Por Gabriel Codas, da Investing.com – Na abertura da sessão desta sexta-feira na bolsa paulista, as ações da empresa de educação Cogna lideram as perdas do Ibovespa, em dia negativo no mercado. A companhia divulgou ontem o balanço do 2T20. Os números mostraram prejuízo no segundo trimestre, fortemente afetada pela queda de receita e aumento da inadimplência diante dos efeitos da pandemia do coronavírus.
A dona das marcas Kroton (SA:COGN3), Vasta, Saber e Platos, anunciou na quinta-feira que teve prejuízo ajustado de R$ 140 milhões, ante lucro de R$ 267 milhões. O resultado é pior do que a previsão dos analistas de mercado, cuja mediana do consenso era prejuízo líquido de R$ 38 milhões.
Por volta das 12h10, os ativos tinham perdas de 3,81% a R$ 6,32, com mínima em R$ 6,10. O Ibovespa recuava 0,19%, aos 101.276 pontos.
Balanço
A receita líquida caiu 21% na comparação anual, para 1,37 bilhão de reais, refletindo queda do faturamento no ensino superior, a maior evasão dos alunos do ensino infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, explicou a empresa.
O resultado operacional medido pelo lucro antes de impostos, juros, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), foi negativo em 139,5 milhões de reais, ante 267 milhões positivos um ano antes, também sob influência de itens ligados à compra da Somos, maior provisão para perdas esperadas com calotes no ensino superior e nos produtos de parcelamento.
A Cogna adotou medidas mais restritivas de rematrícula, evitando que débitos antigos fossem renovados, o que no curto prazo gerou aumento da evasão e das provisões para perdas, mas que “a base remanescente é mais saudável e permite resultados em patamares mais sustentáveis no longo prazo”, disse a empresa.
A Cogna disse ainda que, como consequência da pandemia, aluno antes resistentes ao ensino digital agora prefere um curso híbrido equivalente, por isso aproveitará “para fazer a maior e mais impactante mudança no segmento de ensino superior já conduzida pela empresa”.
A companhia ainda decidiu ainda encerrar a oferta de Parcelamento Especial Privado (PEP) nos processos de captação de alunos a partir de 2021.
Visão dos analistas
A Mirae Asset destaca que, com o esperado, foi um resultado fraco e abaixo da expectativa. Para o segundo semenstre, a corretora ainda espera uma baixa retenção de alunos, um mercado ainda fraco no setor como um todo e uma expectativa de recuperação mais significativa em 2021.
A Necton Investimentos também ressalta o resultado fraco, abaixo das expectativas mais pessimistas do mercado. Os analistas Glauco Legat e Marcel Zambello destacam a queda expressiva do Ebtida, de 11,5% ao ano, influenciado pelo ensino superior. Além disso, os créditos para provisão duvidosa, de 46,4% da receita líquida, significam que metade dos alunos da instituição não devem pagar mensalidade na visão da instituição. No entanto, ressaltam os números das demais unidades da Cogna no comparativo semestral, com crescimento do Ebtida entre 10% e 35%, de acordo com os analistas.
Os analistas da Necton avaliam que a polêmica em torno do papel – cujo preço-alvo varia entre R$ 6 e R$ 14 – é devido à discrepância entre os segmentos de ensino superior e educação básica. Legat e Zambello enxergam a Kroton como destruidora de valor da Cogna – este e no próximo ano – devido à situação atual do ensino superior brasileiro, com a última geração do Fies se formando e “não consegue mais cobrar os preços abusivos anteriores financiados pelo governo Dilma”. A Necton, no entanto, gosta das novas iniciativas da Kroton, como o fechamento de unidade e reestruturação em curso.
Já o ensino básico foi o segmento que levou à reinvenção da Cogna nos últimos anos, segundo os analistas, operando as marcas Anglo e Pitágoras, além do forte investimento em plataformas tecnológicas – com Platos, Saber e Vasta com potencial crescimento exponencial dificilmente mensurados pelo mercado. Por isso, a Necton vê a Cogna como disruptiva no segmento de educação, devido à fragmentação do ensino básico com baixo profissionalismo, evasão reduzida e imensas oportunidades.
Em linhas gerais, Legat e Zambello recomendam o papel para “investidores com maior apetite ao risco e visão de longo prazo”.