Como todos os mercados, o petróleo sentiu o impacto da epidemia de COVID-19. No acumulado do mês de março até agora, o brent caiu 57,82%, enquanto o WIT perdeu 67,84% do seu preço. Antes na faixa dos US$ 55/barril, o commodity está agora perto dos US$ 30 e não deve se se recuperar em 2020.
“O preço deve voltar para perto dos US$ 60 lá para o final de 2021”, estima Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura. “E devemos ter um boom nos preços quando a economia voltar a crescer, com a demanda lá em cima novamente”.
A questão é que ninguém sabe quando isso vai acontecer. Antes mesmo do coronavírus, a desaceleração do crescimento mundial já penalizava a demanda por petróleo, explica Maurício Canêdo, professor da Fundação Getúlio Vargas.
De onde veio a crise?
Junto com a menor procura por conta do surto de coronavírus, uma guerra de preços completou a receita para o desastre no mercado. O commodity é operacionalizado por meio de um cartel, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), mas o equilíbrio foi quebrado quando a Rússia não aceitou um acordo para diminuir a produção mundial.
“O país alega que os preços mais altos beneficiariam os Estados Unidos, que gastam mais para produzir o óleo”, explica Nadja Heiderich, professora de economia da FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado). “Quando a Rússia manteve seus níveis de produção, a Arábia Saudita, em resposta, ampliou ainda mais a sua”.
No começo de março, os preços chegaram a cair mais de 35% em um único dia. Durante a última semana, havia a expectativa de que o impasse do petróleo seria discutido na reunião do G20, entre representantes das principais economias mundiais, o que não se concretizou. O grande pacote norte-americano de estímulos também ignorou a questão, dando fôlego à volatilidade.
“Mesmo que haja um acordo, os preços não devem subir muito, pois há grande sobreoferta com o lockdown do coronavírus”, diz Pires. Além disso, alguns tipos do óleo, como shale e o offshore (como o do pré-sal brasileiro), têm maiores custos de produção, que fica inviabilizada com os preços lá embaixo.
Remédio para o COVID-19 (e para a economia)
“Qualquer perspectiva de controle mais eficaz é notícia boa para todos os mercados”, afirma Canêdo. Assim, o petróleo também aguarda a criação de uma vacina ou descoberta de algum medicamento adequado para o tratamento do novo coronavírus.
“A recessão é inevitável”, diz o professor. “A discussão agora é qual vai ser a estratégia para sairmos dela”.