Imagine comprar uma ação por centavos. Com a crise do coronavírus, para além das quedas generalizadas de preço, as chances de adquirir uma ação a preço de banana, as chamadas penny stocks, aumentaram. Isso porque a B3, a bolsa brasileira, suspendeu a regra de que empresas não podem ficar por mais de 30 pregões com papéis abaixo de R$ 1.
“Algumas pessoas se atraem por esses papéis porque, com o baixo preço, a sensação é de que podem subir, dando retorno com pouco aporte”, explica Tiago Prux, especialista da casa de análise Capitalizo. Mas calma: esse pode ser um caso em que o barato sai caro. Isso porque os preços tão reduzidos indicam que algo grave está acontecendo com a saúde dessas empresas.
“Geralmente elas estão em recuperação judicial ou estão em risco de passar por isso”, explica Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante. “A existência da companhia está sendo questionada”. Além das que já estão entre as penny stocks (veja a tabela abaixo), Guimarães cita que CVC, do setor turístico, e IRB, de resseguros, perigam entrar para o clube.
Assim, que opta por estes ativos tão baratos geralmente o faz para especular. “A volatilidade dá espaço para lucrar com a valorização de curto prazo”, explica Tiago. Elas também ocupam um espaço de “apostas” na carteira: por serem baratas, dá para tomar seu alto risco e encarar sua pequena liquidez apenas com uma pequena parte do patrimônio.
O caso Oi
Os papéis da empresa de telecomunicações Oi são provavelmente as mais populares do momento. “De 2 milhões de pessoas físicas na bolsa, 1.5 milhão deve ter esse papel na carteira”, estima Eduardo Guimarães.
A companhia entrou em recuperação judicial em 2016. Suas dívidas foram reestruturadas com a emissão de ações e, para lidar com os débitos, também houve venda de ativos, como a fatia na angolana Unitel. Agora, a intenção é se desfazer também da divisão de telefonia móvel — na qual Telefonica e TIM já manifestaram interesse.
“A Oi tem uma boa estrutura, uma boa rede de fibra óptica”, avalia Guimarães. “Mas muitas dívidas. O jeito vai ser vender ativos e focar em um só negócio”.
Neste contexto, para Tiago Prux, o poder de barganha está na mão dos compradores. “A grande questão é quanto essa venda vai render e quando ela será feita”, diz. “É um desfecho que provavelmente só vai se dar depois da crise”.