“Para ter sucesso no mercado financeiro, basta ter um QI de 30… O que importa mesmo é administrar seus impulsos”, disse Warren Buffett. O megainvestidor sabe que uma das chaves do sucesso é entender que a tomada de decisões passa também pelas emoções. E poucas coisas mexem tanto com os nervos quanto o dinheiro.
Para você não cair nas peças que nossos sentimentos plantam, essa SpaceDica alerta para as armadilhas — e ensina a desviar delas.
1. Conhece a ti mesmo — para além do perfil de risco
Um dos primeiros passos de quem quer investir é descobrir sua própria tolerância ao risco. No entanto, não basta saber se você é conservador, moderado ou agressivo: muitos outros fatores da sua personalidade devem ser levados em consideração na hora de montar um portfólio.
“Os testes de suitability não têm a pretensão de medir os aspectos emocionais”, lembra Celso Sant’Ana, psicólogo especializado em finanças comportamentais. “Eles fornecem uma proteção legal e orientam apenas no primeiro momento”.
O especialista compara: enquanto um teste de perfil investidor tem cerca de 30 perguntas, os inventários de personalidade passam de 200 questões. “Existem instrumentos para aferir possíveis emoções, como raiva e ansiedade, mas se conhecer mesmo acontece na prática”, diz.
2. Não caia nas falhas mentais
Você pode não saber o que é um viés cognitivo, mas eles pode atrapalhar seus investimentos. Essas “falhas mentais” são a tendência que nosso cérebro pode apresentar ao usar um padrão irracional ao fazer escolhas. Um exemplo disso é a ancoragem, quando um sujeito se prende a apenas um valor como referência.
“Nesse caso, se um investidor comprou uma ação por R$ 20, não importa se ela chegar a R$ 12, ele não vai vender, pois ficou apegado a ideia de que o papel vale quanto ele pagou”, explica o professor Jhonatan Hoff, da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras).
Outro viés cognitivo se manifesta com a chamada contabilidade mental. Isso significa que o os cálculos dos investimentos são baseados nas expectativas e não em elementos reais, diz Hoff. “Ele não considera cenários macroeconômicos ou análises financeiras específicas, por exemplo”.
A dissonância cognitiva, outro exemplo das “falhas mentais”, é a justificativa de um erro, na tentativa de reduzir o sentimento de culpa — e isso resulta na persistência no equívoco. “Nesse caso, é sempre é um terceiro que fez algo errado”, aponta o professor. “O investidor tomou uma decisão ouvindo o conselho de um amigo ou seguindo uma análise e põe a responsabilidade do fracasso nela, sem aprender com aquele resultado”.
3. Não seja sabe-tudo
Em momentos de euforia de bull market, como o que a bolsa brasileira viveu no ano passado, é mais fácil obter bons retornos com investimentos. Esse otimismo exagerado também pode levar os investidores a superestimar suas capacidades, além de subestimar prejuízos, aponta Jhonatan Hoff.
“Essa auto confiança cega”, concorda o psicólogo Celso Sant’Ana. “E se espalha para outros ao redor. De repente, sua família e amigos também acham que podem investir e se dar bem, sem entender do mercado”.
4. Tenha os objetivos em mente
Para os holders, pode ser difícil segurar os ativos por tanto tempo, correndo o risco de passar por períodos de grande turbulência — como o que vivemos em março. Para evitar ceder ao pânico dos momentos de queda, a recomendação é construir, dia após dia, uma imagem mental do seu objetivo.
“Se você está montando uma carteira para a sua aposentadoria, pense todos os dias, de forma vívida, no seu objetivo”, instrui Sant’Ana. “Imagine como você quer estar vivendo, com sua casa e seu estilo de vida”.
Sem um propósito muito claro, a maioria das pessoas não consegue nem mesmo poupar, diz o especialista. Se o seu histórico é de descontrole financeiro, vale a pena revisitar suas motivações para gastar e entender se não há uma tentativa de preencher algum vazio psicológico com compras.
5. Não seja maria-vai-com-as-outras
O famoso efeito manada, que se refere aos movimentos em massa nos mercados, também é um viés cognitivo. O investidor se deixa levar pelo comportamento alheio e toma uma decisão porque outras pessoas estão fazendo o mesmo.
“Este erro se relaciona com o aspecto emocional, pois há a necessidade de se sentir pertencente a um grupo”, afirma Hoff. “Não leva em conta análises fundamentadas, mas sim o que os outros dizem”.
6. O passado não prevê o futuro
Ninguém previu a crise trazida pelo coronavírus no mês passado, apesar de agora ela parecer óbvia. Agora, entendendo o que aconteceu, muitos investidores caem no erro da representatividade: não dá para replicar resultados a partir de cenários diferentes.
“As pessoas pegam uma situação específica e generalizam para o todo”, aponta o professor Jhonatan Hoff. “Esse erro vem de tentar prever o futuro com base em situações que já passaram, mas, principalmente com renda variável, as situações não vão acontecer da mesma forma”.
7. Informação é poder
Alguns investidores procuram apenas informações que confirmem suas teses, conta Celso Sant’Ana, e caem em mais um erro. O ideal é ter maturidade informacional, ou seja, procurar fontes diversas, para evitar pessimismo ou otimismo exacerbado.
“Consulte sempre, pelo menos, 3 canais de informação diferentes”, recomenda o psicólogo. “E sempre procure ler e entender sobre quem diz o contrário da sua hipótese”. Assim, você se prepara para diversos cenários-base, evitando, na medida do possível, perdas.