Por Gabriel Codas, Investing.com – O UBS divulgou na tarde desta quinta-feira a atualização da projeção do PIB brasileiro em 2020, melhorando os números, passando a ver uma retração de 5,5%, e não mais de 7,5%. No documento, os analistas apresentaram uma série de razões para a revisão, principalmente por uma nova estrutura de modelagem para o PIB.
O novo modelo combina um “nowcast” para o período atual e uma previsão intermediária (até o terceiro trimestre) usando as expectativas para restrições de mobilidade e as condições financeiras atuais. Isto é seguido por um modelo estrutural para o quarto trimestre e 2021, impulsionado pela incerteza, preços globais das commodities e política monetária.
O relatório destaca que programas sociais de apoio à renda, principalmente a renda básica emergencial voltada para o mercado de trabalho informal, provaram ser bem-sucedidos no apoio à renda. A diferença entre salários e crédito versus consumo reflete as restrições do lado da oferta que estão sendo levantadas, o que levará ao consumo mais alto.
Outro fator que beneficia o país é a forte recuperação econômica de China, com a equipe esperando que isso puxe preços mais altos de commodities / exportações líquidas e, eventualmente, uma moeda mais forte. O Banco Central do Brasil (BCB) baixou a Selic ajustada pela inflação para território negativo e abaixo da estimativa da taxa neutra. Essa é uma contribuição importante para facilitar as condições financeiras.
O UBS aponta ainda que a incerteza tem sido alta desde 2014, e aumentou com a crise recente, mas agora está em queda. Eles assumem alguma melhoria contínua em reação a um ambiente político menos polarizado e a uma agenda de reformas renovada.
Em relação ao mercado de trabalho, a equipe destaca que o menor crescimento observado entre 2017 e 2019 foi uma manifestação dos efeitos da histerese causados pela recessão de 2014-2016, que gerou altos índices de desemprego e baixos níveis de investimentos. Apesar de uma perspectiva melhorada, eles esperam que esses fatores se manifestem novamente à medida que a economia se recuperar no próximo ano.
Riscos fiscais
O documento do banco lembra que há um debate em andamento sobre a extensão do programa Renda Básica Emergencial e uma possível consolidação dos gastos sociais (agora atingindo 18% do PIB) em um programa permanente denominado “Renda Brasil”. Os resultados desse debate serão vitais para as perspectivas de crescimento, pois uma consolidação fiscal muito rápida pode criar um “precipício” para o crescimento. Para poder sustentar os gastos contínuos com o apoio do mercado, o governo e o Congresso devem ser capazes de “compensar” déficits mais altos no curto prazo contra reformas voltadas para a consolidação fiscal de médio / longo prazo.
2021
A equipe prevê um crescimento de 3% no próximo ano, o que ainda deixaria o nível do PIB em 97,6% do observado no final de 2019. O risco de alta poderá se materializar se uma agenda de reformas renovada aumentar a confiança na trajetória fiscal de médio / longo prazo, mantendo taxas de juros baixas e aumento de investimentos em setores como o saneamento. O risco de queda é devido aos danos ao mercado de trabalho e aos baixos níveis persistentes de investimentos.