudo sobe, esse alarme não soa. Portanto, reduzir risco é essencial quando o nível incorrido está estruturalmente incompatível com tal pessoa.
Porém, a decisão de reduzir risco que basicamente advém do medo gerado pela queda generalizada de preços é outra história.
“Olha, estou muito preocupado com o que pode acontecer…”. Esta frase faria sentido algum tempo atrás. Hoje, já aconteceu. Já morreram todas as chances de reformas, o teto de gastos já está dilacerado, a inflação já galopou etc.
“Ano que vem tem eleições, 2022 terá muita volatilidade…”. Sim, em política nosso País sempre surpreende, porém o que temos agora se não um período de extrema volatilidade? Que grandes novidades negativas 2022 pode trazer se já está no preço uma eleição polarizada entre dois favoritos que abominam austeridade e livre mercado, além de uma terceira via dada como natimorta?
Vale a pena refletir sobre isso. Vale a pena refletir se uma tomada de decisão neste momento está sendo motivada por um medo originado das quedas de preços ou se de fato o risco incorrido estava errado. Ora, se bolsa subindo não é definitivamente sinal de risco baixo, bolsa caindo não significa que o “risco está muito alto”.
Os preços já desabaram, os múltiplos já estão muito abaixo das médias, já há prêmio de retorno enorme a partir dos níveis atuais. Quem decide vender agora por medo o fará para um comprador que, do outro lado, fez contas e vê uma bárbara assimetria de retornos (para cima) à frente. Decisões baseadas em medo ou otimismo exacerbados sempre levam a resultados pobres. O momento é para diagnósticos e decisões equilibradas e embasadas.
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